Na Aldeia Feliz já se fazia sentir o espírito natalício. As ruas estavam todas enfeitadas com luzes e pinheiros bem decorados.
Estava tão bonita!!!
Esta aldeia situava-se junto a uma floresta na qual tinha nascido, fazia já algum tempo, uma rena muito especial. Quando nasceu era tão, mas tão pequenino que todos gozavam com ele, diziam que mais parecia um coelho da Páscoa do que uma rena do Pai Natal. Era muito difícil ouvir os comentários e então quando se sentia magoado pensava com muita força:
– Eu vou crescer, vou ser o maior e o mais forte e o Pai Natal há de vir buscar-me para o ajudar a distribuir as prendas a todas as crianças de todo o mundo.
A situação estava a ser muito difícil para a rena porque levou algum tempo até crescer. Por mais que a sua mãe lhe dissesse que era o mais bonito da floresta e que tinha de se deixar contagiar pela alegria da aldeia vizinha, nada ajudava. Durante todo aquele tempo a rena ficava sozinho num canto, por vezes a choramingar de tristeza, outras vezes a querer acreditar no que a sua mãe dizia.
E não é que aconteceu mesmo!
De repente a rena cresceu, ficou com um porte atlético, grande, veloz e as suas hastes impressionavam todos os que o viam passar.
Aí então, os comentários mudaram e passou a ouvir dizer:
– Parece um milagre! Como foi possível teres mudado tanto, estás tão forte que serias uma boa ajuda para puxar o trenó do Pai Natal. Seria um orgulho para nós todos ver-te voar pelos céus.
A partir daquele momento tudo mudou, a rena passou a ter muitos amigos, e brincavam, divertiam-se e sempre que surgia algum problema era ele que os defendia, pois era realmente grande e forte.
Era de tal forma grande e forte que resolveram chamar-lhe Tarzan. E a rena dizia:
– Tarzan? Porquê Tarzan se esse é nome de homem e não de animal?
– Sim Tarzan, porque és forte, ágil e inteligente como ele.
Bem… então é que o nosso herói ficou cheio de vaidade e não descuidava nenhum pormenor, pois não queria falhar e desiludir os seus amigos.
Enquanto isso na vizinha Aldeia Feliz as crianças estavam preocupadas, pois não entendiam porque é que os seus amigos Nicolau e Rodolfo diziam não gostar do Pai Natal. Mas na verdade ninguém acreditava, porque quando se falava no assunto os seus olhos ficavam tristes.
A Professora Maria começou a perceber que alguma coisa não estava bem, e resolveu ficar atenta para ver se conseguia entender o que se estava a passar. Por isso, decidiu que naquele dia as atividades da aula seriam todas sobre o Natal.
Foi uma grande diversão. Todos queriam contar como se festeja o Natal nas suas famílias, o que comem, com quem passam a consoada, que prendas gostavam de receber nesse ano, e depois, pintaram e recortaram figuras para levar para casa e colocarem como enfeite na árvore de Natal.
Mas, estava a acontecer uma coisa muito estranha, o Nicolau e o Rodolfo não partilhavam nada das suas experiências e recusavam-se a realizar as atividades. Logo eles que eram sempre tão bem-comportados e dedicados nos trabalhos da escola.
Hum! Era mesmo muito intrigante esta atitude dos dois irmãos.
A Professora pensou:
– Vou pedir-lhes para escreverem uma carta ao Pai Natal. Assim poderei ler a carta e perceber o que se passa com estas duas crianças.
Mas foi enorme o espanto de todos quando a Professora entregou os papéis para escreveram a carta e os dois irmãos, ao mesmo tempo, dobraram o papel e entregaram de imediato à Professora, em branco, sem escreverem nada.
O assunto era mesmo sério. Teria que ir conversar com os seus pais para ver se era possível ajudar de alguma forma.
E assim foi, terminada a aula, a Professora dirigiu-se a casa do Nicolau e do Rodolfo e falou com a mãe deles. Mas a Senhora também não se mostrou muito simpática, nem acolhedora e quando percebeu que o assunto era o Natal. Apenas disse:
– O Natal é vivido como cada um quiser. Se os meus filhos não querem escrever a carta não escrevem. Se não gostam do Pai Natal não gostam, paciência, ninguém tem nada a ver com isso.
A Professora não acreditou naquela conversa porque pôde ver o quanto a Senhora estava triste e teve de fazer muita força para não chorar enquanto falava. Mas não se pode obrigar uma pessoa a falar quando ela não quer…
A preocupação aumentou, mas infelizmente sentia que não podia fazer mais nada.
Saiu da casa e ao atravessar a rua para voltar para a escola cruzou-se com uma vizinha que se dirigiu a ela para conversar e lhe explicou que a mãe do Nicolau e do Rodolfo gostava tanto, mas tanto do Natal que até decidiu dar aos filhos nomes associados a esta ocasião, contudo, tinham tido uns azares na vida e tudo se tinha tornado muito complicado.
A vida era difícil, não tinham dinheiro para prendas nem para festas, e por isso, aquela família preferia ignorar o Natal porque na verdade não o podiam viver da mesma forma que as outras pessoas. Esta era sempre uma altura muito triste para todos eles.
Enquanto tudo isto acontecia, lá longe, no Pólo Norte o Pai Natal, a Mãe Natal e os duendes andavam numa grande azáfama para garantir que todos os presentes e embrulhos ficavam prontos a tempo de serem entregues naquela noite mágica.
O ritual era sempre o mesmo. O Pai Natal abria uma carta, lia, e ia ver se aquela criança se encontrava no seu livro colorido. Se estava, era porque se tinha portado e o Pai Natal ficava muito feliz.
Depois de muitas cartas lidas, começou a perceber algo estranho… de repente parecia que todas cartas diziam o mesmo, até achou que se calhar já estava muito cansado e o melhor era descansar um pouco.
Bebeu um chocolate quente, sentou-se em frente à lareira, fechou os olhos e ainda passou pelas brasas. Quando ouviu a Mãe Natal dizer:
– Não tens nada para fazer? Pensas que tens tempo para estar a dormir, vá, levanta-te, temos que trabalhar.
O Pai Natal sorriu e voltou à sua agradável tarefa de ler as cartas das crianças e constatou que não era o cansaço, ele tinha mesmo recebido muitas cartas, todas iguais, e diziam:
Querido Pai Natal,
Este ano podes oferecer-me o que quiseres que eu fico contente, mas não te esqueças dos meus amigos Nicolau e Rodolfo.
Bem isto era mesmo estranho. – Pensou.
A noite da grande viagem pelo mundo aproximava-se e era necessário preparar e verificar tudo. A Mãe Natal ficou alarmada quando percebeu que uma das renas estava doente, mas tão doente que não ia ser possível recuperar a tempo. Entrou em casa a correr, ofegante e só dizia, o que vamos fazer, o que vamos fazer?
– Tem calma mulher, respira e explica o que se passa. – disse o Pai Natal.
– Uma das renas está doente e não vai poder puxar pelo trenó, o que vamos fazer?
O Pai Natal sentou-se, afagou a barba e disse:
– Eu resolvo, não te preocupes. Na floresta junto à Aldeia Feliz vive uma rena muito forte, é tão forte e corajoso que lhe chamam Tarzan. Eu vou lá convidá-lo para nos ajudar na expedição da noite mágica da entrega dos presentes.
E assim foi, quando anoiteceu o Pai Natal foi à floresta convidar a rena que sem qualquer hesitação aceitou o convite, ficou tão contente, tão emocionado que nem queria acreditar. O seu grande sonho ia tornar-se realidade.
Mas, como estava por ali, o Pai Natal aproveitou e foi espreitar os meninos e meninas que tinham escrito as cartas, todas iguais.
E que grande surpresa… encontrou-os todos juntos, sabem porquê?
Secretamente e em total silêncio, aquelas crianças com a ajuda da Professora estavam à porta do Rodolfo e do Nicolau a montar uma árvore de Natal. Ia ser uma grande surpresa quando acordassem e vissem a árvore, decorada e muito bonita.
Eram tão contagiantes, o entusiasmo e a felicidade daquele grupo de amigos que o Pai Natal ficou a observar emocionado.
E a Professora dizia:
– Agora vamos colocar as decorações:
– As duas brilhantes bolas vermelhas;
– Os dois bonitos Pais Natais;
– As duas cintilantes bolas verdes;
– Os dois divertidos bonecos de neve;
– As duas fantásticas meias para as prendas;
– As duas reluzentes bolas douradas;
– Os dois lindos pinheirinhos de Natal;
– As duas corajosas renas;
– Os dois melodiosos sinos;
– Os dois presentes imaginários.
Por fim, e como a árvore era bastante alta foi a Professora que colocou a Estrela, lá bem no cimo.
Tinham assim terminado aquela tarefa, o mais difícil tinha sido fazê-lo em silêncio. Estavam tão contentes que só lhes apetecia falar e rir e cantar. Mas não podiam, tinha que ser uma surpresa a sério.
Todos ficaram admirados a olhar para a árvore, estava tão bonita!
O Pai Natal voltou para o Pólo Norte, acompanhado da rena Tarzan e muito satisfeito com o que tinha acabado de ver. Este sim era o verdadeiro espírito de Natal.
E a noite mágica chegou! Não só a noite, mas também o dia, porque quando as crianças acordaram, correram para ver os presentes e todos ficaram contentes com o que o Pai Natal lhes tinha deixado.
Mas sabem quem é que ficou mesmo, mesmo muito contente?
Foi o Nicolau e o Rodolfo. Como não tinham pedido presentes quando acordaram foram apenas ver a fantástica árvore que tinha aparecido secretamente e qual não foi o espanto quando perceberam que também tinham recebido presentes, alguém tinha deixado presentes debaixo da árvore.
Olharam para a mãe, estava tão emocionada que teve de virar a cara para o lado para eles não verem aquela lágrima que escorria pela sua face, era uma lágrima de alegria, alegria por ver os seus filhos felizes.
A partir daquele ano tudo foi diferente, toda a aldeia, toda mesmo, sem exceção, passou a comemorar o Natal com gratidão, amor, paz e partilha.
Sejam sempre felizes! Mas acreditem que vão ser muito mais felizes se ajudarem os outros a serem felizes também!
Todos podemos contribuir para que a magia do Natal brilhe todos os dias do ano.