Opinião: João de Jesus Nunes | O Declíneo de dois emblemas: Sp. Covilhã e Sp. Olhanense em tempo de incerteza
Por Jornal Fórum
Publicado em 18/12/2025 08:00
Opinião

O futebol português vive, nos últimos anos, um período de contrastes profundos.

Enquanto o topo da pirâmide continua a beneficiar da profissionalização, das receitas televisivas e da crescente internacionalização do mercado, muitos clubes históricos enfrentam dificuldades significativas para garantir estabilidade competitiva e sustentabilidade financeira. Entre esses casos destacam-se o Sporting Clube da Covilhã e o Sporting Clube Olhanense, dois emblemas com passado relevante no panorama nacional, mas que atravessam atualmente uma fase de clara decadência.

O Sporting Clube da Covilhã, fundado em 1923 é um dos clubes mais emblemáticos da Beira Interior. Conhecido como o “Leão da Serra”, o Sp. Covilhã foi, ao longo das décadas, presença constante na II Liga e somou quinze participações na I Divisão. Contudo, a quebra de resultados nos últimos anos, aliada a limitações estruturais e a um contexto municipal e económico menos favorável, empurrou o clube para um ciclo difícil. A recente queda para divisões inferiores agravou as preocupações quanto ao futuro do emblema serrano, cujo impacto no tecido social e desportivo da região continua a ser significativo. O Estádio Santos Pinto, que tantas vezes funcionou como ponto de encontro da comunidade covilhanense, tem vivido tempos de menor afluência e menor entusiasmo.

Situação semelhante vive o Sporting Clube Olhanense, fundado em 1912, permanece na história como o terceiro campeão nacional, título conquistado em 1924. Durante décadas foi um dos principais representantes do futebol algarvio, com presenças regulares nos campeonatos nacionais e um importante papel na formação de jogadores. Porém, nos últimos anos, o clube tem enfrentado dificuldades que vão desde problemas de gestão a instabilidade financeira. As descidas sucessivas de divisão, a irregularidade de resultados e a perda de competitividade colocaram o emblema de Olhão afastado dos palcos onde habituou a figurar. O Estádio José Arcanjo, outrora palco de grandes jornadas, tem recebido cada vez menos público, num reflexo direto das fragilidades que marcam o atual momento do clube, que chegou a desaparecer e renasceu agora das cinzas.

Estes dois casos, embora distintos nos detalhes, evidenciam problemas comuns ao futebol regional e tradicional português: modelos de financiamento desatualizados, dependência excessiva de apoios públicos, dificuldades em atrair patrocinadores, ausência de infraestruturas modernas e a incapacidade de reter jovens talentos que rapidamente procuram clubes mais estruturados. A discrepância entre os grandes centros urbanos e as regiões periféricas torna-se cada vez mais evidente, com impacto direto na competitividade dos clubes.

Num cenário em que o futebol nacional se torna cada vez mais centralizado e dominado por grandes estruturas empresariais, os clubes históricos de média e pequena dimensão enfrentam um verdadeiro “fora de jogo”. O espaço mediático diminuiu, a capacidade de geração de receitas é limitada e a pressão competitiva aumenta. Ainda assim, a importância social destes clubes permanece inquestionável: são polos de identidade, formação, convívio e memória coletiva.

Tanto o Sporting da Covilhã como o Sporting Olhanense procuram agora soluções que permitam estabilizar e reconstruir. Reestruturação financeira, reorganização interna, aposta na formação e maior envolvimento da comunidade são caminhos apontados por especialistas e dirigentes desportivos. A cooperação com autarquias e parceiros locais continua a ser essencial para garantir a continuidade dos projetos desportivos, num contesto em que a sustentabilidade é cada vez mais difícil de alcançar.

Num momento em que o futebol português reflete sobre o seu futuro, é fundamental que os clubes históricos não sejam esquecidos. Representam décadas de contribuições para o desporto nacional e continuam a desempenhar um papel relevante na coesão das suas comunidades. A crise que atravessam deve servir como alerta para a necessidade de políticas desportivas mais equilibradas e de estratégias que valorizem a base do futebol, evitando que emblemas emblemáticos caiam definitivamente no esquecimento.

Entre a grande penalidade da pressão económica e o fora de jogo da perda de competitividade, Sp. Covilhã e Sp. Olhanense continuam a lutar por um futuro digno da sua história. E o futebol português, se quiser preservar a sua identidade, terá de olhar mais atentamente estes clubes que, apesar de dificuldades, permanecem símbolos vivos de dedicação e resiliência.

Feliz Natal e um Próspero Ano Novo.

João de Jesus Nunes

 

jjnunes6200@gmail.com

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