Opinião: António José da Silva | O Natal dos meus Principezinhos Encantados
Por Jornal Fórum
Publicado em 18/12/2025 08:00
Opinião

Era uma vez numa cidade que ficava nas encostas da Serra da Estrela, cercada de montes e vales, onde o seu imponente casario, mais parecia um presépio, qual dádiva sublime da natureza. Dois irmãos - DUARTE, aventureiro, atento e sempre pronto a descobrir mistérios; e DIOGO, cheio de imaginação, riso fácil e um coração do tamanho do mundo.

Para o avô e para a avó, eram muito mais do que duas simples crianças - eram os seus Principezinhos Encantados. Aproximava-se o Natal, e na casa dos pais respirava-se magia. O cheiro a canela misturava-se com o cheiro a comida que só se sentia na época…e sobre a lareira já pendiam duas meias de lã feitas à mão. Do lado de fora, o frio gelava as almas embrulhando tudo num silêncio acolhedor. Mas naquele ano, algo especial estava destinado a acontecer, algo tão extraordinário que só poderia ocorrer na época mais mágica do ano. Na noite da véspera de Natal, Duarte acordou com um som suave, como sinos minúsculos a tocar dentro de um sonho. Sentou-se na cama, piscou os olhos e viu um brilho azulado a passar pela janela. Deve ser o vento!! murmurou!... Mas o brilho piscou outra vez, desta vez mais forte. Sem perder tempo, Duarte correu até ao irmão e abanou-o devagar. Diogo, acorda! Tens de ver isto! Diogo resmungou: Se for para abrir os presentes antes da hora… eu aceito. Mas assim que chegaram à janela, atónitos, ficaram com os olhos do tamanho de duas bolas de Berlim… do lado de fora, pousada no ramo de uma árvore, tremia uma pequenina fada de neve, com asas de cristal a perderem de brilho. Duarte? O que se está a passar é real? perguntou Diogo, sussurrando como se tivesse medo de a quebrar com o som -Acho que sim! Vamos ajudá-la! Os dois vestiram os casacos à pressa e correram para um pequeno jardim, na parte de fora da casa…

Capítulo ll – A Fada Anna e o terrível Brunhol

A fada estava fraca, envolta numa luz quase apagada! Obrigada por terem vindo, disse ela com voz trémula… sou a fada Anna, guardiã do Inverno. Preciso de ajuda urgente. Duarte ajoelhou-se à sua frente…diz-nos o que aconteceu. Anna, respirou fundo! A joia que mantém viva toda a magia natalícia, o Coração do Inverno, foi roubada pelo terrível Brunhol, o Senhor das Tempestades.

Sem a joia, o Natal perderá o brilho e… sua voz baixou! O Pai Natal não conseguirá fazer a viagem esta noite. Diogo deu um salto. — O que?! O Pai Natal vai falhar o Natal?! A menos que vocês me ajudem a recuperá-la — respondeu a fadinha. Os dois irmãos olharam um para o outro. Entre medo e coragem, escolheram a coragem. Nós ajudamos, disse Duarte, firme. Somos bons em aventuras, acrescentou Diogo. Anna sorriu, já com um pouco mais de luz nas asas. Então preparem-se! Para chegar ao Reino do Inverno terão de atravessar o Portal das Estrelas, que só se abre a corações puros e valentes. Com um movimento elegante, Anna ergueu o seu cajado de gelo. O ar vibrou. Um círculo de luz branca abriu-se diante deles como uma porta para outro mundo. — Prontos? — perguntou a fada. Duarte segurou a mão do irmão. Sempre. E juntos entraram no portal. O que viram do outro lado tirou-lhes o fôlego: montanhas brilhantes como diamantes, florestas feitas de gelo cristalino e um céu repleto de luzes dançantes, como se fosse uma aurora boreal gigantesca. — É o sítio mais bonito que já vi! disse Diogo, encantado. Mas Anna manteve o olhar sério. — O Coração do Inverno está no Castelo das Tempestades, onde vive Brunhol.

Capítulo lll – O Castelo das Tempestades ( e a linda Noite de Natal)

Para chegar lá terão de enfrentar três desafios perigosos: O Lago dos Espelhos, A Floresta dos Sussurros Gelados, A Escadaria dos Ventos.

Duarte respirou fundo. Estamos contigo, nesta luta contra terríveis ventos fortes. Eu consigo, gritava Duarte! Eu também, insistia Diogo, mesmo com as pernas a tremer. Quando chegaram ao topo, o Castelo das Tempestades erguia-se gigantesco, iluminado por relâmpagos silenciosos. Lá dentro, no salão principal, encontraram Brunhol - Alto, com olhos cinzentos e um manto feito de rajadas de vento, observava-os com frieza. Ao seu lado, dentro de um bloco de gelo, brilhava o Coração do Inverno. — Vieram por isto? — perguntou ele. — A magia do Natal é inútil. Só traz ilusões. Diogo deu um passo à frente. — Não é verdade! O Natal traz alegria, família, e coisas boas! Duarte completou: — Mesmo quando o mundo está complicado, o Natal lembra-nos que nunca estamos sozinhos. Anna aproximou-se de Brunhol… — No passado, eras tu quem espalhava alegria pelo inverno. Mas esqueceste. Fechaste o coração.O gigante fraquejou por um instante. O vento à sua volta diminuiu.Diogo aproximou-se… e estendeu-lhe a mão. — Podes mudar. Podemos ser teus amigos. A sala ficou em silêncio. Brunhol, surpreendido com a oferta, sentiu algo que já não sentia há muito tempo: calor! Uma lágrima de gelo caiu do seu rosto. Com um gesto lento, libertou o Coração do Inverno. — Levem-no. Devolvam a magia ao mundo. O castelo encheu-se de luz. Regressou a Magia. Anna conduziu-os de volta ao portal. — Vocês salvaram o Natal — disse ela. — São verdadeiros principezinhos encantados. Quando voltaram ao jardim dos avós, a noite ainda parecia a mesma, mas algo tinha mudado.

A neve caía suavemente, como se celebrasse a coragem dos dois irmãos.< — Duarte! disse Diogo — achas que isto aconteceu mesmo? Duarte sorriu…ainda acreditas em sonhos encantados???? Acredita, Diogo. A magia existe para quem tem coragem de a encontrar. Na noite de Natal, ao lado das meias penduradas na lareira, havia um presente inesperado: um pequeno floco de neve cristalizado, brilhante como a joia do inverno. E o avô, que observava em silêncio, sorriu… porque, no fundo, sabia que naquela casa, com aqueles dois netos, a magia do Natal viveria para sempre.

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