Opinião: Martim Leal | Sophia: A chegada dos “arbustos negros”
Por Jornal Fórum
Publicado em 18/12/2025 08:00
Opinião

Está tudo farto da Sophia. Penamacor, Fundão e Idanha-a-Nova já disseram "não". Não querem abdicar da sua paisagem, da sua identidade, das árvores que já contam histórias de séculos. A verdade é que são centenas de hectares ameaçados. A instalação de painéis fotovoltaicos tem sido palco, nos últimos tempos, inclusive na região da Cova da Beira.

O projeto é ambicioso: uma promessa de energia limpa, renovável e moderna. Mas será que vale a pena sacrificar a biodiversidade de uma região tão rica para a instalação destes novos “arbustos negros”? Pois considero que destruir habitats, desflorestar e, sobretudo, descaracterizar uma região inteira não será de todo agradável. A verdade é que não vale tudo, e não é por isso que se deve colocar de lado a sustentabilidade.

O parecer das câmaras municipais foi claro: garantir que a riqueza da biodiversidade que a região produz não seja destruída num piscar de olhos. Não se trata apenas de proteger árvores ou animais; trata-se de preservar modos de vida, tradições e a própria identidade de comunidades que há gerações cultivam estas terras. Cada sobreiro abatido, cada hectare de solo transformado num campo de painéis, representa um pedaço da memória coletiva que corre o risco de se perder.

A sustentabilidade não se mede apenas em megawatts produzidos, mas também na capacidade de manter o equilíbrio entre o desenvolvimento e o respeito pelo território, pelo ambiente e pelas pessoas que nele habitam. Ignorar este equilíbrio é transformar o futuro em destruição. A Sophia promete luz, mas não podemos permitir que essa luz ofusque a beleza da nossa terra.

Talvez seja este o momento de questionarmos que tipo de progresso realmente desejamos. Um progresso que se impõe de cima para baixo, ignorando quem conhece a terra pelo nome das árvores e pelo cheiro das estações, nunca será verdadeiro desenvolvimento. A região não rejeita a transição energética, rejeita a ideia de que ela só pode acontecer destruindo tudo o que existe. Há alternativas, há modelos mais inteligentes e também mais respeitadores do território. Mas para isso é preciso ouvir, dialogar e sobretudo compreender que a pressa de hoje não pode colocar o amanhã em causa.

Gostou deste conteúdo?
Ver parcial
Sim
Não
Voltar

Comentários
Comentário enviado com sucesso!

Chat Online