Opinião: José Páscoa | Em democracia os políticos têm de obedecer às pessoas!
Por Jornal Fórum
Publicado em 16/06/2025 00:58 • Atualizado 16/06/2025 16:46
Opinião

O cataclísmico resultado das legislativas começa agora a apresentar-se mais claro, o Chega encostou os partidos fundadores da democracia às boxes! O que falhou? As políticas, é claro! Mas as políticas são um resultado da conjugação de ideias com os candidatos. Os candidatos e as suas ideias têm de responder à ânsia das pessoas. Em democracia os políticos têm de obedecer às pessoas! 

Esta lição de humildade democrática deve ser apropriada por todos os níveis de poder. Seja ele as presidenciais, as legislativas, como vimos, ou as autárquicas. Se as pessoas não se revêm nas ideias propostas, elas afastam-se. E afastam-se ainda mais se as pessoas não se revirem nos candidatos apresentados. Juntar estes dois ingredientes é caminhar para o desastre. E o desastre aqui pode ameaçar a própria democracia como a entendemos. 

Comecemos pelas ideias. É costume dizer que os diagnósticos estão já todos feitos, mas então porque esperamos tanto tempo para implementar as soluções? As pessoas aguentam, aguentam, até que se zangam e dizem chega! Mas dizer que chega ou basta não traz soluções, muito menos provoca a sua implementação. É essencial ouvir mais as pessoas, e inovar nas ideias, mas é ainda mais importante fazer acontecer!   

Il dolce far niente”, o doce prazer de não fazer nada! Procrastinar, é o ato de ser mau político na doce linguagem italiana. O ato de adiar, de não pensar que está naquela função para servir a comunidade em lugar do seu próprio ego, ou a sua gula. E as pessoas dizem que chega! Mas esse grito de irritação – que no fundo é um pedido de ajuda – não resolve os problemas. Ele apenas irá substituir uns glutões procrastinadores por outros.  

O grito de socorro que os eleitores soltaram nas últimas eleições percorre toda a Europa! É necessário compreender o que preocupa as pessoas. É essencial que as ideias venham de quem vive todos os dias com a preocupação de como vai fazer o orçamento familiar chegar ao fim do mês. E não regurgitar para as pessoas as ideias que chegam de diretórios centralizados. Essas não lhes dizem nada! E, depois, é preciso apresentar às pessoas os candidatos que fazem acontecer. E aí é essencial deixar as pessoas escolher os nomes que lhes dão confiança. Há países onde os partidos propõem candidatos e eles não estão hierarquizados, cabe ao eleitor escolher o partido e o candidato que quer. O candidato de determinado partido que é eleito é o candidato mais votado pelo eleitor. Será que as pessoas diriam chega se pudessem escolher, de facto, o seu candidato em determinada eleição? Alguém duvida de que os eleitos seriam outros? 

É importante que as ideias estejam alinhadas com as pessoas, e é importante que se escolham os candidatos que fazem acontecer. Mas a cereja no cimo do bolo é o sonho. As pessoas têm direito ao seu sonho, têm direito a mais do que apenas a sobreviver até ao fim do mês! 

O sonho é para ser concretizado. O sonho é para ir além do dia-a-dia, é sonhar com uma sociedade melhor, e fazê-la acontecer! O sonho é viver num país, ou numa cidade que vibra, e cresce, e onde os filhos e netos sonham em continuar a viver. Sem sonhos as pessoas ficam tristes, e isso também é uma responsabilidade dos candidatos! Há 50 anos muitos lutaram e sonharam com a democracia. A miragem tornou-se realidade, a vida mudou para melhor. Mas não podemos limitar-nos a viver os sonhos de há 50 anos! É essencial encontrar novos sonhos que mobilizem as pessoas e as façam felizes.  

Ainda não é tarde. Há ainda tempo para responder ao grito de ajuda soltado pelas pessoas. É essencial ouvir as pessoas, é importante fazer acontecer, mas tudo isto tem de ser feito deixando espaço para o sonho!  Ou, como dizia o poeta. 

Eles não sabem, nem sonham, 

que o sonho comanda a vida. 

Que sempre que um homem sonha 

o mundo pula e avança 

como bola colorida 

entre as mãos de uma criança.  

 

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