Opinião: António Lopes | PSD retoma a liderança autárquica nacional, Chega inicia implementação local e Covilhã pintada a rosa
Por Jornal Fórum
Publicado em 15/10/2025 10:54
Opinião

As eleições autárquicas do passado dia 12 redesenharam o mapa político do nosso país e revelaram um novo ciclo no poder local português. No panorama geral, o PSD foi, sem dúvida, o vencedor da noite, na medida em que regressou à “liderança” do poder autárquico com 136 Câmaras, tendo melhorado, de forma significativa o resultado alcançado em 2021. Reconquista, agora, a presidência da Associação Nacional de Municípios, que pertencia ao PS desde 2013, e a sua vitória é ainda mais assinalável pelo facto de ter garantido os cinco municípios mais populosos do país. 

Se fizermos uma breve comparação com os resultados das autárquicas de 2021, o PSD conquista mais 22 Câmaras Municipais, enquanto o PS perdeu 21, ficando aquém das 149 Câmaras conquistadas em 2021. Entre várias conquistas significativas, do ponto de vista político, o PSD conquista ao PS as câmaras de Beja, Guimarães (bastião socialista) e Espinho, tendo também apoiado a lista vencedora em Setúbal. Na noite eleitoral de domingo, os socialistas também causaram algumas surpresas ao vencerem em Viseu e Bragança, duas capitais de distrito tradicionalmente dominadas pelo PSD. Além disso, também devo destacar as vitórias socialistas em Faro e Coimbra. 

Importa também, nesta análise, chamar a atenção para a tradicional bipolarização (PS/PSD). Mais uma vez, os resultados das autárquicas são demonstrativos que ao nível local, as mudanças tendem a demorar mais a ocorrer. Se nas últimas legislativas o Chega surpreendeu tudo e todos pela conquista da liderança da oposição, no que concerne ao contexto autárquico, o caso muda de figura. 

É certo que o Chega não alcançou os resultados que perspetivava, mas a verdade é que apesar disso, conquista 3 Câmaras Municipais (Albufeira, São Vicente e Entroncamento) o que mostra o início da implementação do partido liderado por Ventura, no panorama autárquico. O partido cresceu de forma assinalável em todo o território nacional, consegue eleger vereadores em algumas câmaras, efetiva a sua presença em assembleias municipais. A sua entrada consistente em órgãos locais, representa um passo importantíssimo na estratégia de enraizamento territorial. Esta evolução traduz um fenómeno mais profundo, na minha opinião. O voto de protesto começa a ganhar forma nas estruturas de poder mais próximas das populações, o que representa e acentua uma mudança significativa no comportamento do eleitorado português. 

A CDU, volta a marcar pontos pela negativa, uma vez que volta a perder peso autárquico. Passa de 19 para 12 câmaras. Perde as capitais de distrito de Évora e Setúbal. É ainda relevante dar uma breve nota sobre o resultado autárquico do CDS-PP que manteve as suas seis Câmaras Municipais e mantém a sua implementação autárquica. 

Partidos como o Bloco de Esquerda, e a Iniciativa Liberal, são praticamente inexistentes no panorama autárquico. A ausência de estruturas locais e de candidatos com visibilidade territorial fez com que as duas forças tivessem desempenhos residuais. O Bloco, que já teve vereadores eleitos em várias autarquias perdeu toda a sua relevância no que concerne ao poder local e caberá a Mariana Mortágua retirar ilações disso mesmo. 

O caso de Viseu chamou, de forma particular, a minha atenção e creio ser importante referi-lo. Viseu registou uma mudança que quebra décadas de continuidade política. A vitória socialista, num concelho tradicionalmente social-democrata, constitui um dos principais sinais de desgaste local do PSD e mostra bem que a renovação política também chega a territórios considerados seguros. Embora seja um resultado muito particular, evidencia que as autarquias continuam a ser um espaço de voto muito pessoal e de forte ligação entre candidatos e eleitores, mais do que um reflexo direto das dinâmicas partidárias nacionais. 

No distrito de Castelo Branco, o mapa autárquico manteve-se maioritariamente favorável ao Partido Socialista, ainda que com alguns sinais de reconfiguração política. O PS foi o partido mais votado no distrito e manteve o controlo da maioria das câmaras, como é o caso de Castelo Branco, Covilhã, Idanha-a-Nova, Penamacor, Proença-a-Nova, Sertã e Vila Velha de Ródão. O PSD, garantiu o Fundão, Oleiros e Vila de Rei. A surpresa da noite, no que diz respeito ao Distrito, foi sem dúvida Belmonte, onde António Beites, alicerçado no Nós Cidadãos, garantiu a Câmara Municipal derrotando Vítor Pereira, ex-Edil da Autarquia Covilhanense. 

Na Covilhã, muito se especulou (incluindo eu) sobre a possibilidade de uma corrida a dois, PS e MIPP, por via da existência de um Partido Socialista fragmentado, por causa da saída abrupta, entre outros, de Carlos Martins, histórico socialista, que criou o Movimento Independente Pelas Pessoas, com o intuito de disputar a autarquia. 

A verdade é que na cidade da Covilhã, prevaleceu, na minha opinião, o voto útil. Preferiu-se a experiência em detrimento do protesto. Os projetos e as equipas, em detrimento da maledicência. Os Partidos tradicionais, PS e PSD, primeiro e segundos classificados na noite eleitoral local, respetivamente, alcançaram a preferência dos Covilhanenses. Óbvio e natural destaque para a vitória socialista, com maioria absoluta, o que, na minha opinião reflete uma oportunidade única para implementação do projeto liderado por Hélio Fazendeiro. A vitória socialista para a Câmara Municipal e para a larga maioria das Juntas de Freguesia foi, de facto, avassaladora.  

Neste contexto, também é relevante olharmos para os derrotados. A CDU perde um número considerável de votos na Covilhã, fruto de algum conservadorismo e de falta de risco nas suas apostas. A coligação “+ Covilhã”, desilude, sobretudo pela fraca adesão do eleitorado urbano. O MIPP (Movimento Independente Pelas Pessoas), surpreende pela negativa. A considerável desilusão eleitoral protagonizada pelo MIPP tem, na sua génese, a incapacidade de Carlos Martins disseminar as suas ideias, o seu projeto. A não comparência a debates, independentemente dos motivos, a falta de habilidade garantir a implementação do seu conjunto de ideias na comunidade que almejava representar, a constante necessidade em atacar os seus opositores, sobretudo o PS e Hélio Fazendeiro, patente nas diversas entrevistas dadas aos órgãos de comunicação social locais, entre outras razões, refletiram-se no resultado eleitoral. Saúdo, ainda assim, a coragem de se libertar das amarras socialistas e seguir o seu coração. Saúdo também Jorge Simões (PSD), Eduardo Cavaco (+Covilhã) pelas respetivas eleições e faço votos para que façam uma oposição profícua, a bem da Covilhã. 

Não poderia terminar toda esta análise sem me referir ao vencedor da noite, Hélio Fazendeiro. A sua vitória arrebatadora, a equipa de vereadores que é eleita, nas pessoas de Regina Gouveia, Luís Marques e João Marques, são sinónimos de reconhecimento, por parte da larga maioria dos Covilhanenses, de competência e reflexo profundo de um trabalho positivo, individual e coletivo, ao longo dos últimos anos, nas funções por eles desempenhadas.  

 

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