Opinião: João de Jesus Nunes | A política em rotação: reflexões sobre as eleições autárquicas
Por Jornal Fórum
Publicado em 19/09/2025 10:43 • Atualizado 25/09/2025 15:31
Opinião

À medida que se aproximam as eleições autárquicas, o país enche-se de cartazes, slogans ambiciosos e promessas renovadas – muitas vezes, apenas recicladas. Multiplicam-se candidatos, cada um mais convicto do que o outro de possuir a chave para o desenvolvimento local.  

Para uns, este é o momento alto da democracia de proximidade; para outros, com um certo ceticismo, não passa de um desfile de rostos sorridentes e frases feitas. Perguntam-se se, por trás de tanta cor e otimismo, não estará o mesmo enredo de sempre, num palco de vaidades e estratégias pessoais, onde os eleitores são tratados mais como plateia do que como protagonistas.  

É curioso notar que, entre tantos candidatos, alguns impossibilitados de renovar o mandato no seu concelho, decidem aventurar-se em novas praças. A geografia política transforma-se, assim, num tabuleiro de xadrez onde o essencial parece ser não perder o lugar de destaque. Trocam-se freguesias por cidades, concelhos por vilas, mas a ambição mantém-se: continuar na ribalta.  

Trocam-se concelhos como quem troca de camisola – sempre com o mesmo objetivo: não largar o poder. 

Nada há de ilegítimo em quem deseja continuar a servir a causa pública. Contudo, esta “dança de cadeiras” levanta inevitáveis questões: trata-se de vocação ou de carreira? De serviço ou de poder? Em ano de eleições, o eleitorado, tantas vezes esquecido entre mandatos, volta a ser cortejado. Entre promessas e discursos inflamados, cabe a cada cidadão separar o trigo do joio, distinguindo quem de facto se compromete com a terra de quem apenas procura mais um degrau na escalada política. 

A quantidade de candidatos dispostos a tudo para manter o “lugar de topo” é reveladora. Até que ponto esta mobilidade traduz genuína vontade de servir ou apenas medo de desaparecer dos holofotes?  

Durante os mandatos, o eleitorado parece cair no esquecimento. Mas quando chega setembro ou outubro, todos regressam às ruas, de sorriso treinado e mão estendida, à procura de votos.  

Por isso, cabe a cada cidadão – o único que detém, de facto, a chave da mudança – avaliar com rigor quem se apresenta. Olhar para além dos cartazes, ouvir para lá das promessas e, sobretudo, perceber quem tem trabalho feito e quem vive apenas de ambições pessoais. 

A democracia vive de escolhas conscientes e informadas. As autárquicas são um ato de confiança. Não nos deixemos levar pela espuma dos dias nem pelo marketing político. No final, a verdadeira força da democracia não está nas cadeiras disputadas, mas na lucidez com que o povo decide quem se senta nelas. 

Que estas eleições autárquicas sirvam, assim, para reforçar a voz dos cidadãos, em vez de alimentar vaidades ou perpetuar jogos de poder. Porque, no fim, o verdadeiro protagonista deveria ser sempre o povoaquele que, em silêncio, traça o destino das suas terras e confia, a cada quatro anos, que os eleitos honrem o peso do voto que lhes foi dado. 

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