Artigo de opinião, 28 de agosto de 2025
Em 2025 (e até esta data) em Portugal arderam cerca de 2,35 % do seu território, o que equivale a aproximadamente 247 000 hectares.
Um dos incêndios mais devastadores foi o incêndio, que começou em 13 de agosto nos arredores de Piódão (concelho de Arganil), consumiu 64.451 hectares ao longo dos 11 dias seguintes até entrar em fase de resolução.
Este foi incêndio que afetou a Pampilhosa da Serra, Oliveira do Hospital, Seia Covilhã, Fundão e Castelo Branco.
Não se passou nada… isto é tudo normal… os meios disponíveis e necessários estiveram no terreno.
Como é possível deixar que um incêndio tome estas proporções?
Parece que afinal tudo se resolve com apoios, mais apoios e apoios para tudo e nada. Uma vergonha.
O primeiro-ministro e o Governo querem comprar o silêncio de todos, a resiliência de um povo, com subsídios, sem que se vejam medidas musculadas para pôr fim de uma vez por todas aquilo que todos sabemos, mas ninguém quer assumir.
Mais uma vez, Portugal passou por um mau momento devido aos incêndios, tem sido assim todos os anos, com mais ou menos gravidade.
Mas afinal o que é que se passa?
Quais as razões que nos levam ano após ano a esta calamidade?
Em primeiro lugar uma Proteção Civil Nacional completamente desajustada e inoperacional. Mobilização de recursos humanos, veículos e meios aéreos completamente desajustada das realidades locais, sem o devido acompanhamento. Não conhecem o terreno e julgam que conseguem comandar as operações nos gabinetes em Lisboa.
A Proteção Civil Nacional, mais uma vez só serviu para fazer briefings sem conteúdo e apresentar estatísticas (número de fogos, número de viaturas, número de operacionais…), na maioria das vezes completamente dispares da verdade.
Não é por acaso que os incêndios, ano após ano, devastam florestas, aldeias e vilas.
Não são apenas fenómenos naturais, são instrumentos e como em qualquer instrumento alguém o toca e lucra com a melodia.
Primeiro as empresas de reflorestação e de exploração da madeira especialmente as que negoceiam o eucalipto. O eucalipto é altamente inflamável, cresce rápido e dá lucro.
Cada vez que uma área arde, abre espaço para mais monocultura.
As novas empresas de painéis solares, ávidas de novos espaços, sem regulamentação, querem transformar espaços florestais em espaços de painéis altamente lucrativos.
Vamos ver por aí uma nova “reflorestação” de painéis solares.
Depois entra o sistema político e económico, as empresas de combate a incêndios, helicópteros contratados aos grupos de proteção civil privados.
Todos esses negócios dependem do fogo, quanto mais incêndios, mais contratos milionários, muitos deles atribuídos, supostamente com legalidade, mas sem fiscalização.
Estamos a falar de milhões de euros em cada verão.
Os nomes raramente aparecem à superfície, mas os indícios apontam para figuras ligadas a grupos de celulose, que dominam o mercado da madeira e beneficiam com as plantações pós incêndio.
Políticos locais, regionais e nacionais, facilitam licenças de florestação e libertam terrenos para interesses privados após o fogo passar.
Interesses cruzados entre empresas de combate a incêndios e figuras com ligações partidárias que aprovam os contratos.
Os bombeiros, são usados como escudo emocional.
Mas muitos avisam, muitas denunciam e são silenciados.
Não nos esqueçamos dos fundos europeus.
Há municípios que só recebem certos apoios e subsídios quando há tragédias.
Muitos dos Presidentes de Câmaras que agora reclamam, nada fizeram para evitar os incêndios. Gastam rios de dinheiro em festas, concertos, fogo de artificio, etc., mas nem um cêntimo na limpeza das matas caminhos e faixas de contenção.
Se lhes perguntarem o que fizeram para evitar este tipo de catástrofes a resposta vai ser o silêncio, porque NADA fizeram.
Que melhor forma de garantir financiamento do que com uma calamidade natural.
O fogo em Portugal, já não é só um desastre, é um negócio silencioso.
Uma engenharia de território feita das chamas.
A indústria dos aviões de combate a incêndios é um monstro disfarçado de salvador. Parecem heróis do céu, mas por detrás movimentam milhões de euros com contratos blindados opacos e altamente lucrativos.
Portugal está amarrado a esse esquema há décadas.
Em vez de ter uma frota própria, o Estado aluga aviões por valores absurdos em contratos sazonais que se renovam ano após ano.
Estamos a falar de milhões por aeronave, por poucos meses de operação.
Muitas destas empresas têm sede fora do país e mantém ligações com antigos militares, políticos, e empresários do setor da defesa.
E aqui entram nomes que poucos ousam dizer.
Estas empresas fornecem helicópteros e aviões ao Estado português, com problemas de manutenção, falhas operacionais e processos judiciais pelo meio.
Mesmo assim os contratos continuaram, porque há interesses cruzados entre essas empresas e figuras que giram entre cargos políticos e empresas públicas e privadas.
São contratos feitos com cláusulas secretas sem concorrência séria.
O que ainda é mais obsceno, é que muitas vezes esses aviões ficam parados mesmo em pleno pico de incêndios porque os contratos dizem que só levantam voo com autorização superior, ou seja, o fogo só é combatido quando alguém quer.
Os contratos estão protegidos por segredos de Estado e confidencialidade, por razões de segurança nacional, a desculpa perfeita para esconder corrupção, favorecimento e incompetência planeada.
Os incêndios alimentam este sistema, quanto mais arde, mais contratos, quanto mais contratos mais dinheiro.
Não é falta de meios, é o fogo como estratégia.
As respostas estão onde poucos ousam olhar porque esta parte do puzzle é das mais obscuras e protegidas.
Assim continuaremos a ter fogos todos os anos, assim vai continuar a arder tudo, tudo não, o que falta.
