Opinião: Paulo Perestrelo | Esta é a época
Por Jornal Fórum
Publicado em 20/08/2025 16:02
Opinião

Já há alguns anos que o início da época nacional não me entusiasmava tanto. Talvez porque a previsibilidade se tinha tornado rotina, talvez porque os grandes pareciam viver em ciclos repetidos de hegemonia momentânea. Este ano é diferente. Já lá vão várias temporadas em que ao arranque ninguém conseguia dizer com convicção quem iria realmente lutar pelo título, mas agora a incerteza tem outro peso: os quatro principais clubes de Portugal entraram de peito aberto no mercado e colocaram-se no mapa europeu entre os que mais gastaram. FC Porto, Benfica, Sporting e Braga surgem todos entre os cem clubes mundiais que mais investiram em transferências neste verão. É, por si só, um sinal claro de ambição.

O Sporting, bicampeão em título, mexeu profundamente no seu plantel. Perdeu Viktor Gyökeres, a grande figura da época passada, mas respondeu com a chegada do colombiano Luis Suárez, uma aposta para manter o ataque afiado, embora com um estilo muito diferente do sueco. O Porto foi o que mais sacudiu as estruturas, gastando mais de 90 milhões de euros e apostando numa remodelação quase total. Borja Sainz, Víctor Froholdt, Gabri Veiga, Prpić, Bednarek, Alberto Costa e até, a tão surpreendente contratação de Luuk de Jong, peças que prometem dar outro corpo à equipa, agora sob comando de Francesco Farioli. Do lado do Benfica, também não faltaram novidades: Richard Ríos, Enzo Barrenechea e Franjo Ivanovic, que já se estreou a marcar na Europa, juntam-se a Samuel Dahl e Amar Dedic para redesenhar a equipa de Bruno Lage. E no meio dos tubarões, o Braga vai deixando claro que quer estar na conversa. Sob a orientação de Carlos Vicens, ex-Manchester City, chega com renovação, jovens de grande potencial como Pau Víctor, Gabriel Moscardo e Mario Dorgeles e a sensação de que pode, de facto, espreitar o pódio com outra força.

Em campo, as primeiras jornadas confirmaram a energia deste novo ciclo. O Sporting entrou com toda a força com 8 golos marcados e 0 sofridos ao fim de duas jornadas. O Benfica, mais tímido pelo desgaste da pré-eliminatória da Champions League, também já deu sinais positivos. O Porto mostrou uma autêntica revolução na forma de jogar, fazendo os dragões sonhar e o Braga apareceu mais atrevido, tanto na Europa como na Liga. Duas jornadas terminadas, com os encarnados ainda com um jogo em atraso, e já se sente no ar que esta temporada não será uma corrida a dois, mas uma verdadeira maratona de quatro vias, em que cada detalhe pode ser decisivo.

E eu, que já tinha deixado de olhar para a liga nacional com olhos de fascínio, focando-me nos campeonatos lá fora, não consigo evitar a sensação de que este é o ano em que o futebol português volta a respirar grandeza. Não apenas na luta pelo título, mas também na competitividade geral, no bom futebol que se adivinha em muitos relvados da Primeira Liga. Esta é a época. A época em que o futebol nacional volta a afirmar-se e em que o adepto português pode, finalmente, sentir outra vez o arrepio do imprevisível.

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