Opinião: Pires Manso | IMIGRANTES EM PORTUGAL, NO LITORAL E INTERIOR:
Serão Assim Tão Maus Para Portugal? Poderemos Nós Dispensá-Los?
Por Jornal Fórum
Publicado em 18/06/2025 15:05 • Atualizado 18/06/2025 15:16
Opinião

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José Ramos Pires Manso1 

https://tse3.mm.bing.net/th?id=OIP.XXieDuYQGnhy9dPU-AcqXAHaFO&pid=Api&P=0&h=220, PictureSempre que oiço falar de migrantes, emigrantes e imigrantes, lembro-me dos portugueses que foram para França nos anos 50, 60, 70 do século passado, mas também para a Alemanha, Suíça, EUA, Canadá, Venezuela, Brasil, Argentina e, mais recentemente, para Espanha, das dificuldades por que passaram, das dificuldades de integração, muitos dos quais, então, analfabetos 

Relacionado com as recentes eleições legislativas, também não ignoro os votos que a sua discussão acalorada, desinformada e maldizente, rendeu em 18 de maio, aos partidos extremistas que fizeram do seu combate, bem como do dos ciganos, os seus cavalos de batalha e que até já rendeu boas dezenas de deputados na AR, garantindo até, a um desses partidos, o lugar em número de deputados, à frente do partido socialista que, embora com mais votos, tem 2 ou 3 deputados a menos Ora, na minha modesta opinião, e friso modesta opinião, esse tema, a ser aflorado na altura das legislativas, devia tê-lo sido, ponderadamente, com seriedade, com lisura, e nunca da forma deturpada como tem ocorrido, pela importância que eles têm para a nossa economia, as empresas, as escolas, as universidades, a Segurança Social (SS), etc.. E penso que tenho razões de sobra para defender esta opinião:  

Em primeiro lugar, porque foi a emigração portuguesa – logo imigração nos países para onde foram trabalhar –, que, no século passado, permitiu que conseguíssemos equilibrar as contas e pagar as compras ao estrangeiro (importações) que os portugueses necessitavam mas não tinham, com os milhões de contos em ouro e divisas que os emigrantes nos enviavam (em francos, dólares, libras, …) (para além de terem assegurado o sustento das suas famílias e os estudos dos seus filhos); e também porque, atualmente, continua  a ser no estrangeiro que mais de 2 milhões de portugueses continuam a ganhar o seu sustento agora como imigrantes já bem melhor formados do que os analfabetos que no século passado enviávamos; segundo, porque essa emigração portuguesa levou e continua a levar lá para fora os jovens em idade de procriar e muitos deles já não regressaram ou regressam o que justifica que nesta altura sejamos, salvo erro, o segundo país no mundo com menor taxa de natalidade (menos de 2 nascimentos/mulher) não conseguindo sequer proceder à substituição das gerações que vão falecendo; depois, porque, por esse motivo, deixamos de ter mão de obra disponível e suficiente na agricultura, na construção civil, nos serviços, na indústria, e por aí fora; porque, de facto, a apanha da fruta nas estufas de Odemira, nos amendoais alentejanos e da B. Baixa, nas cerejeiras, nas oliveiras, nas uvas do Douro e de outras zonas vinícolas deste país à beira-mar plantado, não conseguiria levar-se a cabo sem esses imigrantes que tantos procuram denegrir; porque o mesmo se passa noutros sectores como os lares da terceira idade em todo o país, incluindo no interior ostracizado, os hipermercados, a construção,… – para concluirmos que neste momento, essa mão de-obra não pode ser dispensada sob pena de o país ficar paralisado. 

Além destes argumentos, que dizer dos hotéis e restaurantes algarvios, de Lisboa do Porto, de todas as regiões do continente, assim como da Madeira e Açores, hoje um dos nossos principais produtos de exportação e fonte de divisas de que tanto precisamos?, que dizer dos enormes descontos para a S.S. – a que nos paga os serviços de saúde e as pensões de velhice, invalidez e incapacidade, entre outras coisas –, pois só em 2024 contribuíram com mais de 3,5 mil milhões de euros para a sua sustentabilidade, representando nesse ano 12.4% do total de receitas arrecadadas (em 2021 o seu peso era de apenas de 6%, menos de metade)? 

De facto, os cerca de 15% de estrangeiros, imigrantes, na população portuguesa e por cá residentes, contribuem com um valor bem superior ao do seu peso na população se pensarmos apenas nas suas contribuições para a S.S., tão importante para o equilíbrio das nossas contas da SS e públicas, recebendo em contrapartida, um valor bem inferior ao que descontam quando dela necessitam; além disso, esses imigrantes são seres humanos que, como os portugueses quando vão trabalhar para o estrangeiro, são pessoas como nós os lusos, que merecem o nosso respeito; de referir ainda que o peso dos imigrantes que nos ajudam na nossa economia está ainda abaixo de 17 países da União Europeia. 

https://s359.kapook.com/pagebuilder/0d37af1a-082d-41ea-abd6-f166ec005344.jpg, PictureMas outras razões há que nos levam a defender esta posição; por exemplo,  sabe que, segundo os resultados de um inquérito publicado há cerca de 6 meses pela Função Francisco Manuel dos Santos, 68% dos 1072 indivíduos portugueses inquiridos concordam que os imigrantes são fundamentais para o funcionamento da economia nacional, para que a nossa S.S. possa pagar as suas reformas e serviços aos nossos pensionistas, para o preenchimento de lacunas no mercado de trabalho? Que, o mesmo estudo concluiu igualmente que setores como a construção civil, a agricultura e os serviços estão fortemente dependentes do contributo dos imigrantes, e que estes o consideram essencial para o crescimento económico do país? que, 53% reconhecem as dificuldades por eles enfrentadas no acesso ao mercado de trabalho nacional e que 40,6% sabem dos dramas por que passam muitos deles, nos grandes centros, na busca de uma residência (habitação) condigna? E que a maioria sabe que eles estão sujeitos aos empregos menos qualificados, frequentemente com salários abaixo da média nacional, em que, muitas vezes, os portugueses não querem trabalhar? 

Quase a terminar, deixo umas questões para discussão: (i) porque não aprovar legislação do género da existente nos outros países que há muito a têm (imigração) como a França, Suíça, Alemanha, ou Suécia, e permitir a sua legalização ordenada para poder ser utlizada naqueles sectores económicos em que são indispensáveis? (ii) porque não obrigar esses sectores a fornecer-lhes habitação condigna? (iii) porque não aceitar como a Suíça, imigrantes sazonais, para os sectores que necessitam de mão-de-obra apenas nalgumas alturas do ano? (iv) e porque não tratá-los como irmãos, o que em rigor até são, apesar da língua, da cor ou do credo que professam? 

E agora para concluir mesmo… A este propósito lembro-me de aqui há uns anos quando os imigrantes se aproximavam de 5% da população lusa (eram cerca de 500 mil no país) ter coordenado um estudo sobre os imigrantes residentes no distrito da Guarda, a pedido justamente da Caritas Diocesana da Guarda, e de ter concluído, entre muitas outras coisas, que o seu contributo para a dinâmica económica e até cultural do distrito e do país era imenso pois, para além das falhas nos empregos que preenchiam, preenchiam também carências em que a província portuguesa não conseguia ser autossuficiente como nas artes, nas letras, na pintura artística, no teatro, na música, na medicina, na indústriaque nessa altura a nacionalidade maioritária já era a ucraniana, a que se seguia a brasileira, a cabo-verdiana, a guineense, a angolana, mas, ainda que em menor número, já incluía igualmente chineses, indianos e paquistaneses, entre as 18 nacionalidades então presentes. Para efeitos comparativos acrescenta-se que na atualidade, em 2025, em que devem superar os 15% da nossa população, no "top" de nacionalidades imigrantes, os brasileiros ocupam, destacados, a liderança, com 36,7% do total, seguidos da Índia (6,6%), do Nepal (4,3%), de Cabo Verde (3,9%) e de Angola (3,5%), …, num universo de mais de 7 ou 8 dezenas de nacionalidades.  

Por tudo o que dissemos, se não gosta que maltratem os portugueses no estrangeiro quando emigram, os nossos filhos ou netos, porquê diabolizar os estrangeiros que por cá vivem e trabalham e sem os quais os lares da terceira idade, os hipermercados, a construção civil e os hotéis e restaurantes dificilmente funcionariam? 

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