O Sr. Joaquim de boina a tapar os “brancos” e de barba por aparar, opina constantemente sobre as decisões ambiciosas e pouco práticas que os políticos de bobinam.
Acorda com as galinhas, com o despertar do dia.
Nem precisa de despertador.
Prepara-se da melhor forma que sabe e sai de casa rumo ao café da esquina.
Daqueles pouco luminosos e com balcões ainda em madeira escura.
Famosos e conhecidos como tascas, mas onde se comem os melhores rissóis e pasteis do país.
Repletos de vitrines, cheias de garrafas de álcool a decorar.
Como tal, manda vir um café com cheirinho, para começar a manhã junto dos habitantes da vila.
O Sr. Joaquim faz parte de uma estranha espécie que floresce em tempos eleitorais: os indignados de sofá.
Aqueles que tal como o Sr. Joaquim, observam o canal de notícias 5 minutos, folheiam as manchetes do jornal e comentam as malquerenças deste país fora com os compatriotas da reforma.
Criadores de uma abstenção nata.
Não votam, mas opinam com mais convicção do que o meu pai, quando diz que as cenouras fazem bem à vista!
O Sr. Joaquim coloca-se na posição de um constitucionalista em esteroides.
Manda “bitaites”, reclama da vida, mas nada faz para mudar.
Trata-se de um indivíduo peculiar. Como muitos.
Daqueles que o café está bem cheio.
É aquele que, no dia da eleição, encontra sempre uma razão filosófica, metafísica ou meteorológica para não ir às urnas.
Está desiludido, diz ele.
Todos iguais. Corrupção. Mentirosos. Ladrões. Entre uma série de adjetivos, continua.
Manda vir mais um cheirinho para o seu café.
A manhã está ainda a começar.
Emborca mais dois ou três, ajeita-se na cadeira, e lá continua ele.
Depois, passado o ato democrático, transforma-se num cronista de café: “Este país está perdido”, “os políticos são todos ****” e “o governo devia era…”.
E por “devia” entenda-se uma lista de exigências que ele próprio ajudou a evitar com a sua nobre abstenção.
Uma série de frases malditas, mal argumentadas e muito na moda.
Afinal, o Sr. Joaquim, apenas está a dar uso ao antigo Twitter, e novo X.
Na abstenção o Sr. Joaquim acredita que está verdadeiramente a protestar. A por as mãos na massa. A tomar um rumo num país perdido.
Como quem não sabe, mas acha que sabe.
Agora passa para as tacinhas de vinho.
Tinto ou branco, o que importa é “copo cheio”, saluda os companheiros orgulhoso.
O mais curioso é que os abstencionistas convictos raramente têm dúvidas, só certezas. Sabem tudo sobre tudo, menos como se mete um boletim na urna.
Votar, seria sujar as mãos com o sistema, afirma o Sr. Joaquim.
Colocar cruzes, já bastam as das costas, afirma.
Reclamar no café é o mais perto de ativismo que o Sr. Joaquim quer experienciar!
O voto é imperfeito, claro. Mas é o mínimo.
O ponto de partida. Reclamar sem votar é como gritar com a televisão para mudar o canal: libertador, talvez…,mas absolutamente inútil.
Os compatriotas pouco entendem, falam o que ouvem, acrescentam pontos e por aí debatem.
Mas como é interessante ouvir este povo falar.
Contra mim falo, que literacia política é daquelas que pouco aprendi no ambiente escolar.
Já deveria haver uma reforma no mundo da educação, mas isso são “outros quinhentos” ...
Os poucos que votam, votam sem pensar.
É o mesmo todas as eleições, não sabem nada de programas eleitorais e mal ouvem debates.
Se calhar, o Sr. Joaquim, ainda está mais certo no meio de tudo isto do que pensamos.
Contudo, a abstenção só reforça o famoso dizer, “quem cala consente”.
Afinal, o Sr. Joaquim está bem e não sabe.
Pede mais uma tacinha de vinho e dá mais dois dedos de conversa.
Está cara, mas temos de encher o depósito.