Com o perdão daqueles que passam anos a estudar os símbolos – os especialistas em semiótica – hoje valho-me da simplicidade para adentrar neste campo tão rico do significado das coisas. Como sabemos, a semiótica é a ciência dos signos. Mas um leigo, como eu, também tem o direito de pensar. Em um exercício simples, que mensagens poderíamos obter a partir de um simples semáforo?
A física já dizia, “dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo”. Então, quando o mundo resolveu desafiar esses limites, depois da revolução industrial, o agito das cidades tornou necessária a regulação do fluxo de pessoas e veículos. E foi na Inglaterra, mais precisamente na junção das ruas Great George com a Bridge Street que um sujeito chamado J. P. Knight criou aquele que seria um dos sinais mais universais de nossa era: o semáforo.
Naquele tempo a energia elétrica dava os primeiros passos e foi preciso uma década até que Thomas Edison inventasse a lâmpada. O semáforo, como conhecemos hoje, funcionava à base de dois gases, que produziam uma luz vermelha e outra verde. Com o desenvolvimento das grandes cidades, o invento do inglês ganhou o mundo. Assim como no trânsito, o sinal pode ter muitas outras utilidades e dele podemos obter muitos significados. Senão vejamos…
No sábado antes da eleição, notei que ao andar pelas ruas da Covilhã, o trânsito irratava alguns e alegrava outros. É sempre assim. Quando ficamos parados ao semáfaro, não raro, irritamo-nos quando a luz verde demora a aparecer. Mais uma prova da necessidade de se regular o trânsito, lugar onde a impaciência humana impera. Mas a demora nada tinha a ver com a festividade dos finalistas, até porque aconteceu na parte da tarde. O que se viu ao entardecer, foi que o verde sobrepujou-se ao vermelho o que nem sempre bem fica.
Então veio o domingo. Para os amantes do futebol, um novo dia, seja para esquecer o sábado, ou para relembrá-lo. Porque sempre há dois pontos de vista. Quando algo se fecha para uns, abre-se para outros. Foi assim com o futebol e haveria de assim ser para a política. Um duro golpe, que o pessoal mais encarnado não tardou a reconhecer. Luz verde para quem virou à direita, luz vermelha para quem queria um governo à esquerda. A noite de domingo marcou como a maioria dos portugueses escolheu, democraticamente, seus novos representantes na Assembleia da República.
Uma semana antes das eleições escrevi sobre a Teoria da Ferradura, aqui mesmo, neste espaço. Naquela oportunidade, sem muito entender de política, dizia que os opostos se atraíam. Ironias da política. Daquele debate em que Mortágua deu aula com legos, quem riu por último foi Ventura. De fato mostrou que o Chega tinha muito mais votos que o Bloco de Esquerda. Aliás, muita ironia e pouca seriedade, pois bastou o PS desafiar as urnas para que se fizesse crescer aquele que é tido como o partido mais ameaçador da democracia, que assim como a AD, viu crescer sua representação no parlamento.
Ficou a lição. Para o ano, já começa um novo campeonato. Na política, o desafio de saber onde colocar as vírgulas. Veremos como ficará o “Não, é não”. Se permanecerá assim ou se a vírgula será deslocada para ser “não é, não”. Que luzes serão acesas agora? Que sinais a esquerda terá diante de si? Qual será o movimento do novo governo em relação ao crescimento do Chega? Entre o verde e o vermelho, que bem ilustram as cores da bandeira portuguesa, há um brasão de História, o tal escudo das armas nacionais, que vai muito além das conquistas de Abril. Luz verde à democracia e à estabilidade política! Luz vermelha à intolerância! E que as liberdades e o bem-estar dos portugueses possam trafegar livres, por nacionais ou autoestradas, sem paragens e, de preferência, sem portagens!
