Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Covilhã – Os desafios do nosso futuro Voltar

O ato eleitoral de 26 de Setembro na Covilhã saldou-se, no que respeita sobretudo aos resultados para a Câmara Municipal, por uma derrota política do Partido Socialista e de Vítor Pereira, pesem embora a maioria absoluta em vereadores e o número de votos obtidos. De facto, de uma maioria muito confortável de cinco vereadores contra apenas dois da oposição no mandato anterior, o PS ficou reduzido agora a uma maioria tangencial, um facto que, mais do que os resultados alcançados pela Coligação liderada por Pedro Farromba, traduz claramente que uma significativa faixa do eleitorado manifestou vontade de uma mudança. Veja-se o que se passou na principal freguesia do concelho – a urbana Covilhã-Canhoso – cujo eleitorado quase se dividiu a meio no apoio ao PS e à Coligação. Já na Assembleia Municipal, em vinte e dois mandatos, o PS não alcançou a maioria absoluta, ficando-se por onze deputados, contra oito da Coligação «Juntos fazemos melhor», dois da CDU e um da Coligação liderada por João Morgado. Quanto às Juntas de Freguesia, devem realçar-se as quinze alcançadas pelo Partido Socialista.

A Coligação «Juntos fazemos melhor», não tendo vencido a contenda, ficou numa posição muito favorável, o que só aumenta a sua responsabilidade enquanto oposição – uma oposição que não existiu no mandato de 2017-2021, onde quer Carlos Pinto quer Mesquita Nunes pouco mais fizeram do que figuras de corpo presente – às vezes ausente.

Da nova Câmara, espera-se que sejam rapidamente definidas as áreas e os sectores para onde serão canalizados os fundos do PRR e do «Portugal 2020-2030», matéria praticamente ausente da campanha e, portanto, do nosso futuro. Cabe à maioria do Executivo apresentar as prioridades, mas espera-se da oposição liderada por Pedro Farromba uma participação ativa na matéria, nomeadamente na apresentação de propostas e medidas alternativas, acompanhadas de uma regular informação aos munícipes. A Covilhã não pode perder mais tempo. Estudar, planear e executar as políticas públicas locais tornou-se doravante imperativo incontornável.

Um outro desafio com que nos defrontamos é o do combate à decadência demográfica. A Covilhã perdeu na última década mais de 4000 habitantes. Um problema de fundo que demanda estudo, pensamento, e sobretudo arrojo nas políticas a empreender. Um pouco por todo o País, os candidatos debateram este problema e delinearam políticas. Mas também aqui a campanha na Covilhã ficou empobrecida. Diremos que a abordagem a este magno problema exige visão sistémica e não isolada, como é habitual. E o ponto nodal consiste em atrair e fixar na Covilhã jovens talentos e famílias jovens que garantam a nossa regeneração demográfica a médio prazo. A questão é: como fazê-lo? Que políticas? Que áreas prioritárias de ação? Que entusiasmo e sobretudo que arrojo? Não podemos continuar a ver partir muitos dos nossos melhores: a juventude, sobretudo os milhares que saem formados da nossa UBI. Não foi para isso que esta foi criada por um grupo de covilhanenses, sem dúvida inteligentes e visionários, mas sobretudo apaixonados pela Covilhã e pelo bem público. Que os atuais sejam dignos, se puderem e forem capazes, dessa geração brilhante. Avanço aqui, então, com algumas medidas de política suscetíveis de contribuir para a nossa regeneração demográfica.

Em primeiro lugar, captando Investimento capaz de gerar riqueza e trabalho com salários de qualidade. O contrário disto, caros senhores autarcas, traduzir-se-á na sangria para outras regiões do país ou para o estrangeiro. Não haja ilusões. Aqui, sugiro ao novo Executivo a criação de uma verdadeira e ativa “Diplomacia Económica”. Não se trata de uma “diplomacia de almoços”, mas de trabalho árduo junto de investidores.

Em segundo lugar, olhar atentamente para o problema da habitação. É necessário aquilatar do estado do Parque Habitacional, criar uma bolsa de terrenos municipais destinados à habitação social e, sobretudo, para as famílias jovens. Decidir com coragem uma política local de solos destinados à habitação, ainda que menos promissores em IMI e em IMT e em rendas para os promotores imobiliários, importando ainda estabelecer, neste sector, sinergias com as empresas privadas. Por fim, que a mais que certa revisão do PDM seja feita não em prol de interesses privados – que estão sempre à espreita e às vezes manobram na sombra… Não haverá jamais regeneração demográfica sem famílias jovens radicadas que vejam que viver aqui é promissor para trabalhar, terem filhos e serem felizes. Que não se pense ou se alimente a ilusão de que os jovens apostam na Covilhã para viverem alojados em quartos arrendados.

Outras medidas e políticas destinadas a promover a regeneração demográfica deverão ser tomadas e outros desafios do nosso futuro como o da Mobilidade e o combate às alterações climáticas terão de ser enfrentados. Reservamo-los para o próximo artigo.

 

António Assunção, Professor

- 07 out, 2021