Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

As sardinhas que adoçam Trancoso Voltar

Não vieram do mar. Não são salgadas. Por dentro, não têm espinhas e, por fora, não têm escamas. São feitas de gema de ovo e adoçadas com açúcar. Por fora, decoram-se com o castanho do chocolate e a textura cremosa da amêndoa. São as Sardinhas Doces de Trancoso.

A Confraria das Sardinhas Doces de Trancoso é uma Associação Cultural sem fins lucrativos, criada a 4 de maio de 2010. Os seus integrantes são conhecidos como «confrades», estabelecendo entre si verdadeiras relações de fraternidade, “sem qualquer distinção de ordem social, política, económica ou religiosa”.

A iniciativa, que já conta com mais de dez anos, tem como objetivo “o levantamento, defesa e divulgação das Sardinhas Doces de Trancoso, da doçaria tradicional Trancosana e do património do concelho de Trancoso”. Também se dedica ao apoio, elaboração e divulgação da gastronomia do município, especialmente das Sardinhas Doces, incluindo a sua história e antigas técnicas de produção. Promove ainda “conferências, encontros e passeios culturais”, organiza concursos de gastronomia, estabelece relações com outras confrarias portuguesas e dedica-se à “colaboração com os órgãos locais, regionais, nacionais ou internacionais de turismo”.

A tradição conta que as Sardinhas Doces nasceram da necessidade de satisfazer a insuficiência de peixe. Uma vez que, nos tempos antigos, o transporte de mercadorias era muito demorado e irregular para as regiões do interior do país, os trancosenses deram origem a esta receita para adoçar a boca, enquanto o verdadeiro peixe não chegava ao município.

Segundo os confrades, as Sardinhas Doces são uma receita proveniente do Convento de Santa Clara. Mesmo após a extinção da instituição, a receita sobreviveu e manteve-se presente na tradição local, primeiro nas casas fidalgas e abastadas da vila, chegando até às famílias mais ricas que tinham condições para adquirir todos os nobres ingredientes da receita mágica. Mais tarde, popularizou-se entre os habitantes locais, “através de várias gerações de doceiras”, que atualmente produzem este doce atendendo ao passado, mas com os olhos postos no futuro.

As Sardinhas Doces de Trancoso “não são assadas, não têm escamas, nem espinhas”, explicam os confrades. É um doce conventual com a forma de uma sardinha, “sendo a massa recheada de gemas de ovos, açúcar e amêndoa com cobertura de chocolate”.

- 23 ago, 2021