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"Fico em casa" com Rogélia Maria Proença Voltar

Fique em casa. Caronte pode esperar…

 

Neste contexto de pandemia generalizada, num cenário inaudito de guerra viral, entre  invisível e o visível, o ser microscópico e o Homem, qual David e Golias, real ou invertido, pedem-nos que fiquemos em casa, em quarentena na Quaresma, pelo Bem de todos e, sobretudo, pelo sucesso do SNS, recordando que da disciplina, da obediência e da cooperação se faz a coragem e dependerão as vidas de todos os que almejamos proteger.

Se estamos conscientes de que todos viajamos neste mesmo barco, embora nem todos sejam barqueiros, sejamos humildes e sensatos e deixemos aos especialistas o saber para que, se não todos, pelo menos a maior parte dos passageiros chegue a bom porto e permaneça do lado da vida, pois Caronte pode esperar.

Façamo-lo esperar, pois. E, enquanto ele espera, façamos a nossa parte para trazer Luz, alegria, esperança, aprendizagem, enriquecimento e cultura a cada um dos nossos dias que tombam. Como diria Ricardo Reis, “Colhe o dia, porque és ele.”

Pedem-me conselhos para os leitores, mas, tal como qualquer um, posso apenas partilhar com todos a minha experiência e recordar situações análogas, tal como fiz com os meus alunos, recordando Anne Frank e o seu Diário ou o excelente filme A Vida é Bela. Assim, e como o sete é, para mim, o número mágico de um círculo perfeito, criem a harmonia que o mesmo veicula. Aqui vão, pois, sete conselhos:

• Crie um círculo de Paz: desfaça-se de tudo o que não necessita (maus pensamentos, pesos pesados que angustiam, culpas, roupas, ou materiais acessórios). Arrume e limpe os espaços físicos e não físicos da sua vida. Dê valor ao essencial, purifique a sua vida, as suas relações e os espaços que habita. Rodeie-se de verdade, boas músicas, obras de arte, flores e de tudo o que lhe traz Luz. Crie o Lugar. Medite e limpe cada canto de si e da sua casa. Dê aos seus dias um aspeto belo, organizado e apurado.
• Ame, ore, cozinhe. Parece o título de um filme, mas não é. Aprenda a apreciar pratos vegetarianos tão saborosos e saudáveis. Arrisque!
• Usufrua da Arte: Diversifique os seus interesses, esqueça velhos hábitos. Delicie-se com Celtic Woman, Pavarotti, Elvis Presley, U2, Bocceli, Bryan Adams, The Cure, Bruce Springsteen… Ouvindo uma só música quererá por certo conhecer a discografia inteira, e depois as suas biografias e contextos artísticos, se for tão curioso quanto eu… Veja filmes antigos e atuais, portugueses ou outros ou séries de outros contextos históricos, com os quais temos tanto a aprender, na Netflix ou qualquer outro canal televisivo (The Outlander, The Last Kingdom, Reign, Vikings, The Crown)… Vai, por certo, querer conhecer os escritores, realizadores e atores e os seus comentários sobre os seus papéis: investigue, pesquise… saiba mais. Leia, muito e em qualquer lugar. A leitura faz-nos viajar, viver as vidas das personagens, refletir e apreciar a essência poética dos dias. A leitura estrutura o pensamento e permite-nos um espírito crítico e consciente sobre tudo o que nos rodeia. Aprecie a pintura e outras obras de arte. Faça visitas virtuais aos vários museus mundiais. Eu, pessoalmente, aprecio os Impressionistas e Claude Monet, em particular.
• Aprenda uma outra língua: Latim, Francês Inglês, Italiano. Siga uma pista e investigue. Há vários cursos disponíveis online. Eu decidi aprender Gaelic, depois de ver The Outlander e de perceber as várias semelhanças entre aquela língua e o Galaico-Português. Rejuvenescemos sempre que continuamos a aprender e a seguir hipóteses de investigação.
• Seja criativo: produza, escreva, crie um blogue, seja proativo. Escreva um diário, desenhe, pinte, cante, repare, reconstrua, reedifique.
• Ligue-se mais à Terra, à Vida, à Natureza. Plante algo, flores, plantas, frutos, legumes, por si, pelo mundo. A Primavera está no ar e os dias luminosos e soalheiros lembram-nos a Beleza da Natureza em pleno renascimento. Contribuamos para este processo interior e exterior, para podermos merecer tudo de novo. Cultive.
• Viaje ao Passado e ao Futuro, mas viva no Presente: “Carpe Diem”. Veja fotografias antigas, reencontre-se consigo e sonhe os dias futuros. Há tanto do que vimos naquilo que hoje somos e sempre seremos! Plante amizade também e ligue-se a quem o rodeia, amigos e familiares. Olhe para quem está ao seu lado, pois não voltará talvez a ter outra oportunidade de dizer o que sente a quem ama. A Vida é Agora. Não é o fim do mundo, mas e se fosse?

Na verdade, Caronte pode esperar. Mas já que “Não há melhor andar do que em casa estar”, esteja por inteiro.

 

Rogélia Maria Proença

(professora e escritora)

07.04.2020