Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Esses seres fantásticos, os professores Voltar

Em poucos dias a notícia cresceu e obliterou todos os planos que os estudantes tinham feito para o curto prazo. Era o início do confinamento a casa de muitos milhares de alunos. Os mais maduros ficaram preocupados, os outros rejubilaram secretamente pelo fim da ida à escola. Mas todos ansiavam, ao fim de um par de dias, pelo contacto com os colegas e professores.

O murro do confinamento abalroou os planos de aulas que os professores cuidadosamente tinham elaborado. Já não era possível o contacto em sala de aula. A preocupação com os alunos impede-os de descansar e buscam pela noite fora, sem cessar, formas de os ajudar.

Nesta guerra, como em todas as outras, o processo de destruição criadora é imparável. Em pouco tempo os professores inventaram uma nova forma de ensinar, de comunicar com os seus alunos, e de os apoiar nestes tempos tristes.

Os jovens descobriram novas funções para o smartphone, de instrumento de convívio social passou a ferramenta fundamental de ensino. Pelo telemóvel conseguem aceder aos trabalhos que os professores lhes enviam por email, e com ele também conseguem enviar o resultado do seu trabalho. Seja ele a resolução de um exercício de matemática, a elaboração de um texto de português, ou o de qualquer outra disciplina.

Além do email, o Skype, o Zoom, o Teams, o Hangouts, o Schoology, o WebEx, o Moodle, e tantos outros são explorados à exaustão pelos professores e alunos. E, se para as crianças a interação é maioritariamente assíncrona, já com os mais velhos a ligação é amiúde síncrona. Ao nível do ensino secundário e do superior as aulas desenrolam-se amiúde via teleconferência, de uma forma dinâmica e integradora de estudantes e professor. A surpresa é total, a adesão e participação dos estudantes é maciça. Em boa verdade, agora que estão fechados em casa, e privados do contacto com os colegas, os momentos das aulas são um escape natural para a clausura física em que vivem.

Este é um tempo de mudança, causada pela guerra contra o vírus invisível que diariamente nos ataca. E, como aconteceu com todas as outras guerras, não estávamos preparados. Nunca se está preparado. Em qualquer guerra só quem ataca é que se sente preparado e, nesta, nós jogamos à defesa. Perante o ataque há apenas a resignação ou o assumir da luta. E os professores assumiram essa luta, inovaram e foram criativos nas soluções que encontraram para ajudar os seus alunos. Nesta como em todas as guerras há heróis. Hoje todos reconhecemos o heroísmo dos funcionários dos serviços críticos da sociedade, a que todos devemos tanto, dos serviços de saúde aos de alimentação, passando pelos administrativos que garantem que todos os empregados e reformados recebam o seu salário na conta.

Mas nesta luta assiste-se também ao heroísmo dos professores, que reinventaram a forma de ensinar e aprender em poucos dias.

Nesta luta notou-se ainda uma ausência ensurdecedora, a do Ministério da Educação. Perante a migração para o digital cabia-lhe assegurar a igualdade de circunstâncias dos estudantes. Definir de que forma os beneficiários de apoios sociais podiam aceder à banda larga e distribuir-lhes um smartphone ou um portátil. Há equipamentos por menos de 150€. Haveria ainda que distribuir rapidamente cartões de banda larga. Para tal o Ministério da Educação não precisa de fazer grandes estudos, ou inquéritos, os alunos sinalizados para apoio social constam das plataformas do Ministério para o apoio alimentar e de material escolar desde o início do ano. Em lugar de ações assistiu-se ao silencio. Em alternativa o Ministério resolveu deixar, mais uma vez, a batata quente nas mãos das autarquias. Estas responderam como sempre, fazendo o impossível!

Nos últimos dias o Ministério resolveu sair da quarentena mental a que se tinha autoimposto. Para dizer “presente” bombardeou as escolas com inquéritos, em lugar de apresentar um plano de ação para apoiar professores e alunos, tanto no uso das ferramentas como no acesso às mesmas. Ora, para isso não precisamos de um Ministro, bastaria pagar a um Diretor Geral!

José Páscoa

 

 

 

- 31 mar, 2020
- José Páscoa