Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

O insulto não tem cor! Voltar

Logo após mais um simples jogo do campeonato nacional todos os holofotes do desporto mundial direcionaram-se para o estádio D. Afonso Henriques. Curiosamente trata-se do fundador do país que mais contribuiu para a miscigenação mundial.

                O que esteve na origem deste lamentável episódio é irrelevante de tão repugnante que é. Nada o justifica. Agora pouco mais há a fazer do que identificar e punir responsáveis diretos e indiretos.

                Mas não será demasiado redutor reduzir este incidente a um simples ato de racismo?  De acordo com Dicionário Priberam da Língua Portuguesa este conceito remete-nos para uma atitude hostil em relação a um grupo de pessoas com caraterísticas diferentes, nomeadamente etnia, religião ou cultura. Ora, o que sucedeu em Guimarães foi um ato que incidiu unicamente sobre um dos vários atletas de cor negra. O mesmo só ganhou amplitude à escala mundial porque o agredido agiu por sua conta e risco optando por enfrentar (ou fugir?) os anónimos agressores.   

                Numa análise mais fria constatamos que, infelizmente, a ofensa e o insulto gratuito têm-se banalizado no desporto e, em especial, no futebol. É comum ver adeptos anónimos, líderes de claques ou dirigentes desrespeitarem ou colocarem em causa o profissionalismo de jogadores, árbitros ou treinadores… tudo sob uma conivência generalizada. Para exemplificá-lo basta refletir sobre: i) o número de pessoas que foram até hoje punidas por insultar um árbitro num jogo de futebol; ii) o conteúdo das sentenças, quando os casos não foram arquivados. De acordo com os responsáveis pela aplicação de justiça em Portugal o espetáculo desportivo é um espaço onde é frequente perder a qualquer ser humano perder o discernimento e partir para a ignorância. Por isso grande parte dos atos são desculpáveis… Esta perspetiva vem na senda do que afirma o sociólogo Norbert Elias segundo o qual o ser humano necessita da excitação da luta. Na sociedade atual, devido ao seu razoável nível de pacificação, escasseiam momentos para este confronto. Assim, face à ausência de disputas físicas o ser humano guerreia-se de outras formas recorrendo, por exemplo, ao insulto.

                Por conseguinte, do mesmo modo que se tem assistido à mudança de mentalidades em determinados assuntos, é chegado o momento de pôr cobro a determinados comportamentos, sem exceção. Não há mais espaço para a agressão, seja ela física ou verbal… o insulto, qualquer que ele seja, não deixa de ser uma agressão dirigida a um ser humano, seja ele jogador de alta competição ou um jovem árbitro dos quadros distritais que não faz capas de jornais.

- 18 fev, 2020
- Sérgio Mendes