Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Das duas pandemias a uma nova Educação Física Voltar

Muito antes da pandemia que vivemos atualmente, vivíamos outra da qual pouco se falava, a pandemia da inatividade física - culpa das políticas destrutivas da família dos últimos governos. O tempo que os pais passam com os filhos foi destruído, porque passam maior parte do tempo no trabalho, em filas de trânsito ou a “fazer piscinas” entre as atividades dos filhos (não necessariamente as físico-desportivas) e em casa existem as tarefas domésticas e o cansaço que os assola. O tempo dos avós, quando estão por perto, foi destruído porque as reformas são cada vez mais tardias e trabalham cada vez mais. Destruíram o espaço, pois a política habitacional não está pensada na mobilidade saudável e as brincadeiras de rua desapareceram. Depois disto, o pouco tempo livre das famílias é passado aos ecrãs, é mais fácil sossegar os filhos oferecendo um tablet ou um telemóvel. E surgem os problemas: a falta de socialização, o sedentarismo físico, mental, social e emocional, o analfabetismo motor, a obesidade e consequentemente as doenças cardiovasculares. Com o desporto de formação parado na grande maioria das modalidades desportivas, resta a Educação Física. Mas, estando a atravessar um dos momentos mais críticos ao nível da saúde, não será também um dos momentos mais importantes para uma mudança que se exige há muito na Educação Física? Creio que sim. Assim, sugiro que no primeiro ciclo, a expressão físico-motora saia finalmente da gaveta, e passe ser lecionada como conteúdo programático que é, pelo professor titular da turma em coadjuvação, ou não, com um professor de Educação Física, ou mesmo (defendo mais esta última) a criação de uma Educação Física curricular com a criação de um novo grupo de recrutamento (como o recém criado grupo 120 de Inglês no 3º e 4º ano de escolaridade), permitindo colocar meritocraticamente os professores das atividades extracurriculares (AEC´s) que asseguraram o “ensino” de Educação Física nestes últimos anos. Neste ciclo de ensino seria privilegiado unicamente o desenvolvimento das capacidades motoras condicionais e coordenativas e o ensino das habilidades motoras básicas das modalidades desportivas, de forma lúdica, estimulando o gosto pela atividade física e desportiva. Caberia ao professor do 2º ciclo, introduzir o maior número de modalidades desportivas/matérias ao seu alcance proporcionando o maior número de vivencias motoras. O método de ensino seria preferencialmente o global, ensinando os principais gestos das modalidades desportivas/matérias, aplicando-as em jogos reduzidos e/ou condicionados com regras simplificadas. No 3º ciclo a preocupação seria idêntica, procurando aprimorar os gestos técnicos fazendo uso misto do método global e analítico, por forma a aperfeiçoar as técnicas base, aplicando-as em situações de jogo cada vez mais próximas do jogo formal. No ensino secundário o aluno estaria apto para escolher as modalidades/ matérias da sua preferência, passando obrigatoriamente, em cada ano de escolaridade por, pelo menos, uma modalidade individual e outra coletiva em modo de semestre, por exemplo, ou três modalidades em três trimestres, realizando a sua “formação/especialização” desportiva ao longo dos três anos de ensino secundário. Resultado: maior motivação e obtenção de melhores classificações porque os alunos escolheriam as suas matérias de eleição, facilitando o acesso ao ensino superior, e obrigaria a um maior empenho nos anos anteriores, pois a seriação dos alunos para obtenção de vaga na modalidade / matéria pretendida seria feita com base nas classificações. Os professores de Educação Física neste ciclo seriam alocados em função da sua especialização aquando da sua formação base, ou seja, o professor especializado em futebol lecionaria a turma do futebol, por exemplo. Se não tirarmos proveito deste momento para mudarmos algo e persistirmos em manter tudo na mesma, as duas pandemias juntas trarão consequências muito graves para a saúde pública e para o futuro desportivo nacional. Que dizem colegas? Que dizem caros políticos?

 

 

 

- 24 nov, 2020
- Vanessa Nunes Gil