Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

«Catenaccio», o futebol num novo olhar por três jovens da UBI Voltar

BLOG. Filipe Carvalho, Alexandre Candeias e Diogo Ferreira são estudantes de Ciências de Comunicação na Universidade da Beira Interior e criaram um blog para falar de futebol de forma informal e desinibida, sem cair em polémicas. Um projeto de comunicação que os dois primeiros nos deram a conhecer numa entrevista exclusiva

Jornal Fórum Covilhã (JFC): Há quanto tempo surgiu o Catenaccio e de onde veio este conceito?

Catenaccio (CA) - Começámos a ter esta ideia no final do primeiro ano, porque era engraçado ter um projeto em que abordássemos o futebol através de um olhar mais informal, mas só se concretizou na fase da quarentena. Uma semana ou duas antes de sermos mandados para casa reunimo-nos para falar do projeto e já com intenção de que andasse para a frente e depois veio a quarentena e com mais tempo livre foi quando apostámos e quando evoluiu mais. Ao início era mais um passatempo, mas depois começámos a definir dias certos para publicar conteúdos, com uma calendarização fixa. O impulso final foi dado por um professor que nos incentivou a criar um blogue como também ele havia feito na altura.

JFC - E quais é que são os objetivos para o futuro?

CA - Queremos os três seguir jornalismo, principalmente desportivo, e foi uma forma de entrarmos no meio ainda a estudar. Apesar de ainda não termos tanta visibilidade como outros meios, criarmos algo nosso com a nossa própria identidade dá-nos bases de responsabilidade e de trabalho, para quando chegarmos ao mercado de trabalho já termos bagagem. Acaba por ser um misto de prazer e currículo. Em relação a este projeto, quanto mais visibilidade melhor claro, mas não temos um objetivo específico definido, até porque o fazemos por gosto e não com esse sentido mais comercial ou de crescimento.

JFC - Este novo olhar que pretendem dar ao futebol, no que consiste?

CA - É mais focado no que se passa dentro de campo, para começar. Tentamo-nos afastar de tudo o que se passa fora de campo. Vemos isso como uma parte menos importante do futebol. O árbitro é parte fundamental do futebol, mas já se fala em demasia disso e não da forma correta.

 

 

JFC - Apostam em manter diversas rubricas dentro do vosso espaço. Falem-nos um pouco mais sobre elas.

CA - Temos a do «Perfeito Desconhecido» em que tentamos pegar em jogadores sem visibilidade e analisamos o seu percurso e carreira, tentando projetar até onde é que podem chegar no futuro. Jogadores que nos interessam e que merecem mais visibilidade e projeção da que têm. Depois temos a do “Suplente de Luxo”, onde damos espaço a amigos e pessoas com opiniões válidas para darem a sua opinião no nosso blog, para chegar a mais gente também.

JFC - O futuro do jornalismo, principalmente o desportivo, está no online?

CA - O jornalismo ainda assenta muito no papel, eu ainda compro o jornal em papel todas as semanas por exemplo (Alexandre). No entanto, online está a ganhar preponderância e acreditamos que aumente sempre, até porque o simples facto de termos tudo atualizado na palma da mão através de um clique é muito aliciante para o leitor comum. No caso do futebol, qualquer pessoa que acompanhe um clube ou um jogador, quer sempre estar atualizado no momento sobre como correu e ter mais informações imediatas, coisas que apenas o online consegue trazer.

JFC - Dentro do jornalismo o que mais gostariam de fazer?

CA - Eu ainda não tenho bem a certeza se quero jornalismo a 100% ou se me aventuro por outras áreas da escrita que também gosto muito. No entanto, sendo-o gostaria de chegar a um meio de comunicação desportivo como a Sport TV, embora não seja grande apologista de canais privados (Filipe). Para mim a área ideia também seria o desporto, e apesar de também preferir televisivo também me imagino no jornalismo escrito, dando preferência ao desporto, mas sempre aberto a trabalhar noutras áreas (Alexandre).

JFC - Qual é a vossa opinião em relação à ligação entre o jornalismo regional e da evolução do desporto nas próprias regiões?

CA - A iniciativa tem de partir muitas vezes das pessoas e dos meios da terra em questão. É preciso promover as regiões de forma personalizada. Em Inglaterra há a mentalidade de se ser do clube da terra, enquanto que em Portugal, para além dos três grandes esta identidade só se sente isso no Guimarães e no Braga, e estamos a falar só do principal escalão. Apoiar o clube da terra, nem que seja indo ao jogo e pagando o bilhete, já vai dar outro impulso e alento a esses clubes, algo que cá não acontece. Um dos três grandes vai jogar seja onde for e há mais pessoas com cachecóis desse clube grande do que com o do clube da terra, mesmo que sejam de lá.

JFC - O que acham de programas futebolísticos apenas analisarem três clubes numa realidade futebolística tão vasta?

CA - Não é por uma equipa ter mais adeptos que se torna mais importante que outra. Pode até ser mais forte dentro do campo, mas isso não deve influenciar a abordagem que lhe é dada, até porque o ser mais forte dentro de campo não se devia medir pelo número de adeptos nem pelo poderio financeiro. O Canal 11 tem começado uma abordagem diferente e interessante, mas tirando isso e se andarmos dois anos para trás via-se três comentadores, um de cada um dos três grandes, a falarem sobre os seus jogos e às vezes se calhar o melhor jogo do fim-de-semana até era um Rio Ave vs Vitória de Guimarães, mas disso não se falava. Ainda não estamos a caminhar para o modelo inglês, em que se analisam todos os jogos de igual para igual, mas já começamos a ter comentadores que são pessoas que estão ou estiveram recentemente no desporto, algo que em Inglaterra já era comum e cá está agora a começar. Além disso, o Campeonato de Portugal principalmente está a ganhar mais relevo finalmente.

JFC - Qual a vossa opinião relativamente ao regresso de público às bancadas? O futebol afinal é cultura ou não?

CA - Achamos que deveria voltar, embora claro com a lotação mais reduzida, como por exemplo fazem em França e na Alemanha. O futebol é esquecido e esquecem-se que é um desporto em que os clubes continuam a ser empresas e que se lhes retirarem as suas receitas-base, principalmente aos clubes mais pequenos, como qualquer empresa começaram a fechar-se portas, até porque há clubes que dependem imenso das bilheteiras financeiramente. Há clubes que já estavam mal e que agora podem cair definitivamente. Além disso, o número de pessoas que vai ao futebol é ridiculamente baixo. Há estádios onde mesmo sem Covid-19, a plateia não atinge essa lotação reduzida sequer. Podem conseguir até colocar-se os mesmos adeptos que normalmente iam ao futebol a ir novamente nesta fase, porque eles não iam em grande número já antes. E sim o futebol é cultura e está enraizado na nossa cultura também, é as duas coisas. Em Portugal costuma-se dizer que é só futebol, fado e Fátima. E de facto é muito por aí que vamos.

JFC - Para terminar, o jogador e treinador que mais marcaram cada um de vocês?

CA - Alex Ferguson e Pablo Aimar (Alexandre). Diego Simeone e Puyol (Filipe).

- 06 out, 2020
- Fernando Gil Teixeira