Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Vivemos uma pandemia e tenho uma idade avançada... e agora? O que faço? Voltar

De repente, tudo mudou... um vírus desconhecido espalhou-se pelo mundo deixando um rasto devastador por onde vai passando. Quando as notícias sobre a pandemia começaram a invadir televisões, jornais, redes sociais e conversas, começámos, logo aí, a sofrer por antecipação, mas, também, a preparar-nos e aprender sobre como reduzir o seu impacto. O que era importante, no mundo, na vida, na saúde, de repente, deixou de o ser, as rotinas mudaram, as ruas passaram a ser sítios fantasmas, sem pessoas e com portas fechadas...de cafés, lojas, Igrejas...  Será real? Será um filme de ficção científica? É uma situação a que muito poucos passaria pela cabeça que algum dia viveríamos.

 

E aqui estamos, a viver esta inesperada forma de estar, à espera de voltar à normalidade e/ou a uma “nova normalidade”, em que todos somos obrigados a conhecer, além do direito de tomar decisões, o dever de cidadãos de ter uma atitude responsável para cuidar da própria saúde e também da saúde pública.

 

O impacto psicológico desta pandemia é bem visível na pressão psicológica, que gera um aumento da ansiedade, depressão, dificuldades de sono, agravamento de doenças,  problemas familiares, entre outros,  relatados em diferentes estudos e relatórios. E será este impacto diferente nos mais velhos, os mais afetados por esta pandemia? Para os mais velhos, o isolamento pode ser  ainda mais problemático. O desgosto de não poder estar com os netos, de não poder sair, de não ter visitas  (para os que se encontram internados ou institucionalizados) tem um impacto psicológico avassalador.

Há décadas que a ideia de envelhecimento ativo tem conseguido com que as pessoas mais velhas vivam melhor, com uma maior participação na sociedade, mais implicadas nos seus cuidados de saúde, mais próximas de outras gerações. Como podemos então conciliar o confinamento a casa, o distanciamento físico e as mudanças de hábitos que esta situação sanitária nos exige com o envelhecer com dignidade?  Aqui ficam algumas possibilidades:

 

1-    Estar psicologicamente próximo.

O que nos é pedido é o distanciamento físico, não o psicológico. Podemos sentir-nos próximos de alguém mesmo estando longe. Telefonar, pensar em alguém, ver fotos, escrever sobre ou para os que nos são mais significativos, podem ser algumas formas de nos sentirmos próximos. Estar isolado não implica estar em solidão. Temos de continuar a manter, aprofundar e desfrutar das nossas relações interpessoais. 

 

2-    Manter-se ativo física e mentalmente.


O exercício das funções físicas e mentais são essenciais para a manutenção das nossas competências, sobretudo em idades mais avançadas. Não posso fazer a minha caminhada na rua mas posso andar em casa, no quintal/jardim ou simplesmente mexendo-me/fazendo movimentos. Posso não ter o jornal diário para ler, mas posso ler algum livro que tenho em casa, posso fazer jogos. Posso organizar algo, fazer planos.

 

3-    Gerir a informação


A informação sobre a pandemia, nomeadamente sobre os comportamentos profiláticos que devemos ter é essencial, mas não podemos estar horas a fio a ver notícias e programas sobre o tema. Designar um momento ou dois do dia para se ter informação é suficiente.

 

4-    Atividades que dê prazer /gozo


O que gosta de fazer e pode fazer em casa? Por exemplo cozinhar, jardinar (jardim, vasos...), ouvir música, cantar, dançar,  telefonar, olhar pela janela, estar na varanda…
Ter emoções positivas, tal como usufruir de uma boa alimentação e exercício físico, também nos torna mais fortes e resistentes, o que é muito importante, também, para sermos menos vulneráveis ao vírus.

 

5-    Participar
Neste cenário a “voz” e participação dos mais velhos continua a ser fundamental. A sua opinião e ideias e o exercício dos seus direitos e cidadania são muito necessários.

 

6-    Aprender e crescer


Estar mais por casa e sem as ocupações habituais é, também,  uma oportunidade para aprender e para se desenvolver. Aprender mais de informática, treinar alguma malha/renda nova ou que não faço há algum tempo, podem ser algumas das possibilidades. Pode, também, ser um tempo para crescer, para meditar e para descobrir sentidos.

 

Claro que nem sempre conseguimos superar e lidar sozinhos com os difíceis desafios e perdas que a pandemia nos pode causar. Os efeitos da pandemia podem ser fortíssimos e muito difíceis de superar e não podemos deixar que nos adoeçam. Caso se  sinta muito triste, sem vontade de fazer nada, sem esperança, sozinho deve expressar o que sente e pedir ajuda. Pode ligar para a linha do Serviço Nacional de Saúde  808 24 24 24, onde contará com profissionais que o irão ajudar a lidar melhor com esta pandemia com que temos de viver.

Apesar deste “inimigo” invasor em relação ao qual até o “fugir” deixou de ser uma solução de recurso, o Sol continua a nascer todos os  dias e num desses dias, esta pandemia passará a ser uma história que nos poderá tornar mais fortes e unidos.

- 28 abr, 2020
- Rosa Marina Afonso
- Professora Auxiliar na Universidade da Beira Interior, Departamento de Psicologia e Educação