Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Rewilding o que é? Voltar

Numa tradução simples, renaturalizar.

A palavra só não adianta muito, convém portanto esclarecer o que se pretende dizer com esta nova expressão vinda do mundo da conservação da natureza. Este artigo pretende explicar de forma simples o que é a renaturalização e as formas como pode contribuir para um futuro mais sustentável em Portugal.

Assim dito pode parecer complicado mas na realidade é bastante simples. Na grande árvore das ciências, um dos  ramos é o da biologia e, nesse ramo, existe um raminho mais pequeno que é o da ecologia e na sua ponta está o raminho do restauro ecológico que tem pelo menos numa das suas folhas uma abordagem nova que procura, além de estancar a perda de biodiversidade, conseguir reverter a tendência e de facto aumentá-la - chamemos a essa folhinha “renaturalização”.

Um dos princípios da renaturalização diz-nos que devemos intervir e gerir a natureza numa fase inicial para que não o tenhamos de continuar a fazer no futuro. Ou seja, se uma paisagem está degradada, e faltam espécies-chave ou estão presentes espécies invasoras, poderá ser preciso intervir para remover essas espécies invasoras e promover o retorno da vida selvagem nativa. Uma vez que essa intervenção inicial seja feita, devemos deixar que as coisas sigam o seu rumo natural, com o mínimo de intervenção humana possível.

Esta nova abordagem não se reveste de poderes mágicos, mas antes reconhece humildemente que a natureza sabe tratar de si mesma. E será capaz de o fazer ainda melhor se lhe forem dadas as ferramentas necessárias e condições de espaço e tempo para que atinja o seu potencial. Que intervenções e que ferramentas podemos então usar para renaturalizar áreas naturais? As ferramentas a que me refiro são simples na maior parte dos casos, e algumas são facilmente acessíveis e de baixo custo, podendo ser aplicadas em grande escala.

Uma dessas ferramentas é a introdução de grandes herbívoros na paisagem. Em muitas regiões portuguesas, existiram outrora espécies de grandes herbívoros que mantinham zonas de pastagens abertas, impedindo que estas acumulassem arbustos ao longo do tempo, tornando-se eventualmente em florestas. Hoje em dia, grandes herbívoros como por exemplo cavalos podem desempenhar um papel fundamental na prevenção de incêndios rurais, consumindo material combustível em grandes áreas. Os grandes herbívoros desempenham assim funções críticas tanto para os ecossistemas naturais como para as comunidades locais e são uma ferramenta-chave da renaturalização.

O comportamento destes herbívoros é, por sua vez, influenciado pelos carnívoros, que ao  perseguirem-nos para caçar influenciam onde e como os animais se movimentam, evitando que áreas sejam sobre-pastoreadas, o que afeta também a composição e distribuição das plantas, aumentando a biodiversidade nas pastagens. A predação cria por sua vez oportunidades para as aves necrófagas (que se alimentam de cadáveres de animais mortos) e que redistribuem nutrientes pelo solo que mais uma vez influencia a maneira como as plantas crescem. E tudo isto está sempre em movimento, uma natureza completa, funcional e constantemente em evolução.

Para além das ferramentas de restauro ecológico, a renaturalização é uma abordagem que também reconhece que os seres humanos fazem parte da natureza e que promove comportamento económicos com respeito pela natureza, ou seja, modelos de negócio que sejam não só financeiramente sustentáveis, como também sustentáveis para a natureza. Estes negócios podem ajudar a estimular economias rurais, atraindo mais pessoas para regiões afetadas por altas taxas de abandono rural.

A vida não será, definitivamente, como era antes pois nunca se falou aqui em reverter nada, mas apenas em dar oportunidade para que a vida seja amanhã melhor do que é hoje.

 

 

Pedro Prata

Líder de Equipa da Rewilding Portugal

- 31 mar, 2020
- Pedro Prata