Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XII
Nº: 626

Desigualdade laboral entre géneros: Um nobel para Claudia Goldin Voltar

A norte-americana Cláudia Goldin foi este ano escolhida para receber o Prémio Nobel da Economia. O Prémio foi atribuído «pela ajuda que a professora da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, deu ao longo de uma carreira iniciada em 1980 para a compreensão dos resultados das mulheres no mercado de trabalho». No seu estudo, Claudia Goldin faz uma abordagem longa à temática das desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho, procurando apreender as causas da «persistência dessa desigualdade» num  segmento temporal que vai desde o século XVIII até aos nossos dias. Trata-se, por conseguinte, de uma obra notável e, diga-se desde já, verdadeiramente dentro da realidade do nosso tempo, pesem embora as mudanças e evoluções positivas que foram sendo operadas ao longo dos tempos, sobretudo desde a Revolução Francesa, mas com evidentes avanços nas últimas décadas, com a centralidade cultural e política da questão do «género», sobretudo nas sociedades ocidentais. Com efeito, não por acaso, o Júri que atribuiu o Prémio realçou o facto de Goldin ter, com o seu longo estudo, providenciado «o primeiro registo abrangente dos rendimentos das mulheres e da sua participação no mercado de trabalho ao longo dos séculos, tendo a sua investigação mostrado as causas por trás das mudanças assim como as principais fontes do diferencial de rendimentos entre os géneros que ainda subsiste».

Estamos, com toda a certeza, perante uma obra de grande fôlego em matéria tão actual como é, ainda hoje, o tema das desigualdades de género em matéria laboral. Um tema complexo, sem dúvida, porque no seu seio alberga aspectos como o do acesso em pé de igualdade ao mercado de trabalho, as desigualdades entre homens e mulheres perante o desempenho de trabalho igual, para já não falar em outras questões, também em cenário laboral, como a violência, as diversas modalidades de assédio – sexual e moral – entre outras. Donde a necessidade de, logo que a obra desta historiadora esteja disponível em língua portuguesa, se avançar para a sua leitura, para a reflexão e o debate que o tema merece por todos nós e principalmente pelos políticos, sempre mais preocupados com a Economia e muito pouco atentos a realidades sociológicas – que se revestem também de dimensões psicológicas, estas muitas vezes com efeitos nefastos na vida, na qualidade de vida e no direito à felicidade que é, afinal, a finalidade última do nosso viver – das mulheres e dos homens. E, já agora, deixo aqui uma sugestão aos dirigentes sindicais deste pais: leiam, estudem e promovam debates sobre este livro, logo que ele esteja disponível em Portugal. Porque também aos dirigentes sindicais se aplica o apelo a que não restrinjam o seu papel à elaboração de cartas reivindicativas. É que há mais vida para além dessas matérias. Nada digo aqui de novo que não tivesse sido apanágio, significativo e riquíssimo, de muitos operários e até operárias e de muitos dirigentes operários dos primórdios da industrialização, que dedicavam uma parte significativa do seu tempo fora do trabalho para estudar, tendo muitos deles sido, como verdadeiros autodidactas, grandes leitores e até escritores, cientes que estavam de que a dimensão cultural e até filosófica era indispensável não apenas à sua formação integral mas também para inspirar o seu trabalho no esclarecimento e de ajuda à emancipação dos homens e das mulheres do seu tempo. E aqui, a História da Covilhã e do seu movimento operário constitui um manancial que pode e deve ser recuperado e estudado.

- 19 out, 2023