Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

“As associações não devem tratar apenas dos seus interesses corporativos internos” Voltar

Como surgiu esta obra?

A história desse começou há mais ou menos 4 anos, mais ou menos neste mês. Na altura, por uma questão circunstancial, desloquei me à sede da associação empresarial e conheci aí, na altura, o senhor presidente da direção, que era o senhor Henrique Gigante.

Ele deu-me o desafio de escrever a história da associação. Perante este desafio, perguntei se a associação tinha arquivo, ao que respondeu que tinha, mas estava muito desorganizado, uma parte até foi destruída por um incêndio que ocorreu na sede anterior. Vi que tinham livros de atas que estavam queimados nas margens, pelo tal incêndio, e que havia dificuldades na leitura, e mais umas coisas dispersas e correspondência.

Depois acabei por cair no museu dos lanifícios, onde existe um grande arquivo histórico. Falei com uma das responsáveis do museu e ela mostrou-me o arquivo. Pensei que seria por aí que ia começar, mas antes de dar uma respostar afirmativa, tinha já pensado qual era o esquema do livro. Não queria fazer só a história daquela associação, mesmo sendo o núcleo inicial, mas ia alargar a todo o movimento associativo empresarial desde a primeira. Isto vai enquadrar todo o movimento associativo do patronato covilhanense, excluindo a agricultura.

Foi assim que disse ao presidente e ele disse para avançar. Foi aí que comecei a pesquisa. Ele queria o livro pronto em 2020, no centenário da associação. Disse que depois me recompensava, mas eu respondi que ia fazer isto pro bono, porque gosto da pesquisa histórica e porque tenho simpatia por esta associação.

 

Cumpriu com o que prometeu?

Comecei a trabalhar e no final de maio tinha o livro na pen drive. Já tinha feito a revisão, a gráfica ainda podia fazer outra. Cumpri com o que tinha prometido e o Henrique Gigante ficou com a pen e disse-me que ia selecionar algumas fotos, para depois levar à gráfica de Castelo Branco para a impressão.

Chegou-se ao dia 20 de junho e não havia nada. Liguei para ele e não me atendia. Ele chegou a dar uma entrevista a dizer que ia ser apresentado o livro, o que não foi verdade, e disse-o sem em consultar. A obra vai-se arrastando e o livro fica na gráfica.

Ele, entretanto, acabou o seu mandato e sai da direção e foi substituído pelo atual presidente, João Marques. O novo presidente falou comigo sobre o livro, porque eu tinha razões de queixa, mas eles estavam com problemas financeiros.

Comigo o maior problema nunca foi financeiro, foi de não responder, mas eu tinha direitos de autor sobre o livro. Disseram-me que iam tentar resolver isso.

Fomos a Castelo Branco falar com o proprietário da gráfica e viemos para casa com a promessa que ia ser publicado. Isto foi em 2021. No dia seguinte, liga-me o doutor a dizer que já não iria ser editado. Havia uns problemas e que o livro não podia sair.

O livro continuou na gráfica, mas, com o passar do tempo, já tinha até desistido. Até que o senhor Luís Fiadeiro não descansou enquanto não me animou para continuar. Podia ir falar com Câmara, até ele próprio podia ir ver de alguns investidores e assim a coisa podia-se compor.

O presidente da Câmara só me perguntou de orçamentos por número de exemplares. Passado uns dias ligou-me a dizer que a autarquia assumia a compra total do livro, para 200 exemplares, porque é um livro da cidade. E aqui temos o livro.

 

Como é a história do movimento empresarial na Covilhã?

Assim como as associações sindicais, há também as associações empresariais. São empresários que se juntam a uma associação ou federação para tratar de interesses específicos dessa associação. Aqui na Covilhã, a primeira associação de cariz empresarial começou em 1840.

Chamava-se Associação Fabril da Covilhã. Dediquei-lhe algumas páginas, até porque as fontes não abundavam, mas mesmo assim deu para retratar os objetivos perseguidos por essa associação e a sua evolução.

Historicamente, até ao fim da revolução liberal, em 1834, as associações eram praticamente proibidas, quer dos trabalhadores, quer da parte das empresas. Com a revolução liberal, havia que dar um impulso à atividade económica para desenvolver o país e assim surge a lei que permite a criação de associações de cariz empresarial, comercial ou fabril, não às classes trabalhadoras.

Com o desaparecimento desta associação, em 1850 surge uma outra já chamada Associação Comercial e Industrial da Covilhã.

A Covilhã, entretanto, em 1870, foi elevada a cidade, pelo rei D. Luís. E em 1889, que é o segundo capítulo, surge a segunda grande associação comercial e industrial com o alvará do mesmo rei. Era onde estavam os grandes nomes da indústria da Covilhã.

Esta associação é extinta com o Estado Novo, que acabou com tudo o que era associações. Quer operárias, quer empresariais. Para a agricultura, indústrias e comércio cria os Grémios e para os operários cria os sindicatos nacionais, os tais sindicatos fascistas.

São extintas todas as associações livremente criadas pelas pessoas, pela sociedade civil. O Estado vai tutelá-las através do Instituto Nacional do Trabalho e da Previdência.

Em 1934, aquela associação torna-se no Grémio dos Industriais da Covilhã.

 

Quando é que surge a Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor como a conhecemos hoje?

Com a Associação Comercial e Industrial da Covilhã os pequenos e médios comerciais não tinham representação. Foi assim quem em 1920 surge a dos lojistas, desta forma chamada porque era do comércio das lojas.

Esta dos lojistas vai-se transformando, com novos nomes. Em 1932, sofre uma alteração e passa a chamar-se Associação Comercial dos Lojistas da Covilhã e mais uma remodelação dos estatutos. Foi depois extinta pelo Estado Novo e criou o Grémio do Comércio da Covilhã, em 1939 ou 1940.

Em 1954, há uma alteração do alvará em que o território do grémio se alarga a Belmonte e a Penamacor. Um marco importante na história. Daqui para a frente começou a chamar-se Grémio do Comércio de Belmonte, Covilhã e Penamacor e vai até ao 25 de Abril.

Aqui, tudo o que era sistema corporativo deu lugar, de novo, às associações. Em 1975 sai o decreto que extingue todos os grémios e assim fica com o nome de Associação Comercial e Industrial de Belmonte, Covilhã e Penamacor. Há todo um período de transição. Daqui vai até 2020, ou melhor, continua ainda hoje, mas a minha história acaba nesse ano.

Pelo meio, a associação compra a sede onde está agora, uma coisa que muito se deve ao senhor Cerdeira. Com o tempo, aumenta o número de sócios, passa por diversas crises. Há também a declaração de Utilidade Pública concedida pelo Primeiro-Ministro Aníbal Cavaco Silva. Mas em 2000 ou 2001, há uma nova alteração na denominação da associação para Associação Comercial e Industrial dos Concelhos de Belmonte, Covilhã e Penamacor que é aquela que ainda hoje está em vigor.

 

A vida comercial sempre foi forte na região?

Sempre. Eu tenho no livro o aparecimento da primeira grande superfície na Covilhã, onde os associados se revoltaram, porque eram mais competitivas. Foi aí que começou a crise no comércio tradicional. Isso é história pública da cidade, com documentos.

A associação remou contra a maré e tentou até mesmo apostar no embelezamento do Pelourinho, da Rua Direita e da Rua do Centro Cívico. Essas eram as grandes artérias comerciais da Covilhã, onde os grandes burgueses iam tomar café e falar dos seus negócios.

No livro falo também dos Congressos Beirões, também da questão da luta pela capital da província onde as associações se juntaram para ganharem poder junto do Governo. Falo também da luta com os movimentos operários, da indústria dos lanifícios. Houve também a tentativa de assassinato de Nave Catalão, um industrial.

O que eu aprendi com esta história é que as associações não devem tratar apenas dos seus interesses corporativos internos. Devem abrir-se à cidade. Houve industriais da cidade que foram presidentes de Câmara.

 

Foi o livro que mais lhe deu prazer em escrever?

Foi o que me deu mais trabalho e até mais deceções com algumas pessoas, mas no fim há motivos para estar feliz e satisfeito. Mas foi o livro que mais gostei de escrever e o que mais gosto.

É um livro que retrata a cidade institucionalmente e no seu ser próprio, mas também descreve a cidade. Há coisas que ainda não foram feitas e que dariam outro livro e deixo até o repto a historiadores.

Por agora vou-me dedicar ao livro dos 50 anos dos Presos Políticos que estou a escrever em conjunto com o professor Casimiro.

- 19 out, 2023