Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XII
Nº: 626

Nem sempre ganha o Golias! Voltar

Tendencialmente, as equipas mais fortes ganham às menos fortes e este fenómeno, por norma, acontece porque o poderio financeiro e, consequentemente, a capacidade de ter recursos como jogadores, condições de treino, equipa técnica multidisciplinar entre outras condicionantes inerentes, são muito superiores às das outras equipas.

Para que o leitor tenha algumas referências, a primeira liga totaliza um orçamento de cerca de 400M€. É um valor elevado, mas com uma distribuição muito discrepante entre clubes. Vejamos, o SL Benfica tem um orçamento de cerca de 115M€, o F. C. Porto 90M€, o S. C. Portugal 65M€, o Sporting de Braga 38M€, o Vitória de Guimarães 18M€ e todas as outras têm um orçamento abaixo de 10M€.

Felizmente, o futebol não é uma ciência exata, tendo uma imprevisibilidade elevada. Assim, o orçamento de um clube não é taxativamente determinante para o seu sucesso, mas sim, a forma como são geridos os recursos, principalmente os recursos humanos.

Mais importante que o poderio financeiro, é a forma como se otimiza cada recurso, por exemplo, como se potencia a intervenção de cada jogador, em prol de uma identidade comum. Popularmente utiliza-se a expressão, “a união faz a força” e nas modalidades coletivas esta manifestação faz todo o sentido. São inúmeras as equipas recheadas de “craques”, cujo investimento financeiro para os reter nos clubes é abismal, mas desportivamente não conseguem ter rendimento para competir frente a outras menos mediáticas. Isso, sem dúvida, se deve à ausência de uma ideia de jogo coletiva, onde todos os jogadores a conseguem interpretar, acreditam nela e a executam, percebendo que é com essa ideia que estão mais perto do sucesso.

Normalmente, as equipas menos fortes que se tornam vencedoras, são equipas bem preparadas, tanto estrategicamente, como psicologicamente para a competição, não se deixando intimidar pelo ambiente de favoritismo criado à volta das equipas com mais protagonismo no espaço mediático. São equipas bem treinadas para os diferentes cenários que vão encontrar na competição, conhecendo bem os pontos fortes das equipas favoritas e encontrando estratégias para que os consigam anular. Por outro lado, sabem identificar, em contexto de jogo, os seus pontos fracos, atacando-os com critério e persistência. É, fundamentalmente, desenvolver uma capacidade psicológica para superar com persistência, paciência, criando o hábito nos jogadores de sentir conforto, dentro do desconforto causado pelo adversário.

E porque é que é difícil preparar uma equipa com menos favoritismo? Porque as estratégias utilizadas em contexto de jogo são repetidas inúmeras vezes sem sucesso, levando os jogadores a deixarem cair os seus níveis de motivação, antes que o sucesso aconteça.

 

Quando estiver a assistir a um jogo de futebol com estas caraterísticas, repare que aquelas equipas que apesar do insucesso repetido continuam a tentar implementar a sua ideia estratégica para o jogo, mais cedo ou mais tarde, surpreendem o adversário. Esta surpresa, decorre também porque aquela equipa, que inicialmente se considerou mais forte, vai ter uma precessão de facilidade competitiva e, por sua vez, vai “baixar a suas armas”, reduzindo os seus níveis de concentração.

E assim se dá a surpresa total, contudo para quem trabalha de forma séria, organizada e intencional, não existe qualquer admiração. É a preparação da competição de forma competente, levada ao mais ínfimo pormenor, que culmina num momento de sucesso.

Com dinheiro, os clubes podem comprar muito bons jogadores, todavia não garantem que compram uma boa equipa, nem vitórias!

- 12 out, 2023