Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

D. Rodrigo de Castro Voltar

No último Tear da Memória falou-se de D. Rodrigo de Castro um desses homens que já não existem, dessa gente corajosa que desbravou e ocupou terras, que lutou e deu a vida pelo que acreditava. Foi homem de quilha e de corcel, cavaleiro e poeta. Aventureiro de façanhas travadas e gravadas nas justas de Évora, soube dar ensejo à veia poética, cultivando cousas de folguar y gentilezas e desta forma se tornou num dos 286 autores do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.

  1. Rodrigo, alcaide-mor da Covilhã era descendente do primeiro condestável do Reino, Álvaro Pires de Castro, o irmão da formosa Inês de Castro. Herdou o cargo do avô, D. Fernando de Castro governador da Casa do Infante D. Henrique. Foi imortalizado por Guilhermino de Barros no romance O Castelo de Monsanto. Aí numa geografia por terras da beira, que se estendem de Quadrazais ao Tejo, encontramos D. Rodrigo de boa estatura, pele trigueira, cabelos ondulados, perdido de amores por Branca, a pérola de Alpedrinha, sobrinha neta do poderoso Cardeal D. Jorge da Costa.

Entre aventuras e desaventuras narram-se os factos que a História (a do H maiúsculo), haveria de confirmar, o combate da ponte da Zamora, onde D. Rodrigo foi ferido, a batalha do Toro, onde apesar de lutar sem igual seria feito prisioneiro, entre muitos outros episódios. D. Rodrigo acabaria por não ficar com Branca que, entretanto, faleceu devido à doença. Casaria com a melhor amiga desta, D. Maria Coutinho, filha do marechal de Pinhel, D. Fernando Coutinho.

Em 1499, recebeu a capitania de Tânger onde haveria de demonstrar, uma vez mais, a sua bravura na luta contra o rei de Fez. Ali, haveria de perder o filho mais velho D. Francisco de Castro, morto às mãos da mourama.

Pelos bons serviços, foram muitas as mercês que D. Rodrigo recebeu, tornando-se Senhor de Almendra, Castelo Melhor e Valhelhas, onde mandou edificar um convento de franciscanos, o Convento do Bom Jesus, no qual está sepultado. Foi ainda fronteiro-mor e couteiro-mor de Lisboa.

Na Covilhã, mandou edificar uma casa, que ficaria conhecida como a casa da hera, de que resta uma das janelas, devolvida à cidade em 2016. Este edifício perdurou na memória dos covilhanenses, pois era aqui que se hospedava o filho de D. Manuel I de Portugal, o Infante D. D. Luís, nas suas sucessivas deslocações à Vila da Covilhã de que era Senhor e ao que se diz por questões de coração. Foi das poucas homenagens prestadas a esta grande figura, D. Rodrigo de Castro. Foi o abrir de uma janela para a História e para a memória, que esperemos continue aberta, e assim citando Fernando Rosas “Tenhamos pois coragem de ter memória”.

- 19 set, 2023