Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XII
Nº: 626

Foi o futsal que nos uniu… Um tributo a dois enormes amigos Voltar

No dia 4 de agosto (3ª feira) interrompi a aposentação como árbitro para dirigir a final do Torneio de futsal da ARCO (Orca). Fi-lo unicamente porque não podia recusar o pedido de um amigo que, em bom rigor, me endereçou um honroso convite. Dirigir estes jogos é fazer parte de um rol de árbitros que inclui nomes como Jorge Coroado, António Marçal, Veiga Trigo e Carlos Valente... sim, esse mesmo que um dia esteve como árbitro assistente numa meia-final do Mundial-86!!!

O que a ARCO tem feito pela promoção da Orca é imensurável. Graças a esta associação esta localidade, perdida algures a sul da Gardunha, tem conseguido atrair algumas das principais figuras do futebol português ... Por aqui também passaram, entre outros, Paulo Bento, na época selecionador português, Norton de Matos ou o saudoso Neno. Ainda este verão, os olhos da pequenada brilharam perante João Moutinho. Curiosamente há cerca de três décadas era o pequeno João que corria para o campo de jogos sempre que o árbitro apitava para o intervalo ou para o fim do jogo. O que poucos sabem é que tal só é possível graças a uma outra estrela...galáctica...de seu nome Joaquim Moreira. É das pessoas mais cordatas, humildes e educadas que conheço. Podia colocar-se em bicos de pés, para ser reconhecido pelo que fez ou ajudou a fazer... mas não... o seu foco é sempre o que tem para fazer. Prefere, e sempre preferiu, ficar na sombra de um mundo decorado com holofotes. Já foi homenageado pela autarquia do Fundão.

Um simples, mas merecido reconhecimento. Quando me perguntam pela minha profissão digo que dou aulas. Não fujo da verdade... dar aulas é tentar ensinar ou promover a aprendizagem em alguém... ser professor é outra coisa. É transmitir conhecimento em cada palavra proferida, é partilhar valores em cada gesto... O senhor Joaquim é assim... um verdadeiro professor. Sabe de futebol, da vida associada e humana como poucos. E é por isso que todos são incapazes de lhe dizer não!

Para dirigir a final coloquei uma condição: queria ser acompanhado por um dos meus eternos colegas de equipa, o João Baptista. Foi o futsal e a arbitragem que nos uniu. A amizade que se estabeleceu perdura. Sei como sofre e vibra com o meu percurso pessoal, profissional e desportivo. O meu sentimento é recíproco... Mas não o faz só comigo. É assim com todos os que partilham com ele a paixão pela vida e veem nos relacionamentos interpessoais desinteressados a melhor forma do ser humano se realizar. É por isso que é um profissional de excelência, em qualquer atividade que exerça, e um colega de equipa desejado por qualquer um que tenha a responsabilidade de dirigir jogos de futsal... perguntem ao Bruno Duarte ou ao Tiago Figueiredo, com quem já dirigiu centenas de jogos. Não tenho dúvidas que partilham da mesma opinião...com ele podemos contar com um amigo para a vida. É competitivo, mas reto. Ambicioso, mas grato.

Sabe que é classificado individualmente, mas coloca a equipa acima de tudo... só uma pessoa nobre como o João tem a capacidade de juntar mais de quarenta pessoas ligadas à arbitragem num jantar de homenagem a um colega de equipa. E ele fê-lo no dia 7 de julho. Da mesma forma, só um dirigente de um nível superior como o Joaquim Moreira tem a capacidade de compreender este momento e suspender todos os jogos do torneio da ARCO agendados para esse dia. É por isso que agradeço ao futsal o privilégio que me concedeu de cruzar de pessoas como estes dois muito estimados amigos.

- 14 ago, 2023