Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 582

O Stress como um Aliado à Superação no Desporto Voltar

À medida que se aproximam os momentos competitivos, os estados mentais dos protagonistas, vão-se alterando. Alguns ficam mais apáticos e comedidos, outros mais agressivos e outros mais nervosos. Cada um lida de forma diferente com as emoções a que estão sujeitos.

De facto, as emoções existem e não podem ser eliminadas, no entanto, as situações de stress podem ter um impacto negativo sobre o rendimento desportivo, se não forem equilibradamente reguladas. Por outro lado, sabemos que emoções bem geridas e direcionadas para um significado impactante, podem ser um fator energizante, para que os intervenientes atinjam resultados elevados na sua prática desportiva.

Existe todo um trabalho que pode ser feito para que o desportista se supere, de competição em competição, de forma a desencadear emoções que o “empurrem” para o caminho do sucesso. Neste sentido, os gatilhos mentais são frequentemente utilizados pelos treinadores. E o que são gatilhos mentais? São eventos externos que despoletam um resultado emocional no praticante e que o conduzem para determinada ação.

Se nos focarmos no período pré-competitivo, percebemos facilmente que é um momento que provoca alterações fisiológicas significativas no desportista, fazendo com que as descargas de adrenalina se intensifiquem, originando, por exemplo, um aumento da frequência cardíaca. Uma das estratégias que pode ser aplicada é fazer um treino mental prévio com o desportista, no sentido de se obter um estado de consciencialização de que essas alterações vão acontecer. Outra importante medida, é levar o desportista a ressignificar essas mesmas alterações, como sendo o organismo a estruturar-se para um melhor estado de preparação, a fim de dar uma eficiente resposta aos desafios da competição.

Continuando com o exemplo do aumento da frequência cardíaca, no meu ponto de vista, é uma excelente oportunidade para fazer com que o atleta entenda que o sentimento de desconforto, pelo facto do coração estar com um batimento mais acelerado, é um aspeto muito importante para que os músculos e o cérebro estejam bem irrigados, com oxigénio e nutrientes disponíveis e, consequentemente, se crie as melhores condições fisiológicas para se atingir a alta performance desportiva. De uma forma simples, é levar o atleta a sentir os aspetos positivos dos estados de stress. Como diz o senso comum, é ver o copo meio cheio. Se quisermos reforçar ainda mais o estado emocional do atleta, podemos recorrer a “âncoras”, relembrando situações em que o estado de stress do atleta era igualmente elevado e que, ainda assim, a sua prestação foi um sucesso. No fundo, é tornar o stress, num óptimo aliado da superação.

Outro aspeto que considero fundamental é a integração de situações stressantes nas sessões de treino, aproximando-as o mais possível das emoções despoletadas pela competição. O atleta ao ser confrontado regularmente com estas situações, vai tornando o controlo das emoções um hábito. Por outro lado, nestes contextos de treino, os treinadores ou outros técnicos especializados, podem interpretar as reações dos atletas a esses contextos stressantes e ajudá-los a reagir como um potenciador do rendimento.

Se me perguntar: esta capacidade de se lidar com estados de stress tem resultados imediatos? Obviamente que não, carece de intervenções consistentes e contínuas. Essa é uma das razões que levam as equipas técnicas de nível profissional a integrar psicólogos do desporto, no sentido de colocar os atletas na sua máxima performance. Por falar em performance, é importante salientar que estas não dependem só dos aspetos físicos, técnicos ou táticos. A “forma psicológica” vai determinar se as outras dimensões vão ser exponenciadas ou minimizadas. Assim, as dimensões de treino só atingem o seu máximo potencial, se forem vistas como um todo interdependente.

Para terminar gostaria de referir que, na minha opinião, existe um outro fator determinante para que tudo isto funcione. O controlo das emoções dos atletas está fortemente influenciado pelo controlo das emoções de quem os lidera. É um facto! Comportamento gera comportamento. José Mourinho numa das suas entrevistas assumiu mesmo: “sou melhor treinador hoje do que era antes pelo controlo diferente das emoções, pela forma como enfrento as dificuldades, com mais maturidade, leva-me a ter os pés no chão."

- 30 mai, 2023