Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

AICEP e o talento no futuro Parque de Inovação Empresarial Voltar

A UBI ultrapassou os 9 mil alunos e, destes, 85% são deslocados. O que significa que 7650 são jovens que vêm estudar para esta cidade e região. Também recentemente assistimos à bênção das pastas, mais de 1000 estudantes terminam os seus cursos, e cerca de 900 são estudantes de fora do território. Se a Covilhã retivesse estes estudantes, só por este meio, em 10 anos, aumentaria a sua população em quase 10 mil habitantes.

A retenção do talento é uma ação que não tem sido conseguida com o sucesso que todos desejam, em particular os próprios autarcas que são dos poucos que a promovem. Em boa verdade, e apesar de haver alguns programas do governo que promovem a localização de empresas e trabalhadores no interior de Portugal, estas medidas não estão a funcionar. E aqui, em lugar de jogar à defesa, o governo devia de ter uma atitude clara de busca de soluções. Se o que existe não funciona, e todos vemos que não funciona, então é necessário encontrar novas formas de resolver o problema. Em lugar de continuar a defender as atuais medidas que são inconsequentes.

Estas coisas, quando funcionam, vêm-se e observam-se a olho nu. Veja-se o caso dos médicos. A recente procura da Covilhã para instalar novas clínicas e hospitais privados só existe porque há aqui um manancial de novos médicos a ser formados todos os anos na UBI. Mas só agora, e mais de 20 anos depois da abertura do curso de medicina na UBI, é que o efeito da formação de novos médicos começa a impactar a sociedade local. Bem sabemos que os médicos, além da formação inicial, precisam de fazer especialidades, o que leva tempo. Mas isto também acontece porque os médicos formados na UBI têm revelado ter uma qualidade excecional. E essa é a razão por que os investidores nesses novos hospitais procuram o território. E esta é, sem dúvida, uma forma de reter o talento que aqui é formado.

Mas a UBI tem cinco outras faculdades que têm formado licenciados, mestres e doutores de invulgar qualidade. E, no entanto, a capacidade de atrair os novos formados, de modo a suportar o aumento da população, não tem sido objeto de um investimento consistente por parte do governo. O que é estranho, pois essa seria uma excelente forma de contrariar a baixa densidade e, ao mesmo tempo, aumentar o nível médio de ordenados pagos nesta região. Sendo que, só por si, este duplo efeito seria um atractor de outros trabalhadores e empresas que ponderem deslocar-se para este território.

A forma como se pode reter o talento formado na região, e trazer outro de fora, em particular o detentor de formação superior, é pelo assumir do compromisso de criar um novo espaço para localização de empresas, na forma de um Parque de Inovação Empresarial.

Os velhos parques industriais têm o seu espaço, mas as cidades mais dinâmicas, como é o caso de Barcelona, estão a investir em novos Parques de Inovação Empresarial, em particular recuperando zonas urbanas degradadas. Como é óbvio a própria definição deste novo parque, e da sua localização, deve contemplar uma área de expansão significativa. A Covilhã recuperou a envolvente da Goldra há 20 anos, será agora a oportunidade de encontrar um novo desígnio para a Carpinteira. Estes parques empresariais são geralmente concebidos como espaços de qualidade, com zonas verdes, avenidas largas, e com espaço para localizar todo o tipo de atividades económicas. O que significa que uma grande parte deste Parque de Inovação Empresarial será focado em espaços de escritórios e de logística. A mera ambição de lançar um parque deste tipo mobilizaria novos investidores e catalisaria todo um novo paradigma de emprego, além de dar uma nova cara à Carpinteira.

Neste contexto, e para sermos sérios, um parque desta tipologia tem de ser assumido tanto pelos autarcas como pelo governo central. Pois só através de um efetivo investimento, tanto do ponto de vista das condições preferenciais para localização das empresas, como também da captação de investidores internacionais, é que um parque deste tipo pode ter sucesso. E não é possível continuarmos a pensar que apenas os autarcas têm de se preocupar com o desenvolvimento do território, pois essa é também uma competência nuclear do estado central.

A AICEP Global Parques já gere a ZILS – Zona Industrial e Logística de Sines e o BlueBiz – Parque Empresarial da Península de Setúbal, e claro o Portugal Site Selection. Este último é uma ferramenta de seleção de parques empresariais por investidores. É altura de a AICEP assumir um verdadeiro compromisso com o todo do território nacional. E porque não começar com um projeto piloto aqui na envolvente da Ribeira da Carpinteira?

- 30 mai, 2023