Hugo Cesário: “As rivalidades ficaram lá atrás”
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Como uma das coletividades mais antigas da Covilhã, o GER Campos Melo não está hoje nos melhores dias. Para detalhar este período, nada melhor do que Hugo Cesário, presidente da coletividade.
Sócio há 30 anos, desde o dia que nasceu, é agora líder de uma associação com mais de 80 anos.
JF: O que é o GER Campos Melo?
O GER Campos Melo é uma das coletividades mais antigas da cidade da Covilhã. Não é a mais antiga, mas para lá caminha. Neste momento, temos 82 anos de vida, completados no passado dia 7 de março.
Foi uma casa fundada e gerida mais por trabalhadores dos lanifícios, porque o bairro municipal é dos bairros dos mais antigos da cidade da Covilhã, onde habitavam normalmente e foram eles que fundaram o Campos Melo. Para terem um local de recreio, por assim dizer. Ainda nesse ano de 1941, foi fundada lá também a Escola Primária que teve muitos alunos, mas fechou as portas em 2001.
Temos tido muitas atividades. Tivemos atletismo, futsal. Temos o grupo de música popular, o grupo de teatro. Vamos tentar reativar a dança jazz.
Temos muitas atividades que ao longo destes 82 anos marcaram a existência do Campos Melo.
JF: Como é ser presidente do GER?
É todos os dias um desafio. Eu já fiz parte de algumas direções ao longo. Entrei para a primeira direção em 2013, ou seja, há 10 anos. Entretanto passei por várias direções.
Aceitei agora este desafio, também por que se não aparecesse ninguém, o Campos Melo estaria já em Comissão Administrativa, coisa que infelizmente muitas coletividades passam neste momento, porque já não há aquela procura. Muitas delas até têm de fechar portas. Esse sentimento pesou muito na decisão de ter aceitado este novo desafio.
O Campos Melo é uma casa que me diz muito. Andei lá à escola e sou sócio há 30 anos. Mal nasci fui logo sócio do Campos Melo, não houve escapatória. Praticamente cresci dentro daquela casa e a memória afetiva conta muito para isso.
JF: Pode explicar um pouco das atividades da coletividade?
Neste momento, e infelizmente, não são assim muitas. Tenho de dar o destaque à equipa de matraquilhos, que agora é uma modalidade que está a dar cartas, não só na região, mas também a nível nacional. Temos uma equipa boa e que tem ganho muitos prémios, inclusive o ano passado levamos atletas ao mundial, em França. É sem dúvida a atividade que mais trofeus traz para casa.
Infelizmente não temos mais atividades a nível desportivo. Temos é de vez em quando o futsal. Fazemos um torneio de veteranos e lá juntamos a malta.
Temos também o grupo de música. Mas são as atividades que temos. Agora vamos é tentar reabrir o grupo de dança jazz e o também o grupo de teatro.
JF: Os sócios participam nessas atividades?
Infelizmente já não temos aquela adesão que tínhamos antigamente. Os sócios estão a ficar já com uma certa idade, muitos já nem de casa saem. Por isso é que não podemos cingir as atividades ali só para o bairro.
Claro que os sócios são importantes, são eles que dão vida à casa. Mas temos de fazer sempre atividades que abranjam a cidade, porque os sócios, como é uma coletividade antiga, maior parte deles também já são antigos e também já não frequentam como gostariam, acredito.
JF: E os sócios, frequentam a sede?
Sim. Durante o dia, temos mais adesão, mas ainda assim só tomam lá o seu café, ao fim de semana ainda jogam umas cartas. Tentamos manter a rotina que havia antigamente.
JF: Na sua opinião, o associativismo continua a ser importante na cidade?
Claro que sim. A cidade da Covilhã tem muitas associações e é isso que dá também um bocado de vida. Agora que vêm aí as Marchas Populares, e que este ano são 10 associações, e que é um número fantástico, mostra que o associativismo continua vivo e que as pessoas continuam a querer participar na vida da cidade. Isso é importantíssimo.
Já no Carnaval isso também se viu e se sentiu que o associativismo estava vivo e que a Covilhã pode contar sempre com as associações.
JF: Como é que se estimulam os jovens para o associativismo?
É um bocado difícil. Tentamos fazer eventos que sejam atrativos a juventude. Por exemplo, quando são feitos na nossa sede, tentamos abrir mais à população, o que atrai sempre muita gente. Mas é como digo, é um bocado desviado da cidade e alguns sócios ainda têm aquela mentalidade de ser alguém novo e a pessoa não gosta não é.
Isso já se está a perder, o que é bom, até porque já temos alguns jovens a frequentar a sede. Mais do que tínhamos há 10 anos.
JF: As Marchas. É um estímulo para a associação?
Sim, até porque se nota o empenho nestes dias de preparação. Confesso que estou surpreendido. Tenho tido bastante ajuda, não só da direção, mas também de sócios de fora que querem ajudar. Querem levar de novo a marcha do Campos Melo para a rua.
A nossa associação sempre participou nas marchas antes deste interregno e alcançou vários primeiros lugares, tanto em infantis como em seniores. Isto já faz parte do Campos Melo e é bom que se reative.
JF: As Marchas também podem servir como fator de união?
Claro. São aqui três ou quatro meses de união. Não só entre a direção, mas também entre os marchantes, entre todos os envolvidos. Cria-se ali uma amizade que entre esses quatro meses somos uma família. Esse é o espírito das marchas, juntarmos as pessoas.
JF: Quais os projetos futuros?
A seguir às Marchas, vamos ter um arraial de verão. Não vamos cingir só ali à sede, mas fazer uma coisa em maior escala e uma coisa de dois dias, ao invés de apenas um. Vamos tentar requisitar um espaço lá no bairro que já há muito que era usado para esses bailes, que é o Poço Grande. Vamos tentar atrair as pessoas lá para cima e tentar que seja numa data que sejamos só nós a fazer a festa.
De resto, temos os torneios de matraquilhos, que estão sempre a acontecer. Queremos sair também com o grupo de dança jazz e com o grupo de teatro que gostava de reativar.
JF: As associações apoiam-se entre si?
Claro que sim. As rivalidades ficaram lá atrás. Agora temos é de nos unir e isso é fundamental nesta altura. Temos de ser uns para os outros e é isso que faz com que o associativismo seja uma família. A cidade da Covilhã tem essa família e é assim que tem de ser.
JF: Do que vive a coletividade?
Gostava de dizer que era maioritariamente do dinheiro dos sócios, mas infelizmente isso também já está a cair. A maior parte dos sócios são antigos e vão falecendo. Alguns saem daqui e vão para fora e não continuam a ser sócios. Mas acho que isso é geral, não só no Campos Melo.
Do que é que vivemos? Vivemos claro dos apoios que a Câmara Municipal dá e que a União de Freguesias também dá, e, claro, dos eventos que têm de ser bem trabalhados para conseguirem dar lucro.
JF: Uma mensagem para os sócios
Que continuem a acreditar em nós que nós estamos lá para trabalhar. Em prol deles e em prol do Campos Melo. Queremos tentar que a coletividade volte aos anos de ouro, com muitas atividades que sempre foi a sua imagem de marca, mesmo que nunca tenha deixado de ser. Atividades que chamem mais gente para a associação e também para o bairro municipal que cada vez mais se está a tornar num bairro envelhecido e isso dá-me uma certa pena ver isso. É um bairro onde grande parte são viúvas e há muitas casas abandonadas. Há 20, 25 anos era uma multidão, agora seja no verão ou no inverno, não se vê ninguém na rua.