Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Viagens! Alguém me perguntou se gosto de viajar. Meu Deus! Voltar

Enquanto há crianças pequenas, trabalhos escolares, compromissos profissionais, os sonhos ficam abafados, camuflados no meio do tempo, esperando melhores dias para se concretizarem. Essas foram as razões que trouxeram um pouco tarde, as minhas escapadelas, o começo das minhas viagens, os meus devaneios, as minhas descobertas

Realizar sonhos, enfrentar novos caminhos, descobrir belezas que o sonho nem sempre nos traz…. É mesmo uma delícia! O carro foge, mas ainda não alcançámos o horizonte! O sono nem surge, com o entusiasmo do coração a bater em descompasso.

E começo por recordar o espaço lindo que é a Madeira e a minha euforia, quando o avião poisou e amainou as suas asas no aeroporto do Funchal.

O meu coração deu um pulo e a minha barriga… Sim, era assim que eu comentava com as minhas irmãs quando, em miúdas, tínhamos uma coisa boa a suceder: “uma alegria na barriga”. Senti então uma alegria na barriga ao poisar naquele chão de perfumes e cores inexplicáveis. Deslumbrei-me ao ver as casinhas serra acima, como acontece na minha Covilhã. Não via o mar, só a serra em socalcos, com as moradias que se espalhavam até ao cume! Estava em casa!

E, como estava a falar em cores e odores…

Num desses dias do passeio, pela Madeira, saí do carro e corri estrada adiante… ao chamamento de tantos e tantos agapantos que se estendiam serra acima. Não posso precisar o local, mas a descoberta encheu-me de alegria e, como uma miúda – quem nem tem destes momentos – corri a rir, feliz com tanta beleza. Sim, senti-me radiante com tal maravilha!

Cada dia, novas descobertas, novos sabores, novos perfumes, muitas loucuras: o bolo do caco, que eu levei na mala para o continente; as sementes de estrelícias que eu nunca tinha visto; bananas e mais bananas que descobri nas bananeiras, por todo o lado como vejo as uvas nas videiras do Douro brilhante e belo, outra beleza ímpar, com as vinhas a espreguiçarem-se até ao rio.

Recordo e relato sempre com o mesmo frenesim os meus achados: o azul doce, suave e mágico do mar em Câmara de Lobos, a candura das águas nas Prainhas de Porto Moniz, as casinhas de fadas de Santana, a beleza enigmática do Curral das Freiras… A minha alma ficava suspensa perante tanto azul, tanto verde, tanta beleza, tanto perfume!

As bênçãos desse passeio aconteciam todos os dias. E lembro ainda o Dia do Corpo de Deus. As ruas estavam enfeitadas com uma beleza inigualável, num atapetado de flores esmeradamente desenhado, em representação de vários temas relacionados com a Eucaristia. Filmei, fotografei, corri por todos os cantos e recantos receando perder cada esquina bordada, cada tapete encantado, cada desenho sagrado em atos de louvor ao Criador. Um delírio!

Guardo cada mapa, cada recibo, cada foto dessa viagem, como uma beleza a não perder nas minhas memórias do tempo, no regozijo da recordação e no registo duma beleza sem limites, perdida no Oceano longínquo, pleno de magia, de enigmas e de azul!

- 13 abr, 2023