Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A importância do talento para o desenvolvimento de Portugal e suas regiões Voltar

É inquestionável a importância do talento para o desenvolvimento dos países e das suas regiões. O mesmo se passa em Portugal, e em particular, no seu interior profundo.

O IMD World Talent Ranking – Ranking Mundial de Talento – publicou recentemente um ensaio comparando a situação relativa de algumas dezenas de países no que diz respeito justamente a esse talento. Para a realização do estudo que, sobre o tema o IMD há poucos dias publicou, foram recolhidos dados de vários indicadores. Dos valores e informação recolhidos resulta que Portugal subiu dois lugares no Ranking Mundial de Talento ocupando agora a 24.ª posição, depois de dois anos no 26.º lugar. Tanto as empresas portuguesas como a nossa economia em geral ficaram à frente da Espanha e de Itália, países latinos e mediterrânicos como nós, que estão em 2022 nas posições 32.º e 36.º, respetivamente. Uma pequena vitória para os magriços.

A edição de 2022 do IMD World Talent Ranking com que cobre 63 países, analisou o desenvolvimento das empresas e da economia, como forma de avaliar a maturidade dos países através da criação de valor a longo prazo, com base na sua força de trabalho. Para isso, apreciou três indicadores principais: a “atratividade” (appeal), ou a capacidade de atrair talento estrangeiro e conseguir retê-lo no local; o “investimento e desenvolvimento” (investment and development), ou os recursos destinados a cultivar uma mão-de-obra local; e a “readiness”, que se traduz na qualidade das aptidões e competências disponíveis no grupo de talentos de um país. No que em termos de “investimento e desenvolvimento” diz respeito, Portugal subiu três lugares, passando de 25.º para 22.º, a nossa melhor posição desde 2018.

Contudo, a nossa melhor classificação conseguimo-la no indicador “readiness”. De facto, aqui o nosso país está em 19º. Este indicador incluí os resultados de sub-indicadores como mão-de-obra qualificada, habilidades linguísticas, e educação universitária (“skiled labour, language skills, university education”), entre outros. Portugal encontra-se pior classificado no que diz respeito à “atratividade”, pois caiu 10 lugares desde o ano anterior, ocupando agora o 40.º lugar entre os 63 países.

Sem surpresa, e a liderar o Ranking Mundial de Talento, encontra-se a Suíça que pelo sexto ano consecutivo, ocupa a primeira posição, seguida da Suécia, da Islândia, da Noruega e da Dinamarca. De salientar que a Islândia subiu, em 2018, do 16.º para o terceiro lugar e lá se mantém até agora. Como refere o relatório do IMD, “os padrões pré- e pós-pandemia em relação à fuga de cérebros não trouxeram grandes prejuízos à competitividade ao nível dos talentos dos países”; alguns até melhoraram as suas posições como por exemplo a Arábia Saudita, que ocupa a 30.ª posição depois de ter subido oito lugares desde o ano passado (2021). Foi, aliás, a economia que entre 2019 e 2022 mais aumentou no fator talento. Por sua vez, depois dos EUA, que estão em 16.º lugar, após terem baixado duas posições, foram o Canadá, os Emirados Árabes Unidos (EAU), a Dinamarca, a Nova Zelândia, Hong Kong, a Indonésia, África do Sul e a Venezuela os países que apresentaram as maiores descidas na sua forma de atrair talentos. Diz Christos Cabolis, economista chefe do WCC (Centro Mundial de Competitividade), que “a competitividade do talento no período pós-covid depende muito do nível de motivação da força de trabalho que, por sua vez, depende da remuneração, mas também da qualidade de vida e da liderança organizacional da economia”.

Neste estudo o apelo ou capacidade para atrair talento de uma economia por mão-de-obra qualificada é medido pelos investigadores através de variáveis como remuneração, impostos, custo de vida, sistema educacional, posição da economia em questões ambientais e sistema judicial justo (Ranking Mundial de Talento). Diz ainda este relatório que “no futuro, os sistemas nacionais de educação serão menos importantes para determinar a qualidade da conjunção de talentos, em consequência da globalização e indiretamente, da qualidade de vida e da sustentabilidade económica”, fatores que também serão determinantes para a avaliação da qualidade do banco de talentos. Mas, afirma ainda aquele autor e diretor do WCC, que certamente vai haver “vencedores e vencidos como resultado deste processo”. E já agora, ainda a propósito de competitividade, mas agora digital, convém referir que Portugal caiu quatro posições ocupando neste momento o 38º lugar no ranking da competitividade digital, e que no caso da competitividade global, o nosso país também caiu seis posições ficando-se agora no 42º lugar no ranking.

Como estamos a ver, neste caso, como em tantos outros rankings, a luta vai continuar particularmente entre os países do mundo ocidental e dos mais desenvolvidos em termos de talento, de educação, da mão-de-obra mais competitiva no digital e no geral, de tecnologias da informação e imagem, de ambiente, de economia verde, azul e circular, entre tantos outros que se publicam anualmente. Mas a guerra que neste domínio do talento se trava entre países para o atrair trava-se também entre regiões, incluindo nas portuguesas, com todos os concelhos a oferecer incentivos numa tentativa de tentar captar os mais talentosos, os mais competentes, a massa cinzenta, as empresas de talento, de tecnologia, muitas vezes feita por nómadas digitais e outros especialistas e inovadores. A atração destes nómadas digitais para as regiões e a medição e estudo do impacto da globalização e da mobilidade da força de trabalho na atração e retenção de talentos (por exemplo dos nómadas digitais), de artistas, de informáticos, de marketeers, e de tantas outras especialidades, são desafios permanentes à imaginação dos autarcas que estão no poder e dos que ambicionam estar. E não há dúvida que é importante, e até imperativo, estarmos todos, países, regiões e até empresas, bem posicionados nestas listas ordenadas pois das posições em que nos encontrarmos poderá depender o nosso futuro e o do nosso país tanto na EU como no mundo. E, desta vez, não queremos perder mais este o comboio, o do desenvolvimento económico e social.

- 22 mar, 2023