Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A paz, o pão e a habitação, nestes dias da ira! Voltar

Em tempo de uma guerra que não dá sinais de amainar e muito menos de terminar, os povos do Mundo e os de Portugal em particular, os mais desfavorecidos, os deserdados do Pão, da Paz e de uma Habitação digna – refiro-me a essa habitação onde vivam famílias felizes e não, como em muitos casos, coexistam montes de pessoas que não se conhecem ou mal se conhecem, para gáudio da gula de senhorios que, eles próprios ou uns quantos «ideólogos» de pacotilha ou de cartilha por eles, legitimam essa avidez imparável de sempre mais “rendas”, com a sacrossanta “lei dos mercados” – esses povos, esses deserdados, d’além e daqui, desataram a sair à rua, em grande número, sem parar, em “Lutas Justas”, a essa Rua que é «lugar comum», um dos poucos bens comuns que ainda nos pertence, pelo menos até que as necessidades e urgências do PIB e do «défice e da dívida», que urge combater, o permitam e os que mandam inventem assim uma espécie de Imposto Municipal sobre o Espaço (IME), com o que, de uma assentada só, atenuam o «défice» e a dívida e desarrumem os deserdados do espaço que por ora ainda lhes pertence.

Esses muitos estão (re) tomando na Rua aquelas palavras, poucas mas carregadas de enorme significado e cortantes como punhais, que num «outrora» ainda não muito longínquo invadiam e enchiam o espaço que era de todos, mas que agora parece haver ameaços de que sejam apropriados pelos papões dos Vistos Gold e dos benfazejos do Alojamento Local, estes ansiosos de uma Cidade «limpa», confortável, só sua e dos endinheirados, atraente de milhões muitos para gáudio dos mandantes ( que rima com governantes…). De facto, urge desalojar a Cidade dessa gente que cheira mal e que não tem dinheiro para mandar cantar um cego! E que os que dormem nos vãos dos prédios nas noites frias ou debaixo das pontes ou aquedutos que suam água pelas rachadelas, para nossa vergonha e mal das nossas Finanças, sejam mandados para fora dessa Cidade de que, mentindo descaradamente, alguns propagandistas e «humanistas» afirmam «urbi et orbi» que afinal é de todos!

Paz, Pão, Habitação! Ei-las que regressam nestes dias sombrios que ameaçam transformar-se em Dias da Ira, se aqueles sobre cujos ombros e legitimidades alcançadas pelo voto periódico ( porque se o voto fosse todos os dias, todos os dias tomaria posse um novo governo) não se recordarem que a sua tarefa principal é o cuidado de todos, a começar pelos mais fracos e deserdados, cumprindo e fazendo cumprir o estatuído na Constituição, sobretudo no que toca ao Pão, á Paz e à Habitação, pois que urge tornar realidade o que se estatui nessa carta Magna. Ou já se esqueceram da discriminação positiva?

Os povos d’aqui, os deserdados, não querem viver na abundância – esses que assim vivem trazem muitas vezes no bojo a raiz da injustiça e das desigualdades, que nem o Índice de “GINI” consegue traduzir com o primor geométrico que é a sua ambição. Tudo ilusão. Tudo mentira. Tudo engano para iludir os deserdados da Rua que sonham com uma casa e só lhes oferecem um  tugúrio de uma divisão só, por muito mais de 1000 euros de renda mensal e mais uns quantos de avanço! E tudo em nome da sacrossanta Lei dos Mercados, que, longe de ser para o Homem faz com este seja para os Mercados ( vejam só como são divinos estes Mercados!).  É verdade que na Constituição, lado a lado com o Direito à Propriedade, mora o Direito á Habitação. Mas como conciliar estes dois direitos? Ninguém se detém, neste país de elites mentecaptas, incultas e estupidificadas pelo culto do «bezerro de ouro», ninguém, entre os iluminados do «neoliberalismo» dos Mercados Auto-Regulados pela chamada «mão invisível dos mercados» (essa «mão» que nunca ninguém viu, nem podia ver por ser invisível, mas que é de grande utilidade para os senhores do mundo), ninguém se quer ocupar de tais matérias mundanas. Entretanto, para engodar a multidão dos pobres e dos que para lá caminham, acenam, em promessas vis e mentirosas, com o regresso do «Elevador Social»! Sim, isso é capaz de existir, pelo menos para aqueles que nele se comprazem e se apresentam «às massas» como «os mais capazes». Resta elucidar que são os mais capazes «do quê»…? Agora, digam que eu sou invejoso!

- 16 mar, 2023