Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Governação local: a qualidade de vida como prioridade Voltar

Todos desejamos ter qualidade de vida. Embora o conceito seja difícil de explicar, todos intuímos, com facilidade, o seu significado. Gostamos de nos sentir bem em casa, no trabalho, na cidade e nos territórios que percorremos. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) a definição de qualidade de vida é “a percepção que um indivíduo tem sobre a sua posição na vida, dentro do contexto dos sistemas de cultura e valores nos quais está inserido e em relação aos seus objectivos, expectativas, padrões e preocupações.” No fundo, as pessoas desejam ter satisfação na sua vida de todos os dias. E esta é uma questão essencial que tem vindo a ganhar importância política no quadro da governação local, sobretudo ao nível da avaliação que os cidadãos fazem das políticas públicas implementadas por quem os governa. A exigência em relação aos indicadores de qualidade de vida tem vindo a aumentar devido ao facto dos cidadãos estarem mais atentos, preocupados e activos em relação à qualidade de vida que usufruem nos territórios e em particular nas cidades. Pode-se dizer que os “utilizadores” dos territórios e das cidades estão mais exigentes e ainda bem. É também por isso que os políticos que desejam ganhar as respectivas eleições têm que se dedicar a esta matéria com outra atenção e cuidado para não defraudarem as expectativas criadas em sede de campanha eleitoral. Longe vão os tempos em que se prometiam obras faraónicas e se lançavam “chavões” com promessas eleitorais de encher o olho. Num mundo globalizado e com uma tendência de concentração da população nas cidades é fundamental que a governação local seja verdadeiramente competente na avaliação da qualidade de vida da geografia da sua área de actuação para que possa desenhar estratégias e soluções que vão ao encontro das necessidades das pessoas. Os desafios são enormes. E nosso caso, na geografia da interioridade, é exigido um esforço acrescido na gestão do equilíbrio entre as dimensões rural e urbana para que ninguém fique para trás. As mudanças acontecem a uma velocidade vertiginosa. Por isso, os municípios têm que as saber acompanhar para que possam, através da gestão da causa pública, proporcionar qualidade de vida aos seus munícipes, aos que estão e aos que poderão vir em função da sua capacidade de atracção. A geografia da interioridade precisa de gente, como sabemos. Neste sentido, é de louvar todas as tentativas de atracção de novos cidadãos, independentemente da sua origem. Num tempo novo, cabem os que estão e todos os que virão, sejam refugiados, migrantes e todos os outros que, por diversas razões, decidiram vir para os territórios da nossa geografia para começarem ou recomeçarem as suas vidas. Na nossa casa comum devem caber todos, nomeadamente quando sabemos que precisamos de todos para reconstruirmos o que fomos perdendo ao longo de décadas com o avanço perigoso da desertificação e do envelhecimento. Mas para desenharmos futuros com todos temos que saber acolher e integrar. Temos que saber planificar cidades e territórios de liberdade e de responsabilidade onde verdadeiramente todos os caminhos individuais e colectivos se possam cruzar em paz e harmonia. O tempo do futuro remete-nos para moisaicos culturais que temos que saber encaixar, maximizando o melhor de cada um na construção da desejada qualidade de vida no chão que todos pisamos, independentemente dos nossos lugares de origem, próximos ou distantes, e também da nossa condição social, religiosa ou económica. No desenho das estratégias da governação local têm que caber os novos desígnios para além da satisfação das necessidades básicas que sempre estiveram em cima da mesa. Na actualidade, as políticas públicas têm que integrar e articular para poderem dar respostas individualizadas a questões muito específicas. A exigência, naturalmente, é maior. Por isso, só com políticos que conhecem e acompanham a metamorfose dos tempos e também com estratégias de governação local à altura podemos ter esperança num futuro com qualidade de vida todos onde todos possamos ser felizes. Os tempos são cada vez mais exigentes e as escolhas de cada um de nós têm cada vez mais responsabilidade e impacte no desígnio comum. O futuro está, por isso, nas mãos de cada um de nós e, sobretudo, em tudo o que podemos e devemos fazer por ele.

- 28 fev, 2023