Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Distribuir a riqueza criada é urgente! Voltar

Há quem (não é o meu caso) considere que o lucro é o alfa e o ómega de uma “boa” gestão e, na decorrência desta errada ideia, esses batem forte e feio em que denuncia os lucros excessivos que derivam, muitos deles, da especulação, do abuso nos preços, da falcatrua, da corrupção, da formação de cartéis, da falta de controle do governo e da subserviência com que o poder político (governo) se subjuga ao poder económico, em especial aos grandes grupos económicos, permitindo-lhes tudo para eles atingirem os seus fins gananciosos, desumanos e predadores, aprofundando as desigualdades sociais, lançando na pobreza milhões de pessoas e destruindo inúmeros micro, pequenos e médios empresários.

Eu, não escamoteio a necessidade de as empresas terem lucro, mas não o endeuso, não o elevo à categoria de único meio e fim da actividade económica e afirmo que uma boa política económica é aquela que garante resultados económicos e financeiros positivos, mas que, simultaneamente, promove a justa e equitativa distribuição da riqueza, combate as desigualdades sociais, garante a coesão territorial do país e coloca a economia ao serviço do desenvolvimento do país e do bem estar das pessoas e não o país e os portugueses ao serviço dos interesses do poder económico.

De que vale o governo vangloriar-se do crescimento económico do país e da diminuição da divida quando a maioria dos portugueses e em especial os trabalhadores estão muito mais pobres? Não se vangloriem porque se estes estão mais pobres e a economia cresce é porque alguns estão muito mais ricos!

De que vale tanta satisfação quando há cada vez mais pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza e há cada vez mais trabalhadores a empobrecer a trabalhar? Sim! Os salários são miseráveis, as actualizações verificadas significaram perda de poder de compra, pois ficaram abaixo da inflação, e o salário médio aproxima-se cada vez mais do salário mínimo. Somos um dos países da União Europeia onde a distribuição do rendimento entre trabalho e o capital é mais injusta, em desfavor do trabalho.

De que vale a propaganda do sucesso quando milhões de pessoas, em especial reformados, têm de optar entre comida e medicamentos e, neste Inverno frio, deixam de ligar aquecedores por não terem dinheiro para o gás, a electricidade e até para pagar a renda ou a prestação da casa? Sim! O governo praticou um embuste e um roubo às pensões e reformas, cuja actualização ficou abaixo da inflação e violou a legislação em vigor, diminuindo a base para as actualizações futuras.

De que vale falar de uma economia de nova geração quando as novas gerações, os nossos jovens, sendo os mais qualificados, são lançados na precariedade, nos baixos salários, na desqualificação e na emigração?

Esta é a realidade de um povo que empobrece ao mesmo ritmo acelerado com que uma minoria enriquece e se empanturra à custa da miséria de um povo e do erário público.

E, se assim é, por que razão o governo, e também a União Europeia, não tomam medidas eficazes e justas para travar tanta injustiça e tanta indignidade?

Por duas razões muito simples: i) Por um lado por opção de classe. Sim! O poder político vigente em Portugal e na UE está ao serviço do capital económico e financeiro e dos senhores da guerra e contra quem trabalha e contra a paz; ii) Por outro lado porque a especulação dos preços traz lucros adicionais para o capital e receitas extraordinárias para os Estados que, de novo, devolvem aos grandes grupos económicos (as micro, pequenos e médios empresas estão fora disto) em envelopes cinicamente chamados de “apoio à economia”.

Aliás, algumas medidas são de eficácia muito duvidosa e até são perversas.

É o caso da chamada taxa sobre os lucros extraordinários, pois, na minha modesta opinião, esta medida não promove o abaixamento dos preços dos bens energéticos e dos bens alimentares. Pelo contrário, esta medida pode alimentar, a escalada de preços, já que com os aumentos dos preços e com ela o governo arrecada mais dinheiro em IVA, IRC e outras receitas.

É também o caso do IVA, pois, sendo, como é natural, a favor da sua redução e até da sua eliminação em determinados produtos, considero que só há um verdadeiro abaixamento de preços e poupança para os consumidores se à descida do IVA se associar a correspondente redução do preço dos produtos. Se assim não for, a descida do IVA vai direitinha para quem vende e o consumidor final continua a pagar o mesmo.

Vivemos num tempo em que a propaganda, a manipulação, o cinismo político e a mentira andam de mãos dadas e em que a consciência critica e a acção colectiva são criticadas e até amordaçadas. Estes são tempos difíceis, mas, simultaneamente, são tempos desafiantes e motivadores para a luta de transformação económica, social, cultural e ambiental. 

Uma nova dinâmica cívica está a crescer e uma nova esperança está a florescer.

Sejamos protagonistas deste novo tempo!

P.S.: Após escrever este texto confirmou-se que o governo falhou com o compromisso de até 15 de Fevereiro decidir sobre o que irá fazer com as Portagens na A23, A24 e A25. É lamentável, mas é infelizmente verdade!

- 22 fev, 2023