Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

O mundo pula e avança Voltar

O poeta Gedeão escreveu e o cantor Manuel Freire cantou:

“Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida.

Que sempre que o homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança”.

Lembrei deste poema porque, para mim, tudo começa num sonho, numa ideia, num objectivo e a partir daí nasce a necessidade de passar do sonho, da ideia e do objectivo à acção e à luta para serem realidade.

Às vezes há quem diga que há sonhos que são uma utopia. Talvez assim seja, mas não será verdade que tudo começa por uma utopia? Não foi a partir de um sonho dos homens e mulheres, muitas vezes utópico, que o mundo foi mudando e avançando? Estou convencido que foi graças aos utópicos que partiram para a acção e para a luta que foi possível ir transformando os sonhos em realidade. Que vivam os sonhadores, que vivam os utópicos! Eu sou e gosto de ser utópico, sem cura!

Ao fazer esta reflexão penso nas lutas mil que se desenvolvem neste Portugal mil vezes adiado e mil vezes enganado.

Penso na luta dos professores pelos seus direitos em defesa da Escola Pública e, sim: penso na degradação da escola pública para promover os privados e penso no ataque que veladamente está a ser feito ao direito à greve, a pretexto de alguns truques que devem ser combatidos e reprovados. Por isso, saúdo a atitude responsável e serena da FENPROF e dos seus sindicatos e também saúdo o excelente e responsável dirigente sindical que é o Mário Nogueira, tão vilmente atacado.

Penso em tantos e tantos trabalhadores de tantos sectores de actividade e empresas e da administração pública central e local que lutam pela melhoria dos salários, pelos seus direitos laborais e sociais, contra a as desigualdades e a pobreza e pela dignidade e contra a chantagem, a repressão e o assédio moral.

Penso nos reformados e pensionistas que estão a ser roubados na sua pensão, vivendo, muitos deles, abaixo do limiar da pobreza sem dinheiro para pagar medicamentos, alimentação, renda de casa, transportes, e demais despesas de subsistência.

Penso nos imigrantes que, amesquinhados, discriminados e explorados sem só nem piedade, são usados para a propaganda cínica da caridade e para fazer baixar os salários, mas que, ainda assim, se vão juntando à luta pela dignidade que é uma luta deles e de todos nós.

Penso nos profissionais de saúde e nas populações que lutam pelo seu centro de saúde, pela manutenção das valências e especialidades, por exemplo, as maternidades no seu hospital, e em defesa do SNS.

Penso nos profissionais da justiça que lutam por uma melhor e mais acessível justiça para todos.

Penso nos agentes das forças de segurança que lutam pela dignificação da sua função para melhor servirem e defenderem a população.

Penso nos trabalhadores das artes e da cultura que resistem e lutam por melhores condições para a criação, a fruição e a democratização da cultura, garantindo o seu acesso a toda a população, seja do Litoral ou do Interior mais profundo.

Penso nas populações que não desistem do Desenvolvimento do Interior e que querem a Regionalização e a Beira Interior e que, persistentemente, lutam Pela Reposição das SCUTs na A23, A24 e A25 e que no dia 25 de Fevereiro se deslocam em Embaixada a Lisboa.

Penso nos ativistas ambientais que, tantas vezes incompreendidos, lutam denodadamente pela defesa do ambiente, pela preservação da natureza e contra o esventramento das serras e a poluição dos rios e dos mares e que nos alertam e apelam para a urgência de lutarmos contra as alterações climáticas e pelo futuro da humanidade.

Penso nos que, discriminados em função da opção partidária, da raça, da etnia, do género, da religião e da opção sexual, lutam pela igualdade plena e pelo direito a viver com a sua diferença e no respeito pela diferença do outro.

Penso nos que, mesmo contra a corrente e o pensamento dominante, continuam a dizer e a defender a paz contra a guerra, a negociação contra os mísseis, a diplomacia contra a beligerância.

São mil muitos mil os que todos os dias lutam. Nem todos estão no centro da notícia e nem todos têm honras de abertura dos telejornais e de chamada de primeira página, mas são todos estes muitos, muitos mil que todos os dias travam malfeitorias e derrotam acordos traiçoeiros feitos na concertação social, pois sabem que travando já estão vencendo.     

E porque lutam este mil, muitos, muitos mil?

Lutam porque se sentem desiludidos e revoltados com o 1º Ministro, António Costa, que engana, ilude e não cumpre com o que promete e com o que anuncia e que adia e engana Portugal. Quem o ouve a ele e aos seus ministros e secretários de estado leva com uma overdose de milhões que nunca chegam aos que verdadeiramente precisam para irem directamente e sempre para os bolsos dos grandes senhores do dinheiro e das negociatas e muitas vezes para a corrupção e os corruptos.

Por isso, estes muitos, muitos mil, que lutam todos os dias, vão fazendo acontecer transformações e mudanças que são sementeiras de esperança e confiança no futuro.

- 25 jan, 2023