Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Os “artistas” que fazem parte deste jogo Voltar

Os jogos das provas distritais de futebol do passado fim-de-semana ficaram marcados pela implementação da campanha "Fazemos todos parte deste jogo".

Esta iniciativa, promovida pela APAF com forte apoio dos árbitros dos campeonatos profissionais, tem como principal objetivo sensibilizar todos para a importância da figura do árbitro. Ele é o último garante da verdade desportiva e um dos principais responsáveis pela boa gestão do jogo. É graças ao seu contributo que se realizam semanalmente cerca de 10 mil jogos um pouco por todo o país. 

Durante os jogos os holofotes estão, e devem estar, centrados nos verdadeiros artistas, o Diogo, o Rúben, o João, o William, o Bernardo, o Gonçalo…  Próximo destes existe um outro conjunto de “artistas”. Com a diferença de que tudo o que desejam é passar discretos. Os mesmos têm nomes próprios, apelidos, família e vida própria… que condicionam devido a uma paixão tremenda pelo jogo… é esta razão do coração que a razão desconhece que motiva estes “artistas”. O seu contexto é comum embora cada um tenha a sua idiossincrasia.

Poucos sabem que, a nível nacional, por cada árbitro há cerca de 50 de jogadores filiados o que obriga a que, em média, cada um deles realize, semanalmente, 3 a 4 jogos. Não têm tempo para almoçar decentemente pois este período é dedicado à viagem entre recintos desportivos. Não querendo de modo algum desculpabilizar um eventual desempenho menos conseguido é compreensível, face ao exposto, que no último jogo um destes “artistas” não tenha a sua melhor performance.        

Mas, para melhor os compreendermos, vamos apresentar a história de alguns dos nossos artistas. O Ângelo é operário têxtil e tem um forte sentido cívico. É um acérrimo defensor dos direitos dos trabalhadores. Tem mais de 40 anos e metade deles são dedicados à sua grande amante… a arbitragem. O Tiago é professor. Por isso passa o seu dia-a-dia deambulando entre escolas. Ao anoitecer é responsável por orientar os treinos dos seus colegas. No fim ainda lhe resta um pequeno tempo para se dedicar à sua companheira e a pequena filhota. O António adora futsal. Tem 20 anos, estuda na UBI onde é um aluno exemplar. Treina 5 vezes por semana, duas em ginásio, outras tantas no centro de treinos e outra individualmente. Além disso é dos “artistas” locais que mais investe na componente teórico prática.  O Daniel é recém-casado. Trabalha numa empresa do setor automóvel. No final do dia ainda arranja tempo para treinar. Fá-lo todos os dias. Intercala o crossfit com o centro de treinos. Em breve será pai. A Samuel é outro exemplo. É a humildade em pessoa. Compensa as fragilidades teóricas com uma dedicação de fazer inveja a muitos colegas O Hélio é outro decano. Quis o destino que a sua carreira não tivesse atingido os patamares que merecia. Mas não desistiu. Continua a sonhar e a trabalhar como no dia em que se tornou árbitro. Por fim temos o André. Um jovem engenheiro que cresceu numa família ligada ao futebol. Apaixonou-se pela arbitragem o que lhe trouxe problemas familiares… e tudo porque manteve sempre o seu caráter. Para além destes “artistas” há outros 3000, em todo o país. O Artur, o Luís de Borba, o Manuel de Braga, o Fábio de Leiria, o Cristiano e o Ruben do Porto… todos eles são humanos e, como tal, têm a sua rede de amigos. Aliás, alguns são seus conhecidos, e amigos…

O problema é que eles também são conhecidos, não amigos, de outros “artistas”. Aqueles que não gostam de futebol. Os querem que a sua equipa ganhe, a todo o custo… são os intolerantes, aqueles que optam pela violência como meio para atingir os seus fins. Foram eles os responsáveis materiais e morais pelas 12 agressões desta época. Sim, tanto é culpado o “artista” que molestou fisicamente como o “árbitro” do Tribunal Arbitral de Desporto destilou o seu ódio clubístico e insultou os mais de 3000 de portugueses que exercem a “arte” de arbitrar.

- 24 jan, 2023