Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

“Todos os livros têm um ensinamento distinto” Voltar

Quais as diferenças entre esta obra e a anterior?

A diferença surge logo na própria temática do livro, a morte. Um tema em que a sociedade insiste em camuflar. Nos livros anteriores, abordei matérias talvez mais recetivas à comunidade em geral, porque o amor de família ou o medo da ida ao hospital são assuntos comuns do nosso quotidiano. Já o tema da morte muda muito de figura. Simplesmente não se fala. Parece que não faz parte do nosso dia-a-dia. Mas a morte é exatamente igual, ela existe todos os dias e em qualquer faixa etária, e temos que começar a falar disto... Como falamos do nascimento, por exemplo, porque faz parte da vida! Começar a explicar, de uma forma aberta e sem medos, às nossas crianças esta questão, até porque, e por experiência própria, elas percebem bem melhor do que julgamos.

Assim sendo, com este novo livro, pretendo ajudar pais (e não só), a falar com as crianças sobre este assunto. É este o grande objetivo do livro… Levar o tema da morte às crianças, de uma forma lúdica, amorosa e muito verdadeira. E ao mesmo tempo, elucidar os pais, avós, educadores, professores,… da relevante importância de comunicarmos abertamente sobre o tema. E tenho a certeza, e cada vez mais, pelos feedbacks que vou tendo após uma semana do lançamento do livro, que este livro ajuda (e já ajudou) famílias abordar a questão da morte, famílias em processo de luto, com crianças num turbilhão de perguntas sem resposta... E este livro traz-lhes as respostas que querem saber.

 

Como pretende promover a mesma junto dos mais novos?

A ideia passa primordialmente em me deslocar até ao público-alvo, ou seja, às nossas crianças. Estão em processo várias comunicações com as escolas, não apenas pré-escola, mas também com o primeiro ciclo (até 10 anos), porque a temática do livro assim o exige. Será mais um desafio interessante.

Também sei que a própria editora está em conversações com as lojas aderentes (FNAC, Bertrand; Livraria Atlântico Editora) para apresentações e/ou sessões de autógrafos... Mas tudo a seu tempo, e com calma!

Neste momento, a missão é divulgar o livro junto das crianças.

 

O que a levou a escrever livros para crianças?

Surgiu na altura em que o Infantário Mundo da Fantasia, propôs aos pais dos meninos que ali frequentavam a pré-escola, a participarem num Concurso Literário, com a elaboração de um conto infantil original. Eu honestamente não estava muito empolgada com a ideia, mas como gostava que a minha filha recebesse um diploma de participação, a ser entregue na festa final do ano letivo, com uma subida ao pequeno palco, lá meti as mãos à obra, e foi assim que surgiu o primeiro livro " A Pipa e o Amor". No final, acabamos por subir as duas ao palco, a minha filha pela participação e para receber uma Menção Honroso. Este conto infantil foi baseado no que eu vivia na altura, o Amor de pais para dois irmãos. Deste primeiro livro até surgir o segundo foi rápido, também baseado no meu quotidiano familiar, não porque os meus filhos tivessem medo de ir ao pediatra, mas porque via e vejo, as crianças com muito "medo da bata branca". E por este motivo, escrevi "A Pipa e o Sr Doutor" para desmistificar este medo do hospital diante das crianças, e posso orgulhosamente dizer que tem dado resultado. E quando sei que os objetivos dos livros são alcançados, fico de coração cheio, é maravilhoso saber que a Pipa ajuda famílias a resolver os seus problemas.

 

Na sua opinião, no geral, as crianças e jovens afastaram-se da leitura, ou nota que continua a haver interesse pela mesma?

Sem dúvida o público infantojuvenil está cada vez mais distante do gosto pela leitura. O que me entristece bastante. A cultura tem que ser fomentada, e se a futura geração não está alinhada nesta motivação de ler, explorar e até escrever livros, a arte da escrita começa a ter os dias contados. A tecnologia propícia a este desinteresse. Cada vez mais os jovens têm tudo através de um click, e para uma harmoniosa e boa leitura temos que folhear um livro. Neste ato está intrínseco a conceção de sensações e emoções, que a tela de um computador ou de tablete, não oferece.

 

Que mensagem pretende passar com as suas obras?

Cada obra tem a sua própria mensagem embutida. Todos os livros têm um ensinamento distinto, mas afunilam para um único objetivo: ajudar famílias a ultrapassar conflitos que surgem naturalmente com o desenvolvimento da criança. No primeiro livro "A Pipa e o Amor", escrevi com o intuito de explicar às crianças que ter um irmão não substitui o seu lugar dentro do seio familiar; que os pais continuam a brincar e gostar deles de igual forma, ou seja, demonstra o lado bom de ter um irmão(â) mais novo(a). Já na saga da "A Pipa e o Sr Doutor", a finalidade foi de desmistificar o "medo da bata branca", mostrando que a ida ao médico é sempre boa, mas não ocultando a parte menos positiva de uma ida ao hospital. Neste ultimo livro, " A Pipa e a Estrelinha Dourada", como já referi, falo aberta e verdadeiramente do que é a morte de um membro da família.

A cada obra cabe uma mensagem poderosa e baseada sempre e somente na verdade. Será sempre este o meu caminho na literatura infantil.

- 23 set, 2022