Quantas vezes olhamos para o lado e observamos um idoso a arrastar-se, porque já não tem a mesma mobilidade de outros tempos.
Quantas vezes vamos a um hospital, a um posto médico e verificamos que a maior parte dos utentes são pessoas cuja idade já não os deixa fazer o que gostam, o que sabem, o que aprenderam ao longo das suas vidas.
Quantas vezes repescamos as nossas memórias e verificamos que quem amámos, quem nos deu vida, quem fez de nós os homens de amanhã já cá não estão.
E, depois, interrogamo-nos: Onde falhei? O que ficou por fazer? Porque não lhes dei mais atenção? Porque fui egoísta e só pensei em mim?
A nossa vida passa a correr. Fomos filhos e crescemos em berços de oiro ou em caminhas de palha. Com mais mordomias ou com mais ausências de amor e afeto. Tivemos um pai e uma mãe (os que tiveram) que, dentro das possibilidades de cada um, nos deu tudo o que estava ao seu alcance.
Um dia e cada um à sua maneira, fez-se homem, organizou a sua vida, formou a sua família, construiu o seu mundo, com os seus meios, com as suas possibilidades, mas, na maioria dos casos, sempre com os pais ao lado, na retaguarda, na frente à procura do melhor.
Sempre, mas sempre presentes nas nossas vidas.
Um dia, tudo se altera. Ou porque fomos viver para longe. Ou porque o nosso dia a dia, agitado, com os filhos à nossa volta, para criar, para os levar à escola e isso nos impede (!!!) de contribuir com a nossa quota parte de apoio, de amor, de afeto, de contacto a quem nos deu a vida.
A partir de certa altura, apenas olhamos em frente, calcorreando a estrada ingreme da vida que temos pela frente, com os obstáculos que se nos deparam, com a preocupação de encontrarmos o melhor para os nossos seguidores, dando-lhes uma vida digna.
E o que ficou por fazer? Quem esquecemos, quando virámos a página da nossa vida?
A verdade é que, muitas vezes, quando damos por isso, já é tarde demais para arrepiar caminho. Já os perdemos e nada fizemos por eles.
Outras vezes são encaminhados para lares (para alívio e/ou disponibilidade das nossas vidas pessoais) e nunca ou quase nunca mais os visitamos ou procuramos saber notícias deles.
Esta triste conclusão tem assento em verdades reais do nosso dia-a-dia. São muitos os casos que se conhecem do desprezo dado aos mais velhos, aos nossos pais ou familiares diretos, apenas e tão só porque deixaram de ser úteis, porque o baú já bateu no fundo, porque, grande parte das vezes, passaram a ser um fardo (pesado) para os que um dia irão passar pelo mesmo.
É isso: Esquecemos que um dia iremos, também, fazer parte do grupo dos “meninos da idade maior”.
E as nossas sementeiras como foram preparadas? O que fizemos como forma de agradecer aos nossos pais tudo o que fizeram por nós? Que final de vida escolhemos para proporcionar aos nossos familiares mais velhos uma melhor estabilidade e qualidade, de forma a podermos estar gratos com tudo o que fizeram por nós? Muito pouco ou quase nada.
Há muito, li um escrito de autor desconhecido, com muito espírito, com muita verdade, como grande exemplo para todos nós e que resolvi guardar, pela sua verdade, pelo que contém.
Nada melhor do que transcrevê-lo, para memória de muitos, para análise de outros e para futuro da maioria dos que hoje são filhos e que, amanhã, estarão na faixa etária da terceira idade.
“QUANDO OS PAIS ENVELHECEM, DEIXA-OS VIVER…
Deixa-os envelhecer com o mesmo amor com que eles te deixaram crescer…
Deixa-os falar e contar, repetidamente, as histórias com a mesma paciência e interesse com que eles escutaram as tuas, quando eras criança…
Deixa-os vencer, como tantas vezes eles te deixaram ganhar…
Deixa-os conviver com os seus amigos, conversar com os seus netos…
Deixa-os viver entre os objetos que os acompanharam ao longo do tempo, para não sentirem que lhes arrancas pedaços das suas vidas…
Deixa-os enganarem-se, como tantas vezes tu te enganaste…
DEIXA-OS VIVER e procura fazê-los felizes na última parte do caminho que lhes falta percorrer, do mesmo modo que eles te deram a mão quando iniciavas o teu.”
Sejamos felizes assim…
Se assim fizermos, a nossa vida terá outro sabor. Não teremos remorsos de consciência. Nunca ficaremos arrependidos, mesmo que alguma coisa possa ter falhado.
Assim, “filho és… Pai serás”, para que o inverso nunca possa falhar.