Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Febre na criança e adolescente Voltar

A febre preocupa sempre, mas a febre por si só não é doença. Trata-se de uma manifestação do organismo, decorrente do combate às infeções e, por esse motivo benéfica. Quando as situações com febre são graves (cerca de 5% dos casos), existem sempre outras manifestações clinicas associadas que são os chamados “sinais de alerta.

Os sinais de alerta numa criança com febre, devem ser verificados também quando acriança / adolescente está fora do pico febril, pois quando criança esta com febre, pode apresentar muitos destes sinais que desaparecem quando a temperatura baixa. Os sinais de alerta numa criança com febre são: sonolência excessiva ou incapacidade em adormecer, face/olhar de sofrimento, irritabilidade e/ou gemido mantido, choro inconsolável, não tolerar o colo, dor perturbadora, convulsão, aparecimento de manchas na pele nas primeiras 24 a 48 horas de febre, respiração rápida com cansaço, vómitos repetidos entre as refeições, recusa alimentar completa superior a 12 horas não ingerindo sequer líquidos, sede insaciável, lábios ou unhas roxas e/ou tremores intensos e prolongados na subida da temperatura, dificuldade em mobilizar um membro ou alteração na marcha, urina turva e/ou com mau cheiro (mas se beber pouca água a urina pode ficar muito escura), febre com duração superior a 5 dias completos.

Considera-se febre a subida de pelo menos 1ºC acima da média da temperatura basal diária individual. Na ausência do conhecimento da temperatura basal individual, considera-se febre perante os seguintes valores medidos de temperatura: retal >38, axilar >37,5, timpânica >38.

A temperatura corporal pode ser medida em diferentes partes do corpo com vários tipos de  termómetros , cuja utilização correta é essencial. Sem prejuízo da leitura do folheto informativo que os acompanha, resumem-se as principais características usando termómetros digitais: retal - Com a criança deitada de costas, deve introduzir-se a ponta do termómetro. a leitura com termómetro digital faz-se ao 1º toque com o termómetro digital. Axilar - é um método mais prático, ainda que não tão preciso como o retal. O termómetro digital deve ser colocado na axila durante 5 minutos e só depois ligar o termómetro e registar a temperatura ao primeiro toque. Timpânica – só se deve utilizar a partir dos 3 anos e avalia-se com termómetro de infravermelhos. A sonda deve ser orientada para a membrana do tímpano. Devem ser sempre realizadas 3 medições seguidas e deve adotar-se o valor medido mais elevado.

Para ajudar a criança/adolescente com febre devemos oferecer água ou outros líquidos que a criança goste, adequar o vestuário e a roupa da cama à sensação de frio ou de calor. Não se deve fazer arrefecimento (banho, compressas, ventoinhas…) quando refere frio. Se esta desconfortável, deve tomar um antipirético, paracetamol ou ibuprofeno com intervalo de pelo menos 4 horas entre as tomas, mas só se deve dar medicação quando a temperatura está a subir e/ou a criança esta desconfortável. Se está confortável e bem-disposta não é preciso baixar a temperatura, mas sim vigiar se surgem os “sinais de alerta” referidos anteriormente. O objetivo do paracetamol ou ibuprofeno é aliviar o desconforto da criança e não eliminar a febre a todo o custo. Mesmo não medicada, a temperatura acabará em regra, por baixar espontaneamente algumas horas depois. Mas voltará a subir ao fim de poucas horas, e assim sucessivamente, até a doença passar.

Em resumo, a febre é apenas um sintoma e não uma doença. O tratamento da febre (antipiréticos) não encurta a duração da febre nem contribui para a resolução da doença causal; se a temperatura não voltar ao normal após a administração dos antipiréticos, só por si, não é sinal de gravidade desde que baixe 1º a 1,5ºC. O tratamento da febre não serve para prevenir convulsões febris que, globalmente, são pouco comuns; as convulsões assustam quem as presencia, mas, em regra, não provocam danos cerebrais. Na fase de subida da febre o arrefecimento (com banho, compressas húmidas, álcool, ventoinhas…) está desaconselhado: não contribui para o controlo da doença nem para o bem-estar da criança.

As viroses, responsáveis pela grande maioria dos episódios febris, duram em média 4 dias, as vezes mais. Podem ser incomodativas para a criança, e podem exigir consulta médica,  mas no geral não têm “sinais de alerta”, mas sim sinais “tranquilizadores”: a criança brinca e tem atividade normal; come menos mas não recusa alimentos líquidos; tem sorriso aberto ou fácil; acalma ao colo e fica com um comportamento quase habitual; tosse seca e irritativa muito frequente, sendo o sintoma que mais perturba a criança; dor a engolir com placas brancas na garganta e/ou associada a olhos vermelhos e/ou a tosse; gengivas dolorosas, vermelhas, sangrantes, aftas orais; olhos vermelhos com secreções; diarreia ligeira ou moderada sem sangue; pieira sem dificuldade respiratória, manchas vermelhas dispersas que surgem só a partir do 4º dia de febre. Estes sinais que referi são sugestivos de doença viral, contudo durante a doença os pais / cuidadores devem estar sempre atentos e vigiar se surgem os referidos sinais de alerta e pedir ajuda médica.

Bibliografia: DGS 2017 – processo assistencial integrado da febre de curta duração em idade pediátrica

- 06 ago, 2022