Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Associação do Bairro do Valongo, um caso de estudo? Voltar

A recente chamada de atletas como Guilherme Pinto e Lucas Cardoso, AB Albicastrense, e de Martim Borrego, UD Cariense, aos trabalhos, respetivamente, das seleções nacionais de camadas jovens em basquetebol e futsal levam-nos a refletir sobre os obstáculos e as oportunidades desportivas de quem vive no interior.

Como se depreende viver no interior não é impeditivo de atingir o sucesso, seja qualquer for o quadrante. Há atletas a representar Portugal em todas as modalidades oriundos destas regiões ou até de territórios insulares. Porém, há zonas do país que, por uma causa ou outra, apresentam melhores resultados. Disso nos deu conta, neste espaço, o João Sá Pinho quando, numa das suas últimas crónicas, refletiu sobre um estudo da Federação Portuguesa de Futebol que incidiu sobre a origem dos internacionais jovens portugueses.

Mais do que apurar responsabilidades e/ou identificar responsáveis, importa compreender os processos de forma a que se possa intervir positivamente neles. Vamos aos factos. O interior é uma região envelhecida e despovoada, mas que apresenta infraestruturas de qualidade para o contexto em que se insere. A oferta desportiva competitiva é, contudo, escassa e diminuta no tempo. É frequente assistirmos, em várias modalidades, à disputa de campeonatos com 3 ou 4 equipas. Este é um dos fatores que está na origem do abandono precoce da prática desportiva por parte de muitos atletas. O outro é o facto de o início da prática especializada ser cada vez mais precoce. Há atletas a iniciar a prática aos 5 anos. Depois de uma década a enfrentar sempre os mesmos opositores é compreensível que pretendam seguir outros caminhos.

Ora, literatura científica tem alertado para as vantagens de uma prática desportiva diversificada. De acordo com o estado da arte a mesma contribui para o desenvolvimento de competências transversais, a nível cognitivo, emocional e físico-motor. Infelizmente nem todos os dirigentes/treinadores têm essa perceção destas oportunidades, focando-se apenas numa modalidade. A Associação do Bairro do Valongo, clube da minha infância, é um exemplo paradigmático. Esta coletividade lançou para a ribalta do panorama do desporto português atletas olímpicos como Francisco Belo. Porém, num processo iniciado há cerca de duas décadas, foi colocando termo à sua secção de atletismo para se apostar no futebol de formação. Isto numa cidade onde esta oferta já era proporcionada pelo Desportivo e o Benfica locais. Findo o atletismo federado condicionou-se o crescimento de muitos atletas, em diversas modalidades, inclusive no futebol. Basta recordar o percurso de vida dos futebolistas no ativo de maior nomeada da cidade albicastrense para se perceber o conteúdo desta afirmação. Tanto o João Afonso como o Kikas passaram pelo atletismo, tendo desenvolvido capacidades básicas como a impulsão.

Partindo das premissas e dos exemplos acima expostos, deixamos as seguintes questões no ar: Será viável:

- Às Associações Distritais das diferentes modalidades de pavilhão organizarem-se de forma que os seus campeonatos, em camadas jovens, não se sobreponham possibilitando uma prática desportiva federada diversificada? (Por exemplo, o campeonato de futsal decorra entre setembro e dezembro, o de basquetebol entre janeiro e março e o de andebol entre abril e maio, podendo as equipas… 

- A realização de campeonatos interdistritais que envolvam mais jogos e intervenientes?

- As autarquias locais assumirem um papel que promova, por um lado, uma prática desportiva diversificada e, por outra, uma prática especializada de qualidade?

 

 

 

Sérgio Mendes, Professor e Árbitro

 

- 22 mai, 2022