Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

“A missão é estar ao lado das necessidades das pessoas” Voltar

Tiago Soares Monteiro, foi eleito pela primeira vez deputado na Assembleia da República pelo Partido Socialista. Em entrevista ao Jornal Fórum fala da experiência e ainda dos desafios do Interior do país, nomeadamente do distrito de Castelo Branco

 

Como encara este desafio como Deputado na Assembleia da República na defesa do distrito de Castelo Branco?

É o maior desafio político da minha vida. A oportunidade de representar a pátria, defender a minha região e a minha geração na Assembleia da República, sendo ainda tão jovem e oriundo do interior do país, é uma honra e um privilégio, que consubstancia uma enorme responsabilidade que irei procurar responder com trabalho, dedicação e proximidade às gentes e territórios. A missão é estar ao lado das necessidades das pessoas e das medidas que tragam desenvolvimento e progresso aos nossos territórios, em estreita articulação com as associações, organizações e todos os autarcas. Estou aqui para dar o meu contributo para o nosso futuro coletivo, sem demagogias ou falsas ilusões, até porque sou muito autocrítico. O meu foco é fazer com que os meus pares sintam que têm na minha voz e na minha conduta a sua voz e a sua conduta, para que possa dar o exemplo e venham muitos mais jovens daqui em diante exercer esta tão nobre função.

 

É mais difícil ser deputado eleito por um círculo eleitoral do interior do país, ou não nota essa diferença?

Não considero que seja mais fácil ou mais difícil, a verdade é que o distrito de Castelo Branco é um dos círculos eleitorais que menos deputados elege no todo nacional, sendo, no entanto, um dos que mais deputados tem na faixa transfronteiriça do país. Ao posso que nas maiores regiões, a presença no território ou a distribuição de dossiers regionais se pode fazer de forma mais facilitada, por existirem mais parlamentares, os deputados por Castelo Branco têm que ser autênticas figuras institucionais que consigam dar cobro a todas essas necessidades. Como eu tenho ainda a felicidade de ser autarca, na Assembleia Municipal do Fundão e na Assembleia de Freguesia da minha terra, estreante a ainda em início de mandato, tenho a obrigatoriedade de corresponder nesses fóruns com o mesmo empenho que na Assembleia da República, pelo que são semanas de muita exigência. Mas quem corre por gosto não cansa e não há maior orgulho que ser representante das nossas pessoas.

 

 

Quais os grandes desafios para esta Legislatura em termos de região/distrito?

Os grandes desafios são claros: Apoiar a captação de investimento e empresas para conseguirmos atrair e fixar pessoas no território, invertendo a sangria de perda populacional a que estamos votados há largos anos, com incidência nas gerações mais jovens que nos irão garantir sustentabilidade demográfica, afirmar o Distrito como eixo central da estratégia de cooperação transfronteiriça Portugal – Espanha, reforçar os clusters digitais, agroindustriais, de saúde e floresta já implementados, valorizar os produtos endógenos, proteger e preservar os nossos recursos naturais e culturais e concluir importantes melhoramentos infraestruturais. Temos de aproveitar as novas autoestradas digitais para nos aproximar das outras regiões do país, em particular da bicefalia Lisboa – Norte, pois na Internet todos partem em pé de igualdade, e se nós tivermos as ferramentas necessárias para podermos ser competitivos na área, tenho a certeza de que a beleza natural do distrito de Castelo Branco fará o trabalho restante.

 

As portagens nas ex-Scuts têm sido um tema em debate e reivindicação por parte dos empresários da região. O que defende para as autoestradas do Interior?

Os custos de contexto existentes na região para empresas, empresários e cidadãos são um desafio ao qual esta legislatura tem de saber responder com celeridade, com particular singularidade face às portagens nas Ex SCUT. A recente baixa do ISP, aprovada na Assembleia da República, é um bom exemplo de combate a esse contexto injusto para as famílias e empresas. O compromisso do governo é inequívoco: Continuar a reduzir, ao longo dos próximos 4 anos, o custo das portagens, à semelhança do que tem vindo a fazer desde 2016. Esta defesa e comprometimento tem tido o acolhimento dos deputados eleitos por Castelo Branco ao longo dos últimos anos e terá também nestes que agora exercem funções. Estamos ao lado das necessidades das empresas para continuarem a crescer e a dar emprego qualificado e bem-remunerado aos cidadãos da Beira Baixa, mas lateralmente a esse desafio, existem outros, como o reforço dos horários dos Transportes Públicos interurbanos e a implementação, de forma robusta, da rede de transporte a pedido, para que possamos dar ferramentas aos cidadãos nas suas deslocações pendulares para o trabalho, mas também aos mais idosos nas suas idas aos serviços essenciais. O que defendemos é continuar a reduzir os custos das portagens, com a clara visão de termos vias de comunicação, como as estradas, em boas condições para que os nossos concidadãos possam viajar com rapidez e segurança.

 

A desertificação é um problema que se tem vindo a agudizar no distrito de Castelo Branco. Que políticas defende para dar a volta a esta situação?

Mais do que desertificação, o distrito de Castelo Branco, o interior do país e em particular toda a faixa transfronteiriça sofre de um grave problema de despovoamento que se acentua e agudiza nas zonas rurais, o que intensifica a decadência e o vazio territorial. Temos hoje freguesias em Penamacor, Fundão ou Vila de Rei com pouco mais de 100 habitantes, onde não nascem crianças há perto de uma década. O futuro da região está nos jovens que se fixam e nas crianças que nascem, ora se os primeiros não ficam os segundos não acontecem, pelo que me parece que medidas como a gratuitidade das cresces e dos livros escolares são boas para atenuar custos, mas que é agora preciso universalizar essa gratuitidade e assumir outros custos paralelos, nomeadamente nos exercícios escolares, no desporto e tudo o que ele engloba, havendo um acompanhamento e um apoio às crianças, aqui talvez mais no âmbito das autarquias, desde o momento da sua nascença, seja através de cheques-bebé ou outros, até ao momento do ingresso na faculdade, através de bolsas escolares ou apoios à habitação. Creio que a ideia fundamental é encararmos os mais jovens como a grande riqueza do território, que têm necessariamente de criar uma identidade e ligação com a sua freguesia ou município, que lhes permita ter afetuosidade para um dia poderem voltar e fixar-se – Ora, se não tiverem outras crianças com quem brincar, equipamentos sociais para se recrear ou apoios para poderem atingir os seus objetivos, parece-me manifestamente difícil exigir deles que permaneçam na região.

 

Que investimentos públicos, nomeadamente obras, defende que sejam concretizados para colocar esta região em igualdade com o litoral?

Neste momento temos de concretizar com brevidade o IC31, que é um elo de ligação estratégico e que corresponde a vários vetores já enunciados, nomeadamente nos melhoramentos infraestruturais, na centralidade da região na cooperação transfronteiriça Portugal – Espanha e na coesão regional. Ao nível de obras, se colocarmos nesses termos, parece-me que temos desafios no IC8 e nas N346 e N238 aos quais devemos corresponder também na sua requalificação. Porque água é vida e nos nossos territórios onde existe escassez mais sentido faz ainda, claro que me parece importante a construção de barragens, nomeadamente nos concelhos com essa necessidade. O território é dinâmico e a nossa região é um projeto em permanente mutação, pelo que temos de estar sempre ao lado das grandes reivindicações do povo.

 

Em termos de saúde e educação. Que passos podem ser dados para melhorar estes serviços públicos que podem ajudar a fixar jovens na região?

Bom, em termos de saúde, quer-me parecer que aqui operam medidas mais macro e menos micro, que reforcem o SNS através das suas inúmeras delegações entre Hospitais e Centros de Saúde. Há que continuar a investir nas duas grandes unidades do distrito, o Hospital Amato Lusitano e o Centro Hospital Cova da Beira, com enfoque no Hospital do Fundão e em novas valências que o possam valorizar e voltar a ganhar a escala necessária para ser um ícone no concelho. É necessário continuar a retirar o melhor do cluster da saúde existente, nomeadamente junto da Faculdade de Medicina da UBI, para que possamos fixar os jovens médicos e integrá-los nos processos de medicina móvel e telemedicina, sendo agentes de proximidade junto dos territórios mais envelhecidos e despovoados. Na Educação, creio ser tempo de apoiar o reforço da digitalização e modernização das escolas e todos os espaços escolares, aproveitando os fundos comunitários, continuar a apoiar a investigação e reforçar a oferta formativa nas áreas de maior procura, nomeadamente nas engenharias e na saúde.

 

Que mais medidas de discriminação positivas podem ser tomadas pelo Governo para diminuir as assimetrias entre o Interior e o Litoral, e o que podemos esperar dos deputados eleitos pelo distrito de Castelo Branco neste aspeto?

O reforço dos serviços públicos é essencial. Costumo dizer junto dos que me rodeiam que é difícil termos mais serviços públicos no Interior que noutros pontos do país, contudo, creio que podemos ter os mais eficientes, e se atingíssemos esse patamar iriamos ter mais um vetor de atratividade ao território. Os dias correntes são fugazes, os jovens e os novos adultos querem rapidez no acesso e no consumo, pelo que a grande resposta do território deve ser o garante dessa mesma rapidez. A cidade que tem todos os lugares a dez minutos, os concelhos que têm serviços públicos céleres e que rapidamente resolvem os problemas dos que estão e dos que vêm, as aldeias que têm uma ligação de internet tão rápida como na artéria mais central da capital do país. Creio que o futuro dos nossos territórios passará muito pela forma como poderemos ou não responder a todos estes desafios. A discriminação positiva do que já existe tem hoje adversários à altura, através da forma como nos podemos posicionar na região em termos do que irá existir, e esse comboio (e aqui lembra-me também o necessário reforço na ferrovia) quando passar, terá que ter em nós, agentes do território, os passageiros da dianteira.

- 09 mai, 2022