Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Finalmente! Já se fala em Saúde Mental no Desporto Voltar

Simone Biles, considerada uma das melhores ginastas de todos os tempos, abandonou a final de equipas de ginástica dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, por problemas de saúde mental.

Michael Phelps, nadador com o record de medalhas olímpicas, falou sobre os seus sacrifícios diários, que o tornaram uma lenda da natação. Revelou que treinava durante os 365 dias do ano, sem falhar um único dia dentro de água, sem folgas, aniversários ou Natal, e que os seus objetivos nem sempre foram acompanhados pelo apoio necessário.

João Matos, confessou publicamente que chegou a entrar em pânico durante o último Mundial de futsal.

Estes são alguns exemplos mediáticos, mas muitos mais se podem verificar no mundo do desporto, em diferentes níveis de competição e em diferentes faixas etárias. Felizmente a Federação Portuguesa de Futebol, o Ministério da Saúde e o Sindicato dos Jogadores estabeleceram exemplarmente uma parceria que visa aliar o Desporto à Saúde Mental. Espero que seja uma prática que se torne transversal a todas as federações desportivas.

Perante esta introdução, é legítimo que o leitor questione o significado de Saúde Mental. De uma forma objetiva a Organização Mundial de Saúde refere que é um estado de bem-estar no qual cada pessoa compreende o seu potencial, consegue lidar com as fontes de stress habituais do dia-a-dia, consegue trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir para a sua comunidade.

Torna-se cada vez mais evidente a necessidade de introduzir especialistas em comportamento humano, nomeadamente psicólogos, mental coach, entre outros, em todas as vertentes do desporto. Felizmente este é um fenómeno que se vê cada vez mais na alta competição, mas, por outro lado, muito pouco vista no desporto amador e no desporto de formação. Curiosamente no Processo de Certificação das Entidades Formadoras estabelecido pela Federação Portuguesa de Futebol, um recurso humano evidenciado e valorizado é o psicólogo do desporto. Na verdade todos sabemos que são muitos os exemplos que no “papel da certificação” está lá, mas na prática pouco ou nenhum contacto têm com os praticantes. E isso deve-se fundamentalmente a dois motivos: o primeiro é a falta de capacidade financeira dos clubes para a contratação destes profissionais; a segunda é a falta de formação desportiva de muitos dos dirigentes que lideram os clubes, pois ainda vêm este tipo de profissionais como acessórios ou pouco importantes.

Tal como aprender a ler, escrever, andar de bicicleta, jogar futebol ou praticar outro tipo de atividade desportiva, é necessário desde muito cedo que as crianças tenham ferramentas que promovam o seu bem-estar, e que as capacite para lidar com fontes stressantes, reconhecer o seu potencial, saber como podem ser produtivas e frutíferas. Se estas ferramentas forem introduzidas apenas na idade adulta, não surtem o efeito na sua total plenitude. Vejo como uma medida importantíssima qualificar cada vez mais os treinadores para a educação emocional, devendo ser esta amplificada com o trabalho sobre as mesmas competências nas escolas.

Alerto! É importante parar de ter uma visão do desportista como alguém que tem a vida facilitada. Devemos assumir que são seres humanos com vulnerabilidades psicológicas que devem e têm de ser protegidos. Quando nos meios de comunicação social vemos um desportista de elite numa competição ou em campanhas publicitárias, temos de ser capazes de ver que há uma vida, pensamentos, sentimentos e emoções por trás daquela personagem. É obrigação do mundo do desporto proteger psicologicamente os desportistas, para que tenham sucesso no cumprimento dos seus objetivos pessoais, da equipa a que pertence, do clube e da sua nação. Essas também são as condições para que se torne um exemplo e um embaixador para a sociedade. Com Saúde Mental, todos estão mais perto do êxito e da felicidade.

João Sá Pinho, Professor

- 06 nov, 2021