Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A República e o combate aos populismos Voltar

Portugal comemorou o 111º aniversário da implantação da República que em 1910 foi proclamada, com os habituais discursos, que desta vez, ocorreram no rescaldo das eleições autárquicas. Estas discorreram com normalidade dado sermos já uma democracia adulta.

No entanto, há cada vez mais necessidade de estarmos alerta, para combater os sinais de populismos, radicalismos e extremismos que grassam por todo o mundo e que as redes sociais revelam na sua crueza e dureza, associados à mentira e difamação, como armas. Muito recentemente no mundo, tivemos a retirada das tropas internacionais do Afeganistão e com isso a implantação do regime controlado pelos talibãs, com o “regresso às trevas” e em que as mulheres deixam de ter acesso à liberdade e mesmo à educação. Voltou o “inimaginável”. Regimes repressivos, de controlo sobre o outro, que se aproveitam do desconhecido, da ignorância e que a cultivam; misturados com o primado de um “determinado tipo de interpretação” de uma religião.

Num recente livro de António Costa e Silva chama-se a atenção para “dois tópicos que alimentam o irracionalismo catastrofista: a ascensão dos piores na política e a ameaça climática.” E isto está a acontecer “também na Europa e nos EUA, com o crescimento da xenofobia, da demonização e exclusão do outro e da utilização dos migrantes como arma de arremesso político.” Para além disso, há a necessidade de fazer compromissos para avançar e, no entanto, por vezes a prática política está cada vez mais afastada das necessidades das pessoas. Neste citado livro, “Portugal e o Mundo numa encruzilhada”, acrescenta abordando uma das inquietações:

“Esta forma de fazer política como uma guerra e de tratar os opositores não como adversários, mas como inimigos, que têm de ser destruídos, propagou-se às outras democracias, incluindo às europeias.” Infelizmente isto é algo cada vez mais visível e que também foi observável nas eleições autárquicas. A política deve ser enaltecida como serviço público e não como estratégias e táticas de tomadas de poder que não olham a meios para obter os fins que almejam.

Fernando Medina apelou a que na política os confrontos possam ser fortes, mas que não esqueçamos os objetivos comuns, que temos de ser capazes de dialogar para obter os consensos necessários, quando necessário, respeitando os diferentes papeis, que o povo democraticamente dita em cada eleição, no respeito do sistema democrático, seja ele parlamentar ou municipal. Assumindo-se contra a “politica espetáculo”, “a chantagem demagógica” porque no seu entender, com o qual concordo, “não há radicalismos nem populismos que sejam bons para a Democracia”.

Portugal está na frente dos países que mais vacinou a sua população, ao nível mundial, protegendo assim as pessoas desta malfada pandemia. Uma pandemia que nos afetou a todos, e sobretudo aos mais frágeis, mas também a sectores económicos que só agora começam a recuperar.

E temos naturalmente de estar atentos à pobreza, e ao facto de serem os mais pobres que sendo mais atingidos, também veem os seus filhos mais atingidos. Daí que a anunciada medida para que seja possível o aumento da escolaridade obrigatória a partir dos 3 anos de idade é uma boa medida. Portugal tem sido uma referência na forma como está atento a esta preocupação, para que a educação seja de facto, fator de inclusão, o que ainda é mais necessário no pós pandemia.

Ainda recentemente, numa videoconferência da OCDE em que tive o gosto de participar, sobre a “Equidade na Educação”, Portugal foi dado como exemplo, na forma como trabalha para uma educação inclusiva, que se constitui como instrumento fundamental para melhores condições de vida. Isto tendo em conta, que nem sequer é um país rico, mas tem evidenciada uma aplicação de recursos neste sentido e tem tido um bom percurso. Porque como foi dito, a pobreza não pode ser um destino.

Não podemos, pois, ficar indiferentes ao facto de serem os filhos dos mais desprotegidos, que mais dificuldade tiveram em acompanhar as aulas, na fase de paragem provocada pela pandemia. Isto apesar dos esforços, para mais computadores, até pelas aulas através da nova Telescola, e não podemos esquecer os esforços dos professores, que naturalmente fazem a grande diferença na vida das crianças. A necessidade de um plano de recuperação de aprendizagens foi evidente e tem de ser implementada. Neste dia, em que escrevo e que também é o dia mundial dos professores, quero aqui deixar esse reconhecimento.

No dia da República, evocamos, mas reafirmemos um Portugal mais inclusivo, que Marcelo Rebelo de Sousa colocou como objetivo, e que exigido na melhoria das condições de vida, na diminuição das desigualdades, para todos os portugueses. Uma palavra aos emigrantes, mas também aos que acolhemos e de que Portugal necessita.

Viva a República, com Liberdade, Igualdade, Fraternidade!

 

                                                                               Hortense Martins, Deputado do PS na AR

- 16 out, 2021