Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

A verdade nua e crua dos censos de 2021: a realidade fria dos números para Portugal e Interior Voltar

O INE apresentou os dados preliminares dos Censos 2021. Há 10 347 892 pessoas a viver em Portugal. Menos 2% do que há dez anos. Como era de esperar as regiões do Algarve e da Área Metropolitana de Lisboa viram a sua população aumentar na última década. Alentejo, Madeira, Centro, Açores e Norte viram na descer. Contudo, há algumas variações entre as diferentes unidades geográficas – regiões, cidades, vilas e aldeias. Mas a situação é cada vez mais alarmante para grande parte do país, e em particular, do seu interior fronteiriço. Mas não só.

Segundo o INE, imprensa em geral e as redes sociais há 10 347 892 pessoas a viverem em Portugal, -214 286 do que há dez anos, quando foi realizado o último censo da população portuguesa, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Apenas as regiões do Algarve e Lisboa ganharam pessoas. "Em termos censitários, a única década em que se verificou um decréscimo populacional foi entre 1960 e 1970", nota o gabinete de estatística, acrescentando que o "saldo migratório ocorrido, apesar de positivo, não foi suficiente para inverter a quebra populacional". "Na última década, Portugal registou um decréscimo populacional de 2,0% e acentuou-se o padrão de litoralização e concentração da população junto da capital. O Algarve e a Área Metropolitana de Lisboa são as únicas regiões que registam um crescimento da população, sendo o Alentejo aquela que regista o decréscimo mais expressivo". As únicas regiões que registaram um crescimento da população entre 2011 e 2021 foram o Algarve (3,7%) e a Área Metropolitana de Lisboa (1,7%). "As restantes regiões viram decrescer o seu efetivo populacional, com o Alentejo a observar a quebra mais expressiva com -6,9%, seguindo-se a Região Autónoma da Madeira com -6,2%".De acordo com os dados preliminares, o País "registou um ligeiro crescimento do número de edifícios e de alojamentos destinados à habitação, embora num ritmo bastante inferior ao verificado em décadas anteriores". "O número de edifícios destinados à habitação era de 3 587 669 e o de alojamentos de 5 961 262, valores que face a 2011 representam um aumento de 1,2% e 1,4%, respetivamente". Os dados preliminares mostram que se verificou um travão no número de casas para habitação. "O crescimento do parque habitacional entre 2011 e 2021 é bastante inferior ao verificado na década anterior, quando os valores se situavam na ordem dos 12% para edifícios e os 16% para alojamentos". A fase de recolha dos Censos 2021 decorreu entre 5 de abril e 31 de maio e os dados referem-se à data do momento censitário, dia 19 de abril.

E na Beira Interior e seus Concelhos? Todos os concelhos da chamada Beira Interior, em particular os das Beiras e Serra da Estrela e da Beira Baixa, baixaram de população nestes 10 anos. Almeida foi o concelho que perdeu mais gente (-18.8%), seguido de Figueira de Castelo Rodrigo (-17.7%), de Penamacor (-16.2%), Pinhel (-15.9%), Manteigas (-15.2%), Trancoso (-14.8%), Celorico da Beira (-14.4%), Oleiros (-14.4%), Idanha-Nova (-14.2%), V.N.Foz-Côa (-13.8%), Gouveia (-13%), Seia (-11.9%), Fornos de Algodres (-11.8%), Covilhã (-10.3%), Sabugal (-10.1%), Belmonte (-9,5%), Fundão (-9,2%), Sertã (-7,1%), Castelo Branco (-6.8%), V. V Ródão (-6.6%), Guarda (-5.6%), Vila de Rei (-5.1%) e, por fim, Aguiar da Beira (-4.5%). A reduzida população desta região fica bem evidente se dissermos que há apenas 8 concelhos com mais de 10 mil habitantes: Castelo Branco (52272), Covilhã (46546) e Guarda (40155), Fundão (26521), Seia (21759), Sertã (14748), Gouveia (12221), Sabugal (11281). Todos os outros concelhos têm menos de 10 mil habitantes.

Situação Alarmante nas Freguesias: Praticamente todas as freguesias perderam população na Beira Interior. São números preocupantes que que realçam a enorme quantidade de freguesias na Beira Interior que perderam parte considerável da sua população nos últimos 10 anos, sendo que treze delas perderam praticamente um terço da sua população, números que são assustadores e que servem de alerta. Das 13 freguesias, 10 delas são no distrito da Guarda e apenas 3 de Castelo Branco: Almofala e Escarigo (Figueira CR) – 180 Habitantes (-35.7%), São João do Peso (Vila De Rei) – 132 Habitantes (-35.3%), Fiães (Trancoso) – 180 Habitantes (-34.1%), Salvador (Penamacor) – 320 Habitantes (-32.8%), Miuzela e Porto de Ovelha (Almeida) – 279 Habitantes (-32.8%), Guilheiro (Trancoso) – 126 Habitantes (-31.5%), Aldeia de Santa Margarida (Idanha-A-Nova) – 201 Habitantes (-31.2%), Lameiras (Pinhel) – 200 Habitantes (-31%), Fernão Joanes (Guarda) – 186 Habitantes (-30.9%), Leomil, Mido, Senouras e Aldeia Nova (Almeida) – 153 Habitantes (-30.8%), Marialva (Mêda) – 177 Habitantes (-30.6%), Tamanhos (Trancoso) – 175 Habitantes (-30%), Rochoso e Monte Margarida (Guarda) – 210 Habitantes (-30%) e Sobral De São Miguel (Covilhã) – 294 Habitantes (-29.7%).

Outro dado relevante que nos trouxeram os primeiros resultados preliminares dos Censos 2021 foi a evolução da população de todas as freguesias do nosso país. Na Cova da Beira os números são preocupantes já que todas as freguesias dos três municípios (Belmonte, Covilhã e Fundão) perderam população à exceção de uma: Silvares. A freguesia de Silvares, no Fundão, teve um aumento de 0.3% (ou seja, aumentou 3 cidadãos), o que parece pouco mas é relevante já que foi a única freguesia que conseguiu este aumento, quando quase toda a região perdeu mais de 10% da sua população. Facto curioso ainda foi a freguesia ter ganho população enquanto a sede de concelho perdeu 5.8% dos seus habitantes e o concelho perdeu 9.2%. Outro dado interessante é que a freguesia de Silvares foi uma das únicas duas freguesias do distrito inteiro de Castelo Branco a ter aumentos, a par de Carvalhal na Sertã, que aumentou 6%, todas as outras perderam. A seguir à freguesia fundanense, as que menos perderam população foram Boidobra na Covilhã (-2.2%), Soalheira no Fundão (-3.9%) e a União de Freguesias de Covilhã e Canhoso (-4.3%). As que perderam mais população foram Sobral de São Miguel (29.7%), Casegas e Ourondo (-25%) e Unhais da Serra (-24.9%), todas no concelho da Covilhã. Rapoula do Côa foi a segunda freguesia do país que mais cresceu. De facto, a freguesia de toda a Beira Interior que mais aumentou a sua população foi a freguesia de Rapoula do Côa, no Sabugal, com um aumento muito significativo de 37.4%. A freguesia tinha em 2011 um total de 195 habitantes e tem agora 268 habitantes, sendo a freguesia que mais cresceu na região de longe e a única que cresceu em números superiores a 20%, invertendo a tendência regional e nacional. Foi aliás a segunda freguesia do país inteiro que mais cresceu, apenas abaixo de Longueira/Almograve, que cresceu 72.4%, em Odemira.

Em conclusão, podemos dizer que ao nível das regiões, Algarve e Área Metropolitana de Lisboa foram as únicas regiões a ganharem população nos últimos dez anos. Todas as outras perderam. E isso levanta graves problemas de sustentabilidade do país não litoral. Mas também levanta graves problemas de sustentabilidade no Litoral aos níveis da criminalidade e segurança, da poluição sonora e ambiental, em suma, da qualidade de vida em geral nestes municípios… Haverá alguma coisa a fazer para resolver simultaneamente os problemas de desertificação no interior e de sobrepopulação no Litoral? Talvez valha a pena pensar nisso…

                                                                                                              José Pires Manso, professor Catedrático

- 25 set, 2021