Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

O presente ou o futuro? Representação jovem nas listas às eleições autárquicas da Covilhã Voltar

Numa lógica de representação descritiva, os “parlamentos” devem ser um “microcosmo” da sociedade, funcionado como um “espelho” que reflete a sua diversidade de género, de etnias, de religiões e, obviamente, de faixas etárias. Os três tipos órgãos autárquicos da Covilhã deveriam ter, portanto, aproximadamente 24.05% de membros eleitos com menos de 30 anos de idade – o correspondente à percentagem de jovens (até aos 29 anos) no concelho. Como se distribui, então, a representação de jovens nas listas que vão a sufrágio no dia 26? Qual é a importância que as listas autárquicas dão, agora, às novas gerações? Contarão com elas para o presente do município, ou serão apenas o “futuro”?

Há quatro anos, publiquei aqui uma análise à representação de jovens nessas listas. Este ano, faço o mesmo. Baseio-me numa recolha e compilação dos dados de todos os candidatos constantes das listas finais à Câmara, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia a que acedi no tribunal judicial da Covilhã.

Dia 26, vão a escrutínio popular 1049 cidadãos. Distribuem-se da seguinte forma: 65 à Câmara, 158 à Assembleia Municipal e 826 a freguesias. Destes, somente 473 (45.09%) são mulheres e 151 (14.39%) são jovens. A maioria é candidata oficialmente por partidos políticos. Uma parte são independentes apoiados por partidos. A minoria são os “verdadeiros” independentes, sem qualquer apoio partidário, que, pela primeira vez desde 2013, concorrem apenas a freguesias. Como se distribuem então os dados por tipo de candidatura?

A figura 1 mostra-nos a diferença nas médias de idade das candidaturas. A CDU tem, em média, os candidatos mais envelhecidos (53.06 anos) e a coligação CDS.PSD.IL tem os mais jovens (43.45). O PS ocupa o segundo lugar em termos de envelhecimento médio da candidatura, embora com uma considerável distância da CDU (46.66 anos), seguido do CHEGA (44.5) e da coligação entre o MPT, PPM e Aliança (43.86). Não obstante, os valores médios podem ser enganadores. Qual o peso real dos jovens dentro de cada candidatura? Que percentagem ocupa na totalidade dos candidatos autárquicos?

A figura 2 revela-nos essa percentagem por partido e pelo agregado dos grupos de cidadãos eleitores (GCE) que, como supramencionado, concorrem somente a juntas de freguesia. As listas dos GCE às freguesias têm os jovens como uma minoria (7.32%), e, das candidaturas partidárias, é a CDU quem tem menos jovens nas suas fileiras (10.96%), seguida do PS (13,3%) e da coligação MPT.PPM.Aliança (14.58%). O CHEGA é quem integra mais as novas gerações, com mais de 1 jovem em cada 5 candidatos (22.73%). Em segundo lugar, a coligação CDS-PP.PSD.IL, com 19.32% de jovens.

Impõem-se duas conclusões preliminares. A primeira, que, apesar destas diferenças, nenhuma candidatura atinge o peso real dos jovens na sociedade covilhanense (relembre-se: 24.05%). A segunda, que a amostra reduzida das candidaturas independentes, do CHEGA e da coligação liderada pelo MPT influencia os resultados e dificulta a comparabilidade. No primeiro caso, trata-se de um total de 41 candidatos. No segundo, de 22 lugares que o CHEGA preenche nas duas listas o CHEGA, dado que apenas concorre à Câmara Municipal e à UF de Cantar Galo e Vila do Carvalho, não avançando sequer para a Assembleia Municipal. No terceiro, concorrem apenas a três freguesias e têm um número de candidatos que, ainda que muito superior ao do CHEGA (96 pessoas), está ainda mais largamente abaixo da CDU (220), CDS.PSD.IL (264) e, sobretudo, do PS (406). Portanto, a diferença destas três primeiras amostras, quando comparadas com amostras maiores, como as outras três, influencia as diferenças nos resultados.

Mas, como se distribui a presença de jovens nas listas a cada órgão? Mais, desses, quantos figuram apenas como suplentes para encher listas e quantos estão em lugares efetivos e/ou elegíveis? É o que procuro explicar nos parágrafos seguintes. Não existe um “critério perfeito” para definir e operacionalizar o que são “lugares elegíveis”, sobretudo com a volatilidade eleitoral que a Covilhã tem e porque as candidaturas não têm todas a mesma “força”. Apesar disto, e com os problemas que acarreta, considero como “elegíveis” as posições potencialmente nas listas equivalentes ao número de mandatos obtidos pelo candidato mais votado nas últimas eleições para a Assembleia (11 mandatos) e Câmara (5). No caso das freguesias, considerei como tal os 5 primeiros candidatos das listas.

Ao contrário de há quatro anos, em que só o CDS não tinha um jovem na lista à Câmara, nestas eleições todas as candidaturas integram jovens. A tabela 1 mostra que, com exceção do MPT.PPM.ALIANÇA, que só integra um(a) jovem, todos os restantes candidatos têm dois jovens na lista ao executivo. Todavia, destes, somente uma do PS e a única do MPT.PPM.ALIANÇA figuram em lugares efetivos. Mais, nenhum destes 9 jovens tem sequer a possibilidade de ser eleito Vereador, pelo que, ao contrário de outras congéneres, como o Fundão ou Braga, a Câmara continuará sem um jovem eleito.

Já no que toca à Assembleia Municipal, o CDS.PSD.IL é, de longe, quem integra mais jovens (25% da lista), seguido do PS (15.91%). MPT.PPM.ALIANÇA e a CDU têm 13.33 e 12.82%, respetivamente (recorde-se que o CHEGA não apresenta lista à Assembleia). Por conseguinte, a única candidatura que aparenta espelhar este semento societal é a primeira. No entanto, ao dissecar os dados, verificamos que a diferença vai diminuindo. Ainda que continue a ser a candidatura com mais jovens nos lugares efetivos da lista (18.18%; face a 13.64% do PS; 9.09% da CDU; 4.55% do MPT.PPM.ALIANÇA), o CDS.PSD.IL não se distingue do PS em termos de jovens potencialmente elegíveis, já que ambos têm 27.27% (ou seja, 3 jovens) potencialmente elegíveis (entre os 11 primeiros candidatos). A coligação “Covilhã, juntos fazemos melhor” tem jovens na 2.ª, 5.ª e 9.ª posição, ao passo que o PS tem na 7.ª, 9.ª e 11.ª. A CDU tem precisamente a mesma percentagem de jovens “elegíveis” (9.09%, ou seja, um jovem, que figura em 4.º lugar) e a coligação “Covilhã tem força” não contou com essa da parte das novas gerações, já que não tem nenhum jovem em posição elegível. Naturalmente que nem todos os jovens mencionados serão eleitos: não se sabe se o PS mantem os 11 mandatos, não se sabe quantos votos a coligação de direita terá e a CDU nunca elegeu quatro membros da Assembleia desde a revisão do número de mandatos do órgão. Por esta razão, entre os 22 elementos eleitos, certamente menos de um quarto serão jovens. Mas aproxima-se mais de uma representação descritiva quando comparado com a Câmara.

Por fim, os resultados são diferentes no que toca às Assembleias de Freguesia. É o CHEGA quem tem a maior representação das novas gerações: 25% do total da sua única lista são jovens; 22.22% dos efetivos são jovens; e 40% dos seus candidatos potencialmente elegíveis também são jovens. As outras duas candidaturas de direita têm resultados algo aproximados: a liderada pelo CDS tem 18.45% de jovens nas listas, face a apenas 10.19% em posições efetivas, mas 20% dos potencialmente elegíveis são jovens; a liderada pelo MPT tem 17.31% de jovens, 14.29% em lugares efetivos e 18.18% potencialmente elegíveis nas três listas que apresenta a freguesias. Já os valores do PS e da CDU vão de 12.93 a 10.18% de jovens nas listas, respectivamente, face a 5.66 e 6.54% de efetivos e 6.67 e 5.26% de potencialmente elegíveis. Note-se ainda que as listas “verdadeiramente independentes” às freguesias não têm qualquer jovem em posição elegível, o que denota que as organizações partidárias tendem a funciona como um “centro de recrutamento” das novas gerações.

Por fim, uma nota sobre cabeças-de-lista: nenhuma lista à Câmara ou Assembleia Municipal é liderada por um jovem, como é amplamente consabido. Tal não seria inédito, dado que Miguel Castello-Branco foi Presidente da Assembleia Municipal com 27 anos. Não obstante, mesmo nas freguesias, apenas três listas são lideradas por jovens: uma do PS, uma do CDS.PSD.IL e uma do CHEGA.

 

Nota final: o autor agradece o apoio de António Petrucci Saraiva na recolha e codificação de parte dos dados.

- 17 set, 2021