À Conversa Com... Duarte Mairos, dirigente da Youth Academy preocupado com os efeitos da interioridade
Voltar
Duarte Mairos criou a Youth Academy para discutir a interiodade, o papel dos jovens nestas regiões e a participação dos jovens na política e na sociedade civil. Explicou-nos o projeto, as atividades e falou-nos mais sobre si.
Jornal Fórum Covilhã (JFC): É dirigente da Youth Academy. De onde surgiu esta ideia e como se deram os seus primeiros passos?
Duarte Mairos (DM): Nos últimos anos, no distrito de Vila Real e no Interior, a oferta de atividades juvenis ligadas à participação cívica, intervenção, realização de eventos criativos e adaptada à geração mais jovem foi escassa e, por vezes, quase inexistente. Em Junho de 2019, na leitura que então fizemos, qualquer jovem que quisesse contactar com figuras relevantes do panorama cultural e político ou até ter acesso a congressos, debates, palestras e outras atividades tinha de se dirigir aos grandes centros urbanos (Lisboa e Porto). Embora seja uma cidade feita de jovens, Vila Real ainda não reunia condições para que esta massa juvenil consiga ter um acesso completo a atividades que a motivasse a ter uma voz e um papel ativo na cidade e no distrito. Na minha opinião os jovens estavam cada vez mais limitados - e não por escolha própria - para participar em atividades políticas, em grupos de ativismo por causas ou em qualquer outro tipo associação que esteja ligada aos temas que apelam à imaginação, à criatividade e ao pensamento da juventude. Por um lado, nas juventudes partidárias – devido à limitação ideológica e indisponibilidade para realmente trabalhar por causas que interessam aos jovens, por outro lado, em grupos não partidários limitados apenas por uma causa, deixando todas as outras de lado. A Youth Academy apresentou-se no dia 14 de Dezembro de 2019 e até aos dias já promoveu diversas atividades online e presenciais, com dinâmicas diferenciadas.
JFC: Esta associação jovem tem um âmbito de ação alargado a todo o Interior do país, pretendendo discutir a interioridade e os seus desafios. Em que medida e como é que os jovens podem contribuir para mudar o paradigma atual nesta matéria?
DM: A Youth Academy procurou debater o Interior e a descentralização desde o primeiro momento. No mês de Julho recebemos em Vila Real líderes políticos para debater este temático com os jovens e ouvir os seus contributos – entre eles este Rui Rio. Em Outubro lançamos o Interior Summit, um congresso realizado em Vila Real com um modelo interativo e híbrido (presencial e online), realiza-se entre Outubro e Março deste ano, com várias iniciativas de debate na região. São vários os temas, como cultura, talento local, empreendedorismo, ciência, inovação, descentralização. Para o debate são chamados vários convidados, desde empresários locais até grandes figuras do panorama nacional em diversas áreas, que estarão em contacto direto com os jovens, que têm neste conjunto de iniciativas uma oportunidade única para exporem e potenciarem as suas ideias para o futuro da sua região. É desta forma que o Interior Summit pretende desempenhar um papel importante na formação e preparação dos jovens, capacitando-os para uma intervenção cívica plena, pensando e agindo no Interior do país. O lema que escolhemos para esta cimeira, que vamos encerrar em março foi: “jovens de hoje serão os líderes de amanhã”.
JFC: Porque acha que os jovens têm receio ou desinteresse em associar-se a discussões ou ações políticas? Como o podemos combater?
DM: Os jovens gostam do debate. Não quero cometer um erro ao dizer que os jovens são sempre ouvidos, mas não chega. A nossa voz tem de ser tida em contas nas decisões. Tantas vezes ouvimos dizer que somos o futuro – então porque não somos chamados a participar ativamente nas decisões da nossa freguesia, cidade ou pais. Na abertura do Interior Summit propus dotar o Conselho Municipal da juventude um órgão deliberativo, em vez de um órgão meramente consultivo. Claro que isto implica dotar o CMJ de uma verba financeira. A participação política e reivindicativa dos jovens não se faz apenas nas juventudes partidárias, envolvidas em logicas de grupo, de silêncios e de troca de votos e favores – que coloca o currículo político à frente da coragem e arrojo para apresentar medidas para os jovens e agregar os jovens para o debate. Até então os jovens só eram chamados para abanar bandeiras e fazer plateia nas campanhas e eventos partidários e depois não lhes são atribuídos os lugares devidos. Isto afasta, pelo menos a mim afastou.
Não me resigno, enquanto jovem, de deixar o meu contributo para uma cidade/região onde os jovens são consultados, participam nas decisões e por consequência adquirem vontade de ficar. É meu dever tal como, é o nosso dever. Os jovens são necessários na construção de uma sociedade ativa, solidária, interventiva, informada e irreverente.
JFC: Estamos num mundo cada vez mais digital e que dá especial relevância à criatividade e à inovação. É ou não o empreendedorismo cada vez mais uma característica fundamental e que deve ser ensinada e potenciada nas escolas e universidades e porquê?
DM: O empreendedorismo constitui uma prioridade para a Youth Academy desde a sua fundação. É uma questão difícil e que provoca algumas divisões, sobre se deve ou não ser ensinada nas escolas, tal como a formação cívica. Acredito que as escolas e as universidades devem tem um papel nessa formação e no “empoderamento” dos jovens, que, alias, é visível – e eu constato isso – no aumento da participação dos estudantes no mundo associativo interno e externo – associações de estudantes, núcleos, sociedades de debate, movimentos, etc... Somos a geração mais qualificada de sempre e simultaneamente uma geração muito resiliente. E há uma outra característica; hoje temos uma geração que valoriza a criação de valor para a sociedade.
JFC: Os jovens estão a lidar nesta altura com uma transição para o mercado de trabalho ainda mais difícil devido à pandemia. Como olha para essas dificuldades? Como as podemos minimizar?
DM: A minha leitura sobre este tema é abrangente e não se foca apenas nas dificuldades que a pandemia acrescentou a esta realidade que os jovens atravessam. A inserção de jovens com formações superiores no mercado de trabalho tem sido um tema recorrentemente abordado. O trabalho tornou-se um bem cada vez mais escasso, o que gera riscos e incertezas com os quais os jovens licenciados pelo ensino superior têm de lidar, obrigando-os a adotarem novas formas de relacionamento com as transições e os acontecimentos de vida. As universidades devem optar por promover o desenvolvimento pessoal e social dos jovens, “empoderando-os” para serem cidadãos críticos em relação ao mundo, permitindo-lhes serem mais capazes de procurar o seu próprio espaço de realização pessoal e profissional e capacitando-os para enfrentarem os desafios, cada vez maiores, da transição do ensino superior para o trabalho. Ou seja, será através de jovens competentes em pensar criticamente (muito para além das competências técnicas que possam ter aprendido) que o mercado de trabalho sairá beneficiado pois, em vez de se «formatarem» às necessidades atuais das instituições e das empresas em que trabalham, ou possam vir a trabalhar, os jovens serão mais capazes de compreenderem os avanços, as necessidades, as transformações e encontrar respostas criativas e adaptadas às necessidades e desafios que as alterações sociais, políticas e tecnológicas trazem para dentro dessas mesmas instituições e empresas. A criação de emprego é fundamental, assim como reduzir o número dos estágios, principalmente quando estes servem para suprir necessidades permanentes. Um período experimental de 6 meses cria dificuldades e é demasiado custoso e precário, precisamos de contratos a termo com perspetivas de transformação em contratos a tempo indeterminado. É um esforço coletivo de todos nós que tem de ser fomentado.
Livros impressos ou ebooks? Livros impressos
Esquerda ou direita? Direita nas questões económicas, esquerda nas questões sociais
Propinas pagas ou propina zero? Propinas pagas
Privatizações ou manter domínio público? Depende. Sou favorável às privatizações
Trabalhar em Portugal ou estrangeiro? Trabalhar em Portugal
Poupar ou usufruir? Usufruir
Um livro – Um político assume-se, Mário Soares
Um filme - J'accuse - O Oficial e o Espião, de Roman Polanski
Um prato - Francesinha
- 09 mar, 2021
- Fernando Gil Teixeira