Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Marialva, um cantinho bem guardado com tanto para descobrir Voltar

Embora seja um recanto bem guardado, quem já foi à cidade da Mêda já olhou certamente para a aldeia histórica de Marialva, provavelmente sem a saber identificar. Lá bem no alto ergue-se um castelo, que corta a silhueta das nuvens e se desenha no céu no cimo da aldeia e que capta a atenção e faz imaginar antigas guerras e castelos tomados.

Marialva é sem sombra de dúvidas um dos pontos que melhor reflete a nossa identidade enquanto país e mais, enquanto território. Ainda hoje com edifícios históricos e muito antigos em bom estado de conservação dadas as circunstâncias, Marialva foi noutros tempos palco de inúmeras guerras e conquistas históricas que marcaram para sempre aquela aldeia e povoação. Começou por ser povoada pelos aravos, povo lusitano, e foi depois conquistada pelo Império Romano. Ali se sucederam posteriormente os árabes, até que D. Fernando, rei espanhol, conquistou em definitivo as Beiras, em 1063, incluindo a aldeia de Marialva. Esta aldeia, banhada pela ribeira de Marialva, que lhe deu nome, acabou por vir a ser despovoada, mas D. Afonso Henriques atribuiu-lhe foral e repovoou-a. D. Sancho I acabou por conquistá-la em definitivo depois de várias lutas pelo território e o seu maior crescimento deu-se com a instauração da Feira aos dias 15 de cada mês por parte de D. Dinis, tornando Marialva numa das pedras angulares do reino português, até depois ser anexada ao concelho de Vila Nova de Foz Côa e depois de Mêda, já no século XIX.

Uma aldeia repleta de capelas e igrejas de diferentes épocas, casas senhoriais magnificentes embora cada vez mais degradadas, um castelo imponente e ainda com tantas marcas de presença humana de outras épocas e com divisões visíveis das várias zonas em que este se dividia e organizava, uma antiga cisterna que abastecia a cidadela dentro do castelo, uma muralha ainda bastante presente e completa recheada de portas com vários simbolismos e significados… Tanta coisa para ver e contemplar numa tarde de fim-de-semana ou de férias, em que se pode estar isolado, seguro e ao mesmo tempo conhecer algo aqui tão perto de que muitas vezes não temos noção da importância histórica e patrimonial como neste caso. Afinal Marialva é uma das tatuagens mais antigas do território português e que mais marcas guardou ao longo do tempo para hoje podermos admirar e perceber como chegámos até aqui e para onde podermos dirigir-nos no futuro, num país cada vez mais desertificado e de aldeias desabitadas e em que apenas o turismo e o conhecimento podem ter capacidade de atrair novamente pessoas para o território, para o conhecerem e dele falarem a outros que também possam querer vir depois.

Outro ponto-chave para quem quiser ficar a dormir em Marialva e conhecer a região com mais calma são as Casas do Coro. Um pequeno hotel formado por diversas villas privadas, com princípios ecológicos e sustentáveis e que tem atraído muitos turistas de todos os cantos do mundo. Um lugar ideal para quem pretende fugir ao confuso e demasiado complexo mundo citadino por uns tempos e conseguir estar em paz e silêncio num recanto perdido rodeado por natureza. Além disso, tem também oportunidade de ter contacto com a maravilhosa gastronomia da região, para além da já reconhecida internacionalmente hospitalidade beirã, que faz qualquer um querer voltar depois de vir a primeira vez.

- 16 jun, 2021
- Fernando Gil Teixeira