Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Trancoso e o que se guarda para lá da muralha Voltar

O Jornal Fórum Covilhã continua a sua viagem pelas aldeias e concelhos mais históricos da nossa região e desta vez o ponto de paragem foi Trancoso, uma cidade de centro histórico muralhado com tanto para contar

Conhecer as aldeias históricas da nossa região implica obrigatoriamente passar por Trancoso, a 890 metros de altura e que tanto tem em cota de altura como em histórias para contar e vir conhecer. O ponto de partida desta viagem: o seu incrível centro histórico, capaz de tirar a fluidez das palavras e fazer o tempo andar mais devagar para se aproveitar cada momento.

As muralhas deste centro histórico têm algo único e cada vez mais raro em Portugal… Permanecem praticamente intactas… E mesmo os edifícios que foram sendo introduzidos na linha de muralha, mantiveram o estilo e foram integrados nela, não se perdendo nunca uma identidade, que mais do que uma atração para turista ver e admirar, representa de forma bastante fiel como era Trancoso noutras épocas e como a vida ali se organizava. Além disso, e como muitas outras aldeias históricas da nossa região, a presença judaica é muito demarcada, sendo um dos principais pontos de turismo judaico em Portugal, e portanto repleta de marcas da cultura judaica por todo o lado: nas paredes, nos caminhos, nos recantos… É uma presença que se sente constantemente e que já faz parte da existência de Trancoso e sempre fará. Foi exatamente por esta enorme quantidade de registos que surgiu há praticamente 10 anos o Centro de Interpretação Isaac Cardoso no concelho, com o objetivo de recolher e registar todo este património, tanto material como imaterial, da comunidade judaica de Trancoso.

Para ver e visitar, as opções são imensas e muito centradas naquilo que é o património histórico da cidade, embora a mesma tenha também um extraordinário património natural que deve ser visitado e preservado, pela sua importância e cada vez mais (infelizmente) raridade. Repleta de capelas e igrejas de vários estilos e épocas (Sant Eufémia, Santa Luzia, São Bartolomeu, Senhor da Calçada, Senhora da Fresta, S. Pedro, Santa Maria de Guimarães, Misericórdia etc.), tem também casas senhoriais impressionantes e que demonstram a riqueza de outros tempos de um Interior do país que era na altura centro de Portugal e não zona relegada do poder central. O Solar dos Saraiva de Sampaio, a Casa do Gato Preto, Villa Cruz, a Casa dos Arcos, o Palácio Ducal ou a própria Casa Quartel-General Beresford (utilizada por este general e pelas suas tropas aquando da III Invasões Francesas), são apenas alguns exemplos disso mesmo. Depois, impossível de esquecer ou não referir tanto os núcleos de sepulturas como o castelo. A primeira referência a este surge no ano de 936, e foi palco de imensas batalhas, tendo ainda uma forte influência muçulmana que chegou a tomar o castelo noutros tempos. A sua Torre de Menagem, pela sua antiguidade e por se encontrar extremamente bem preservada, é considerada um dos pontos mais importantes da arquitetura militar portuguesa. Outro ponto que não passa despercebido a ninguém é a enorme tília que ganha forma no largo da Igreja de Santa Maria de Guimarães. Com mais de 22 metros de altura e quatro metros de perímetro na base (espante-se bem!), a árvore já tem mais de cento e quinze anos de idade e está classificada por isso como Árvore de Interesse Público há 17 anos. Um bom exemplo de como o património natural deve ser protegido e valorizado, podendo transformar completamente uma paisagem urbana e trazer-lhe uma magia especial e única.

Para finalizar a sua viagem, deixamos-lhe outra paragem mais que obrigatória: a Casa da Prisca, mesmo na entrada principal da muralha do centro histórico. A pequena loja desta reconhecida empresa de enorme qualidade, tem à sua disposição um vasto leque de produtos tradicionais, para consumir e experimentar, ou mesmo para levar para oferecer a quem contou onde vinha. A recomendação vai direitinha para as Sardinhas Doces de Trancoso! O que são? Terá de vir para descobrir, saborear e gostar tanto que terá de levar uma caixa de seis unidades. Ou várias!

- 02 jun, 2021
- Fernando Gil Teixeira