Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

À Conversa Com... Ricardo Teixeira, ator profissional com Al Berto no rosto Voltar

Ricardo Teixeira é ator e ficou conhecido pela interpretação em Al Berto. Com muitos projetos na calha, vem à Covilhã representar no Contradança e falou connosco sobre este mundo

Desde quando és ator? Como começou?

Apesar de ter iniciado o meu percurso artístico aos 14 anos no Balleteatro Escola Profissional do Porto e me ter licenciei na Escola Superior de Teatro e Cinema (ramo atores - 2013) penso que só me “formei” enquanto ator quando saí da Academia, quando comecei a fomentar e a criar os meus próprios projetos e colaborações.

 

O que significa o teatro para ti?

Costumo ouvir muitas vezes que “O Teatro é a vida”. E não podia estar mais de acordo. O lugar do teatro é o lugar do mundo e das suas problemáticas. Na minha ótica, o Teatro é um espaço cheio de possibilidades, um espaço onde faz sentido colocarmos questões, debatermos ideias e nem sempre darmos respostas. A interrogação é um dos meus lugares favoritos.

 

Conta-nos mais sobre o teu percurso no teatro.

Como já referi, estudei no Balleteatro e licenciei-me na ESTC. No 2º ano da licenciatura fundei o Coletivo de Teatro SillySeason juntamente com outros colegas. Sentia necessidade de me afastar do que a Academia me tinha fornecido e ansiava por colocar em prática discursos que me inquietavam. Fui testando, errando, e percebendo quem é que eu era artisticamente e humanamente. E é por aqui que quero continuar a andar, no teste e na falha.

E o novo projeto do SillySeason fala-nos mais sobre ele.

Isto pode parecer um bocadinho arrogante, mas quando me fizeste esta pergunta automaticamente pensei “qual deles”? (risos). Os SillySeason estão numa fase bonita. Sempre numa luta constante connosco próprios, com o sistema, com as fragilidades cada vez mais gritantes no nosso setor mas mesmo assim temos permanecido juntos e temos tido o privilégio de continuar a trabalhar nestes tempos tão difíceis que estamos a vivenciar. Estamos em fase de preparação de um novo espetáculo (Hotel Paraíso), que tem estreia no Teatro Municipal Baltasar Dias (Funchal) e reposições em vários pontos do país, uma performance no Festival ContraDança (na Covilhã), vamos abrir um dos festivais de teatro que mais me entusiasma em Portugal com o espetáculo FORA DE CAMPO (ainda não podemos adiantar mais), uma curadoria em Lisboa, entre outros coisas. São quase dez anos de muitas conquistas e muitas derrotas. Mas o balanço é muito positivo. “Fazia tudo outra vez se fosse preciso”

 

Para além do teatro, o teu percurso como ator teve um ponto muito alto com o filme Al Berto, um sucesso na televisão portuguesa. Como foi representar uma pessoa tão importante e com uma personalidade tão especial?

Foi sem dúvida uma responsabilidade. O Al Berto é um ser luminoso, com um talento fora de série e um universo único. Quando recebi este convite por parte do realizador Vicente Alves do Ó uma das premissas que estabeleci para mim próprio é que não poderia ter a pretensão de criar uma cópia do Al Berto. É impossível. O que tentei foi aproximar-me o máximo possível do seu universo, das suas lutas e criar uma bagagem que me permitisse falar e relacionar-me com questões da sua vida pessoal e profissional. Foi isso que tentei imprimir na minha interpretação no filme Al Berto. Há espetadores que perceberam a minha “missão” e outros que preferiram ficar pela comparação dos sotaques, a cor dos olhos, etc. Mas isso são já é outra história. É um orgulho quando por vezes passam por mim e dizem: ”Olha o Al Berto”. Porque o Al Berto é sinónimo de revolução e eu, gostava de ao longo da minha vida, fazer pelo menos, metade das coisas boas que ele fez.

 

É certamente um mundo muito difícil para se lançar pela primeira vez. Que conselhos darias aos mais jovens que estão agora a começar?

O único conselho possível é ir, arriscar. Se é algo que querem realmente fazer é arriscar. Não há lugares seguros.

 

Quais são os principais desafios na construção/definição de como representar uma personagem que recebes. Como consegues entrar no espírito da mesma?

É relacionar-me com a sua vida ou a sua obra. Não sou tanto daqueles atores que se preocupam em construir uma voz, ou uma fisicalidade específica para cada personagem. O que realmente me interessa é perceber quais é que são as questões que levanta esse indivíduo, que problemáticas é que posso trazer “à baila” através do discurso daquela personagem.

 

Perfil

O favorito: teatro ou Cinema? Não me consigo decidir

Monólogos ou diálogos? Diálogos

Óscares com quotas para minorias sociais, sim ou não? Deve haver sempre o máximo de representatividade possível em todos os lugares

Cinema de autor ou blockbuster? Cinema de autor

Um livro – livros do José Gil

Um filme – A Ghost Story do David Lowery

Um prato – Francesinha feita pelas mãos do meu pai

Uma inspiração – A Coragem (presenciar atos corajosos é uma grande fonte de inspiração para continuar a viver)

 

- 11 mai, 2021
- Fernando Gil Teixeira