Diretor: Vitor Aleixo
Ano: XI
Nº: 587

Renascer Covilhã: um projeto para a década Voltar

Não, não se trata de uma consigna para uma qualquer candidatura às próximas eleições. É muito mais do que isso, embora não deixe de estar associada a essa próxima conjuntura eleitoral. Diria que é acima de tudo um desafio aos candidatos e às candidaturas. Creio que, realmente, a próxima década vai ser desafiante para a nossa Cidade e para o nosso Concelho. Não pode ser desperdiçada, até porque os Programas Financeiros – europeus e nacionais – ao que tudo indica, vão ser volumosos. A Cidade e o Concelho têm de ser pensados e debatidos nas próximas eleições autárquicas, que, por isso mesmo, assumem especial relevo.

As Cidades, como as Nações, passam por fases de grande florescimento, às quais, frequentemente, se seguem períodos de estagnação ou de crise, para, por fim, num processo dialéctico, renascerem. Hoje, a Covilhã mergulhou na estagnação, eu quase diria que está amorfa, sem sentido, sem saber o que quer nem para onde vai. Mas já teve ricos períodos de florescimento, de enorme vitalidade e criatividade a todos os níveis. E sempre, liderando esses períodos de florescimento, estiveram líderes muitos deles carismáticos. Não vou enunciar aqui os seus nomes, tantos foram. Foram «gerações» que souberam colocar a Cidade, o Concelho e o seu povo acima de tudo. Não é o caso agora, recuando até décadas atrás. Estarão os actuais e futuros responsáveis autárquicos à altura dos desafios tremendos que confrontam a Covilhã? Haverá mulheres e homens à altura desses desafios, o que implica que tenham, antes de um rol imenso de «medidas» plasmado em um sem número de folhas coloridas a que chamam «Programa», uma Visão ambiciosa para a Cidade e o Concelho? Habitualmente começam por onde não deviam, pelas “medidas”, quando deveriam começar pela Visão, depois o Programa contendo as medidas. O que têm feito é o que se chama «mais do mesmo». Ainda me recordo de uma candidatura em 2017 que apresentou uma lista de para aí uma centena de «medidas», todas desgarradas e sem qualquer nexo entre si. Dispensamos esse “mercado de medidas”…Por favor, mudem de mentalidade!

A Covilhã tem dez anos para renascer. E a ideia mestra deverá apontar para uma Cidade a que eu chamo, enquanto cidadão e covilhanense, Cidade do «Bem Viver». Mais do que «viver bem», os cidadãos querem uma cidade onde possam trabalhar em empregos de qualidade e bem remunerados. Querem uma Cidade Sustentável. O que implica que a Cidade, que é uma realidade viva, seja incrustada e não separada – à boa maneira do Paradigma Cartesiano e Newtoniano – num Ambiente Saudável, descarbonizado, limpo. Querem uma Cidade incrustada também na Sociedade, que não remeta as pessoas para os guetos das periferias, não só geográficas mas também existenciais. Uma Cidade, enfim, sem o urbanismo que temos tido: largas avenidas rasgadas em função de três ou quatro Grandes Superfícies e em função do mundo dos negócios, das imobiliárias e dos chorudos montantes do IMI e do IMT. Chamaram a isso, pomposamente, “Grande Covilhã”, talvez em contraponto e em contraste com a “Pequena Covilhã” das periferias.  Querem uma Cidade – a Covilhã do Futuro – que disponha das condições de acessibilidade e, portanto, de mobilidade, mas de uma Mobilidade Descarbonizada – que proporcione a todas e a todos o acesso gostoso aos bens da civilização, incluindo ao valor altamente estimável da Convivialidade e da Cultura. Os homens e as mulheres da Covilhã querem viver e usufruir das suas vidas em habitações confortáveis, sem humidade, o que talvez implique, só por si, um Plano Social de Habitação, a começar pela reabilitação dos Bairros, à semelhança do que, felizmente, já está sendo feito em alguns casos no âmbito do Programa dos Bairros Saudáveis. Querem que acabe de vez a pobreza energética e com custos da factura da água e do saneamento que estejam ao acesso de todos e de cada um dos seus munícipes. Querem que a Covilhã do Futuro seja uma Cidade da Cultura e de Cultura, o que nos conduz ao Teatro Municipal que, embora programado para ser inaugurado em função das próximas eleições, à boa maneira da “Política Velha”, construa e realize, sob a égide de um profissional credenciado em Programação Cultural – e não mais um «boy» recrutado entre os amigos das «maiorias» - Agendas Culturais que chamem a si todos os covilhanenses, sem excepção. É também aqui que se articula Mobilidade com Acessibilidade. A Covilhã do “Bem Viver” tem ainda de se apetrechar com um sistema concelhio de Saúde, robusto, resiliente e próximo das pessoas, capaz de enfrentar as (futuras) novas pandemias. Covilhã: uma Década para Renascer!

- 11 mai, 2021
- António Assunção